Arquitetura

Palco de travessia aérea misteriosa, prédio que testemunhou crescimento de Curitiba completa 70 anos

Luciane Belin*
10/12/2018 09:52
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Foto: Reprodução

O hall de entrada do Edifício Marumby, localizado na Praça Santos Andrade, exibe uma grande fotografia datada do ano de 1952, que retrata um equilibrista caminhando sobre uma corda, saída do topo daquele mesmo prédio.
Quem seria este homem e para onde ele estaria indo? Curitibanos que se recordam do ocorrido sugerem que o aventureiro pertencia ao grupo de acrobatas alemães Zugspitz Artisten, que na década de 1950 se apresentou em diferentes locais da cidade. “Eles fizeram várias apresentações em Curitiba na época, lembro pois não eram muitos os arranha-céus que, na época, davam essa possibilidade”, recorda o professor e arquiteto Key Imaguire sobre uma Curitiba que apenas começava a crescer rumo ao céu.
O destino do caminhante também não é muito claro. Na época, o Teatro Guaíra ainda estava em construção. O palpite de quem lembra da cidade de então e o ângulo de saída da corda sugerem que ele somente poderia estar atravessando a quadra onde hoje está o teatro para chegar ao Edifício Copacabana, único prédio da região que, à época, já fazia companhia ao Morumbi com altura suficiente para manter a corda na horizontal, sem inclinação.
Fachada do edifício residencial Marumbi, localizado na lateral da Praça Santos Andrade. Foto: André Rodrigues
Fachada do edifício residencial Marumbi, localizado na lateral da Praça Santos Andrade. Foto: André Rodrigues
Na época, o Marumby era quase uma atração turística. Batizada em homenagem ao conjunto de montanhas Marumby — que então muitos acreditavam conter o ponto mais alto do Paraná — a edificação tinha exatamente esta ambição: a de ser o prédio mais alto da cidade e o primeiro dedicado exclusivamente para uso residencial — exceto pelas peças do térreo, que são comerciais.
Projetado por Romeu Paulo da Costa e construído pela Gutierrez, Paula & Munhoz, o edifício inaugurado em 1948 carrega referências trazidas pelo arquiteto do período em que morou na França e incorpora algumas referências do modernismo. “Era o final do art decó e começo do modernismo, quando se tem linhas retas e não se tem mais nada de ornamentos. É um exemplar pioneiro do modernismo, traz uma planta com bastante funcionalidade e tem estrutura de concreto. O prédio veio para consagrar o modernismo da cidade”, diz o arquiteto Salvador Gnoatto sobre o Marumby.
Fachada do edifício residencial Marumbi, localizado na lateral da Praça Santos Andrade. Foto: André Rodrigues
Fachada do edifício residencial Marumbi, localizado na lateral da Praça Santos Andrade. Foto: André Rodrigues
Presença marcante na esquina das ruas Conselheiro Laurindo e XV de Novembro, o prédio tem 12 andares de quatro apartamentos cada, todos com pé direito alto, dois dormitórios e, em algumas unidades, varanda.
“Ele é um elemento importante da paisagem da Santos Andrade, que ainda não é tão valorizada como centro histórico, mas que merece ser apreciada, tem os primeiros edifícios modernos, o Teatro Guaíra, a sede da Universidade Federal e, na outra esquina da Rua XV de Novembro tem ainda o edifício do INSS que é um projeto do carioca Ulysses Petrônio Burlamaqui, que, assim como o Romeu, é um pioneiro modernista”, diz Gnoatto.
Modernismo na porta de entrada. Foto: André Rodrigues
Modernismo na porta de entrada. Foto: André Rodrigues

Um edifício com memória

Em seus 70 anos de pé, o que não falta ao Marumby são boas histórias, que vão além da travessia dos acrobatas alemães. Durante anos, o piso térreo foi sede do Departamento de Obras e Viação de Curitiba, abrigando setores como a Divisão de Pavimentação e a Divisão de Limpeza Urbana. Mais tarde, recebeu ainda lojas como as Livrarias Curitiba.
Herança de um período de instabilidade internacional, o projeto original conta com um abrigo aéreo. “Como o Brasil já havia se envolvido com a Segunda Guerra, o projeto do prédio contava com um bunker, para o caso de a Alemanha vencer a guerra e bombardear o Brasil. Mais tarde, a livraria usou este espaço como depósito”, recorda Imaguire.
Foto: André Rodrigues
Foto: André Rodrigues
A arquiteta Lauri Costa, filha de Romeu Costa, revela que este era um dos projetos mais importantes para o pai, que, entre suas obras, assinou os projetos do Colégio Estadual do Paraná, do Colégio Barão do Rio Branco e da Biblioteca Pública do Paraná, além de participar da criação do próprio Teatro Guaíra.
“Foi um dos seus primeiros trabalhos e a verticalização estava se iniciando em Curitiba. Então fazer edifícios “altos” era uma experiência profissional marcante. Ele se orgulhava dessa obra, fez fotos, e sempre que passávamos por ele Romeu fazia comentários”.
*Especial para Haus

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