São Paulo
Arquitetura
Paixão por arquitetura e histórias: imobiliária foca em público que busca lugares únicos para viver
Apartamento vendido na Refugios Urbanos no icônico Edifício Copan: assinaturas de peso agregam valor ao imóvel. | Refúgios Urbanos/Divulgação
Prédios icônicos, casas assinadas ou um simpático apartamento em um predinho? Ou, uma área externa completa é o que mais importa? Não é comum vermos imobiliárias que descrevem um anúncio de venda com detalhes. Na maioria das vezes, impera a mentalidade de "varejo", que descreve as condições básicas do imóvel, o número de cômodos e o preço.
Mergulhar na história de pessoas que estão procurando um apartamento para comprar - ou vender - foi uma das premissas do ítalo-brasileiro Matteo Gavazzi para fundar a Refúgios Urbanos, imobiliária de São Paulo que busca atender a um público interessado por arquitetura e que faz questão de viver em um lugar único.
Com mais de 2 mil imóveis cadastrados (a Refúgios trabalha apenas com venda) e cerca de 30 associados que fazem a intermediação, o primeiro diferencial de quem topa com o site da imobiliária, fundada em 2013, é a riqueza de detalhes do anúncio, que reúne desde informações sobre arquitetos e designers envolvidos, detalhes do apartamento ou casa e entorno. "São Paulo é uma grande cidade feita de prédios, e a beleza está no que está construído. Por isso nossa ideia é popularizar o interesse pela arquitetura e história da cidade", diz um dos sócios, Octavio Pontedura, que é engenheiro civil de formação.
Paralela à imobiliária, na mesma época Matteo lançou uma página no Facebook, chamada "Prédios de São Paulo"; a catalogação independente de mais de 300 prédios marcos da arquitetura paulistana foi reunidos em três livros, editados de maneira independente, feita por financiamento coletivo.
Outro projeto é o Instagram "Predinhos de SP", criado por uma das consultoras da Refúgios Urbanos, Bel Herbetta. "Os projetos paralelos são uma paixão, porque queremos levar o assunto para as pessoas de uma forma leve e não acadêmica. Mas nossa principal função é a intermediação de imóveis", ressalta Octavio.
Nem todos os apartamentos são exatamente localizados em prédios icônicos, mas o portfólio filtra e valoriza aspectos que podem auxiliar na busca dos clientes.
"Tínhamos um perfil de cliente que eram ou arquitetos ou profissionais da área de criatividade, como cineastas, artistas plásticos. Hoje a nossa atuação é mais ampla e estamos em regiões que não há tanta arquitetura relevante, mas tratamos os imóveis que estão na nossa vitrine de maneira individualizada. A interação entre o cliente e corretor é feita de modo muito particular e super dedicada com as demandas do cliente, que é atendido por pessoas que têm conhecimento de causa", destaca o sócio.
Outra curadoria realizada pela refúgios é a "topo reforma"; são achados que necessitam de repaginação, mas que compensam pelo custo-benefício (esse perfil de apartamento costuma ser mais barato). "Tem o encontro da personalidade da pessoa com o imóvel, quando ela entra e diz: é isso que eu quero. E aí ela consegue ver o potencial e faz mega reformas, que deixam a equipe toda super apaixonada e vira um lugar com a marca da pessoa", salienta Pontedura.
O valor da assinatura
Segundo Octavio Pontedura, uma boa arquitetura de um prédio ou apartamento ainda não é um fator para valorização do imóvel em termos financeiros; os preços seguem muito a lógica do que é empregado em determinada região da cidade e leva em conta as características de conservação, por exemplo. No entanto, existe o que ele chama de prédios de São Paulo que são "universos em si mesmo": O Copan, projeto de Oscar Niemeyer no centro da capital paulista; o Bretagne, de João Artacho Jurado em Higienópolis, bairro aliás que concentra vários ícones da arquitetura modernista, e o Louveira, projeto de João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi.
Em clientes atraídos sobretudo pela assinatura, há aspectos que outros perfis rejeitariam, como vagas de garagem, por exemplo: prédios como o Cinderela, também de Artacho Jurado, não contam com estacionamento em todas as unidades, e isso ocorre em vários prédios icônicos. "Nesses casos os prédios viram objeto de desejo e isso acaba se tornando irrelevante. Esses edifícios, quando se compara o preço com prédios do entorno, o valor é mais alto, justamente pela assinatura".