Arquitetura

Para degustar e relaxar: 5 charutarias com decoração inspiradora e sensorial

Luciane Belin*
18/02/2019 21:30
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Foto: Celso Pilati

Temperatura agradável para os frequentadores, mas também apropriada para os charutos. Poltronas e cadeiras ergonômicas e confortáveis. Iluminação aconchegante e o ambiente livre de odores para que os visitantes possam transformar o momento da degustação em sua melhor hora do dia: a do relaxamento.
O hábito de fumar charutos vem ganhando espaço entre fumantes que, aos poucos, substituem os cigarros por uma alternativa mais focada no prazer da fruição. Atentas a essa transformação e percebendo que estão em um mundo onde pessoas buscam por experiências valiosas, as tabacarias e charutarias vêm apostando em espaços que concentram facilidades para otimizar a sensação de degustar um bom charuto.
Separamos cinco projetos de tabacarias que investem em recursos nos ambientes para tornar esse momento mais agradável aos clientes.

Tradição na degustação

Diz-se que, quando velhos e mal armazenados, os charutos perdem o bouquet – o aroma que denota a boa qualidade do produto. No entanto, não é o que acontece com as charutarias, já que o passar do tempo parece contribuir apenas para melhorar os espaços.
Em Curitiba, a Tesoros de Cuba é o exemplo de que o passar do tempo permite agregar valor ao espaço. A charutaria tem duas unidades na capital paranaense – uma na Rua Comendador Araújo, outra na Avenida Munhoz da Rocha. Com 21 anos de história, a primeira é uma das mais tradicionais da cidade e oferece 110m² de área para os clientes, que também podem utilizar o espaço externo da calçada, próximo à Rua 24 Horas.
Na Tesoros de Cuba, a atmosfera é clássica e o projeto luminotécnico cria um ambiente intimista.
Na Tesoros de Cuba, a atmosfera é clássica e o projeto luminotécnico cria um ambiente intimista.
O projeto originalmente assinado pela arquiteta Judy Nunes foi atualizado com uma reforma em 2016 de Bianca Decker, que buscou ressaltar alguns aspectos tradicionais da casa, mas trazendo uma nova pegada.
“A Tesoros de Cuba segue uma linguagem bastante clássica, ao melhor estilo de bar inglês. O projeto luminotécnico foi pensado para criar uma atmosfera intimista, e traz cores quentes variando entre o verde oliva e o vermelho sobre bases neutras de cinza ou marrons, conferindo sensação de aconchego”, detalha a arquiteta, que completa: “O tom do vermelho foi testado até ficar o mais fiel possível às cabines telefônicas de Londres, a pedido dos proprietários”.
Para adequar o ambiente à Lei Antifumo, a reforma também isolou os espaços utilizados pelos funcionários e buscou melhorar a circulação dos clientes e colaboradores entre os diferentes ambientes.
Charutaria Tesoros de Cuba.  Fotos: André Rodrigues
Charutaria Tesoros de Cuba. Fotos: André Rodrigues
Tornando o espaço mais amplo e funcional, a reforma produziu, segundo o proprietário da Tesoros de Cuba, Rafael Ghignone, uma integração do bar com a área externa que permite maior interação nas noites em que são feitas apresentações musicais ao vivo. “Tínhamos uma ilha no meio da loja e agora abrimos o espaço, ampliando a parte externa”, diz ele.
Para garantir a comodidade e a circulação do ar, poltronas confortáveis estão espalhadas pelo ambiente, que traz um completo e amplo umidor para os charutos, com recursos como exaustão e climatização.

Cedro rosa: coadjuvante com protagonismo

No O Bodegueiro o umidor é do tipo walk-in com 7m² de área e feito em madeira e cedro rosa. Foto: Renata Alves
No O Bodegueiro o umidor é do tipo walk-in com 7m² de área e feito em madeira e cedro rosa. Foto: Renata Alves
Escolha unânime nas tabacarias para garantir conservação adequada dos charutos no que se refere à umidade e à temperatura, a madeira de cedro rosa aparece em todos os projetos arquitetônicos de charutarias. “O cedro vai nos móveis, onde o produto é condicionado, nas prateleiras e nos armários. Existem algumas peculiaridades referentes ao local de exposição, questões como o controle de umidade do ambiente, e o cedro é o material que melhor conserva as características naturais do charuto”, explica Fábio Aguiar, arquiteto que assinou o projeto da charutaria O Bodegueiro, de Curitiba.
Com piso vinílico e divisórias de vidro, o espaço reforça o conceito de integração, agregando recentemente um umidor do tipo walk-in com 7m² de área. Na decoração, elementos tradicionais são aliados a marcadores mais contemporâneos, de forma que o projeto não fique limitado ao público tradicional.
Umidor da chuarutaria O Bodegueiro investe em Cedro Rosa. Foto: Renata Alves
Umidor da chuarutaria O Bodegueiro investe em Cedro Rosa. Foto: Renata Alves
“A tabacaria também é frequentada por um público mais jovem, e o projeto também está atento a isso, oferecendo algo mais prático. É preciso ter sensibilidade de testar ideias com charme, elegância, em uma tendência mais contemporânea, despojada e moderna”, sugere Aguiar.

Cores e quadros

Um espaço de 100m² que abriga uma charutaria, um bar e uma cafeteria. Para atender um público majoritariamente masculino, a Varadero traz um espaço para venda de acessórios e duas salas para degustação de charutos – uma delas com espaço para reuniões.
O umidor, do tipo walk-in, é feito em cedro rosa para conservar a umidade adequada dos charutos. O chão quadriculado ajuda a quebrar o tradicionalismo do ambiente, aliado a uma decoração em vermelho, bordô, marrom, preto, branco e bege, em uma paleta proposta pela arquiteta Ana Letícia Virmond, responsável pela decoração do espaço.
Foto: Leticia Akemi
Foto: Leticia Akemi
Inaugurada há 16 anos, a Varadero teve seu espaço pensado para integrar, mas também isolar os espaços quando necessário, de acordo com o proprietário do local, Milton Prado da Cruz. “Como a maioria dos charuteiros de Curitiba se conhece, normalmente as pessoas preferem se sentar juntas e conversar, são amigos. Mas, se recebemos um grupo que busca por mais privacidade, eles podem optar pelo fechamento do espaço”.
O isolamento também se justifica pela circulação do ar e conservação dos produtos. “As salas de degustação são totalmente isoladas, possuem ar-condicionado e exaustor, e a fumaça é eliminada com filtros. No umidor, não trabalhamos com ar-condicionado para não prejudicar os charutos e manter a umidade e temperatura”, detalha.
No espaço de 100m², assinado pela arquiteta Ana Letícia Virmond, a Varadero abriga uma charutaria, um bar e uma cafeteria.
No espaço de 100m², assinado pela arquiteta Ana Letícia Virmond, a Varadero abriga uma charutaria, um bar e uma cafeteria.

Oásis num deserto do consumo

Deixar o restante do mundo do lado de fora, concentrando-se somente em aproveitar o momento e degustar um bom charuto exige que o ambiente consiga transportar o indivíduo para uma nova realidade. Como resolver essa questão quando o endereço da charutaria é um ambiente marcado pela movimentação constante?
Esse foi o desafio da arquiteta Juliana Bassani, do Estúdio Obra Prima, que assina o projeto do Espaço Baltoro, inaugurado em dezembro no Pátio Batel, em Curitiba. “Queríamos criar um ambiente que trouxesse aconchego para o usuário, que fosse uma grande sala de estar, mas sem a ideia de entrar em uma loja”.
Na Espaço Baltoro, a ideia foi trazer aconchego ao usuário.
Na Espaço Baltoro, a ideia foi trazer aconchego ao usuário.
A solução foi utilizar madeira de diferentes tipos, em tom natural, combinada com toques de preto, criando o aspecto que remete a uma grande biblioteca. O ambiente de dois andares com capacidade para 60 pessoas ostenta um mezanino destinado aos fumantes, criando uma área reservada.
O pé-direito alto facilita a circulação do ar e é preenchido com elementos de decoração que incluem uma grande rede com folhas de tabaco desidratadas e um mobiliário único e cheio de história.
Espaço Baltoro aposta em madeira e móveis antigos garimpados para dar personalidade ao projeto. Foto: Celso Pilati
Espaço Baltoro aposta em madeira e móveis antigos garimpados para dar personalidade ao projeto. Foto: Celso Pilati
“Utilizamos peças encontradas em antiquários no Brasil e no Uruguai – a poltrona, o sofá, a mesa do umidor, o balcão, são todas peças únicas que garimpamos. É o caso de uma poltrona de couro vermelho chesterfield, antiga, com pés de madeira talhada, que dá um charme ao ambiente”, contou a arquiteta. O espaço também recorre a um sistema de isolamento e filtragem do ar com backups, para garantir que a fumaça dos charutos não chegue aos corredores do centro comercial.

Um século de tradição

Uma das mais antigas do Brasil, a charutaria Caruso foi fundada em 1885, e é conhecida pelos frequentadores de tabacarias por sua tradição. No novo endereço, Avenida Horácio Lafer, no Itaim Bibi, em São Paulo, está há apenas quatro anos.
Uma das mais antigas do Brasil, Caruso é dividida em vários ambientes. Foto: Ricardo Bassetti
Uma das mais antigas do Brasil, Caruso é dividida em vários ambientes. Foto: Ricardo Bassetti
Para garantir que refletiria toda a história do negócio familiar, o projeto desse novo espaço, desenvolvido pelas arquitetas Andrea Lucchesi, Carolina Razuk e Merê Esteves, da Mestisso Arquitetura & Interiores, levou quase uma década para ser elaborado e teve cada centímetro executado para deixar o cliente à vontade.
“Optamos por pisos de madeira, acabamento em couro, ambiente com pé-direito alto e materiais em que o cheiro não fica impregnado, como o aço e o próprio couro”, explica o proprietário da charutaria, André Caruso. Um umidor walk-in com 20m², feito de cedro rosa e revestido com outros tipos de madeira, é conservado com a ajuda de dois umidificadores e termostato para manter as condições adequadas.
Foto: Ricardo Bassetti
Foto: Ricardo Bassetti
Uma reforma no prédio demoliu o andar superior, aumentando o pé-direito e eliminando alguns pilares ao adotar reforço estrutural, possibilitando a criação de uma vitrine entre os dois espaços. O projeto conta também com uma barbearia integrada ao espaço.
“Dividimos o salão do clube de charuto em três espaços: sala de reunião, salão principal e sala vip, com a possibilidade de integração dos espaços. Na sala de reunião temos painéis deslizantes de madeira laqueada que trazem essa possibilidade de integração ou não dos espaços. Na sala vip, as portas de correr em vidro seguem a mesma ideia. A iluminação é toda de lâmpadas de LED com exceção das fluorescentes existentes nas sancas”, explica a arquiteta Merê Esteves.
Uma redução na área da cozinha abriu mais espaço para a loja, um lavabo e o umidor. O piso de madeira Cumarú utiliza paginação em espinha de peixe e a marcenaria é feita em folha de madeira Imbuia Clara, formando uma composição com as paredes de cimento queimado.
Madeira, couro, aço foram os materiais predominantes no ambiente do Caruso, que lançou uma poltrona própria. Foto: Ricardo Bassetti
Madeira, couro, aço foram os materiais predominantes no ambiente do Caruso, que lançou uma poltrona própria. Foto: Ricardo Bassetti
Uma bancada em mármore Slimstone usa a iluminação para conferir elegância e presença ao salão principal, assim como as bancadas em granito São Gabriel com acabamento levigado. “Na parte do clube, especificamos a cor marrom que conversa bem com as tonalidades das madeiras. Trouxemos o cimento queimado para dar uma quebra nos tons terrosos e também uma clareada. No mobiliário optamos por couro preto envelhecido junto com o couro caramelo envelhecido, criando um equilíbrio entre o claro e escuro”.
A curadoria das obras de arte da Caruso foi feita pela Galeria Caribé e o projeto de jardinagem é de Bruna Lucchesi.
*Especial para Haus.

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