Dia Nacional do Patrimônio Histórico

Arquitetura

Patrimônio histórico cultural: identidade e memória

Norton Frehse Nicolazzi Jr.*
17/08/2022 11:36
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Círio de Nossa Senhora de Nazaré é um dos patrimônios imateriais brasileiros tombados pelo Iphan.


mais de quinze anos, acompanhei estudantes do Ensino Médio em uma viagem de
intercâmbio cultural à cidade de Himeji, no Japão. Numa visita a um templo
religioso chamou-me a atenção o fato de que ele é periodicamente desmontado e
remontado. O motivo? Assim, as novas gerações podem compreender o empenho de
seus ancestrais e valorizar suas heranças.
A mesma viagem rendeu outro aprendizado, esse na cidade de Hiroshima. Ali, preservam-se as ruínas da Cúpula Genbaku, edifício que permaneceu praticamente intacto após a explosão da bomba atômica, em 6 de agosto de 1945. As ruínas, hoje preservadas como memorial do bombardeio, estão registradas como Patrimônio Mundial da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Tendo
trabalhado por dois anos no Setor de Patrimônio Histórico do IPPUC – Instituto
de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, asseguro que a experiência em
terras nipônicas me surpreendeu. Afinal, nas tropicais terras brasileiras, o
cuidado com a História, com a memória e com o patrimônio anda a passos lentos.
Por
aqui, invariavelmente relacionamos o termo patrimônio histórico ao conjunto de
bens materiais, naturais ou imóveis que possuem significado e importância
artística, cultural, religiosa, documental ou estética, relacionados a aspectos
do passado.
Ao
empregarmos esse termo, o que vem à mente são os grandes edifícios, na maioria
de uso público, que permanecem como imensos blocos monolíticos, dado seu
elevado grau de imobilidade. Também é comum associarmos o termo às obras de
arte e monumentos feitos pelo poder público e agências de fomento cultural para
criar uma ideia sobre o passado, assegurando uma visão homogênea da História.
Resumindo, a concepção usual de patrimônio é a de patrimônio material, que remete a algo cristalizado, congelado, distante demais de uma dinâmica histórica. Assim, a ideia que o patrimônio transmite não condiz com sua natureza, que é a da preservação da memória coletiva, entendida como uma dimensão fundamental da identidade dos indivíduos tomados em coletividade.
Por isso, e mais ainda deste 17 de agosto, data em que se celebra o Dia Nacional do Patrimônio Histórico, devemos ampliar o conceito de patrimônio histórico cultural, expandindo-o para além das edificações, das manchas urbanas, das obras de arte e outros bens materialmente visíveis e palpáveis. Para o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –, o patrimônio histórico cultural constitui-se no patrimônio material e imaterial.
Na
prática, a ampliação do conceito é tarefa árdua, pois a ideia/conceito de
patrimônio cultural está distante do cotidiano vivido. A impressão é de que ele
está afastado das experiências e vivências das “pessoas comuns” e que, apesar
de importante, esse assunto não lhes diz respeito.
E
só é possível identificar e reconhecer um patrimônio cultural a partir do
momento em que ele é conhecido enquanto ideia e conceito, passível de ser
apreendido e vivenciado por todos os integrantes da sociedade. É aí que uma
educação patrimonial se mostra urgente. Ela precisa primar pela construção
coletiva do conhecimento, pelo diálogo entre os agentes sociais e pela
participação efetiva das comunidades detentoras das referências culturais em
que convivem noções plurais do que é esse patrimônio.
É
em prol da afirmação das múltiplas identidades culturais e de uma contínua
melhoria na qualidade de vida de todas as pessoas que consideramos a
preservação e a educação patrimonial como um dos degraus para alcançarmos a
cidadania plena. Ela nos permite ser cidadãos conscientes de nossos papéis
enquanto sujeitos históricos e quiçá, assim, como acontece no longínquo Japão,
as novas gerações compreendam o empenho de seus ancestrais e valorizem suas
heranças.
*Norton Frehse Nicolazzi Junior é mestre em História, especialista em Ensino e Cultura Contemporânea e coordenador do Núcleo de Evolução de Conteúdo do Sistema Positivo de Ensino.

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