Arquitetura

Patrimônio histórico e natural do PR corre risco. Entenda o porquê

Luan Galani
05/05/2017 20:36
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Escarpa Devoniana, que ainda não teve processo de tombamento concluído. Foto: Divulgação

Grandes nomes do patrimônio histórico e artístico do Paraná pediram renúncia coletiva na tarde desta quinta-feira (4) em carta aberta ao governador Beto Richa (PSDB). Dos 20 especialistas que integram o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Cepha) em caráter voluntário (sem qualquer tipo de remuneração), 17 pediram para sair para chamar atenção para a “equivocada política cultural […] da atual gestão”, que coloca o patrimônio natural e histórico do Paraná em perigo, como consta no documento.
Alguns dos conselheiros foram pessoalmente entregar a carta de renúncia coletiva ao governo do estado. Foto: Divulgação
Alguns dos conselheiros foram pessoalmente entregar a carta de renúncia coletiva ao governo do estado. Foto: Divulgação
Assinam a carta autoridades do patrimônio, entre elas Key Imaguire Jr., que também é colunista de HAUS; José La Pastina Filho, um dos nomes mais respeitados no cenário local e ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Paraná; e Roseli Boschilia, historiadora da UFPR dedicada a estudar questões de memória, imigração e identidade.

Veja o documento original na íntegra

Confira 4 motivos de ‘tirar o sono’ sobre a atual situação do patrimônio do PR

1-Opinião técnica não é mais levada em conta

Foto: Pixabay/Divulgação
Foto: Pixabay/Divulgação
Para todo e qualquer processo de tombamento histórico, natural e artístico, o Cepha apresenta um parecer ao governo do estado, favorável ou não. Porém, desde 2015, com o decreto 2.445, assinado pelo atual governador, o processo de tombamento foi sutilmente alterado. “Desde então, a decisão de proteger um bem está sujeita somente à vontade do governador ou do procurador do estado, sem precisar passar pelo conselho, sem levar em consideração a voz técnica dos especialistas”, desabafa o arquiteto José La Pastina Filho. Atualmente, o conselho só delibera o que o governador autorizar de antemão.

2-Interesses econômicos em primeiro lugar

O Conselho perdeu o sentido de existir e agora as escolhas de conservação estão sujeitas somente aos interesses econômicos, como garante a arquiteta Rosina Parchen, que não integra o conselho, mas é autoridade em patrimônio no Paraná, tendo inclusive chefiado o setor no estado e trabalhado por décadas com patrimônio cultural. “O conselho estava incomodando. Diversos pareceres acabaram por ir contra alguns interesses econômicos, como no caso da Escarpa Devoniana na região da Serra do Mar e do Salto Paiquerê, no rio Goioerê”, critica Rosina, que atravessou os governos mais hostis defendendo o patrimônio e assim conquistou uma trajetória de respeitabilidade. “Hoje, o critério técnico não existe mais, não se pensa no valor cultural, tudo para não desagradar alguns interesses. Me aposentei para não compactuar com esse desgoverno”, critica.

3-Mata Atlântica do PR corre risco

Escarpa Devoniana, que ainda não teve processo de tombamento concluído. Foto: Divulgação
Escarpa Devoniana, que ainda não teve processo de tombamento concluído. Foto: Divulgação
A Escarpa Devoniana, que abriga um dos últimos grandes remanescentes de Mata Atlântica, corre riscos.”Ela pode ser explorada. O tombamento não impede isso. Mas se houver ação nociva, aí a lei protege. O que alguns querem é derrubar sem dar satisfações. Negociar incomoda”, confidencia o arquiteto Key Imaguire Jr.

4-Mudanças na ferrovia da Serra do Mar podem acontecer de qualquer jeito

Descida de trem pela Serra do Mar ate Morretes
Descida de trem pela Serra do Mar ate Morretes
Ainda segundo Imaguire Junior, nome respeitado que formou toda uma geração de arquitetos e urbanistas na UFPR, a atual ferrovia da Serra do Mar não dá conta de transportar mercadorias. “Ela só comporta uso turístico hoje”, explica. Por isso, uma nova ferrovia teria de ser feita para possibilitar as trocas comerciais com o porto. “Mas todas as propostas analisadas pelo conselho até hoje eram agressivas demais e foram recusadas.”

Resposta do governo do PR

Em nota, a Secretaria de Estado da Cultura (Seec) lamenta o pedido de renúncia de 17 conselheiros que compunham o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico. E informa que irá indicar um novo conselho em breve. Diz ainda que o governo estadual reconhece a  relevância da preservação do patrimônio cultural paranaense e se coloca ao lado daqueles que se empenham nesta tarefa. No entanto, em nenhum momento reconhece os “equívocos” apontados pelos antigos conselheiros na reportagem.

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