Arquitetura

Portais de casas da Ásia com mais de 250 anos estão em exposição em Curitiba

Sharon Abdalla
03/09/2018 16:08
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Fotos: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo

A cultura dos povos asiáticos ainda instiga e gera fascínio sobre a população ocidental. Distante de boa parte de nós, descendentes de colonizadores europeus e, portanto, mais familiarizados ao estilo de vida deste lado do continente, ela é envolta em pré-conceitos e chega a gerar estranhamento em quem não se aventura a desvendá-la.
É justamente este o objetivo da exposição “Ásia: a terra, os homens, os deuses”, em cartaz no Museu Oscar Niemeyer. Reunindo cerca de 200 peças de um acervo particular formado por mais de três mil itens, entre os quais móveis e artigos arquitetônicos, doados ao museu pelo embaixador Fausto Godoy, a mostra traz a Ásia em entalhes e detalhes para perto de nós, ocidentais.
“A escolha de trazer a Ásia para o Brasil pareceu inusitada para a maioria dos meus colegas. Mas a tomei como missão. Projeto extremamente ambicioso, e certamente superior às minhas forças e habilidades, mas fundamental, a meu ver, na medida em que o continente se afirma como o principal motor da geoeconomia e da geopolítica deste século”, afirma Godoy no testemunho que assina no catálogo da exposição ao justificar o empenho de quase de 16 anos, período em que serviu na região, garimpando as peças em países como China, Afeganistão, Vietnã e Myanmar. “Neste intento, a arte foi o caminho que encontrei para tentar compreender ‘multirrealidades’ muito complexas. Porém, a arte no seu sentido holístico, sem distinção entre as chamadas nobres – ‘fine arts’, belas artes – e as menores (as artes aplicadas)”, completa.
A inexistência desta distinção no continente asiático é facilmente percebida, e reconhecida, nas peças que compõem a exposição. Os dois portais, por exemplo, que saltam aos olhos dos visitantes pela riqueza de detalhes e pela complexidade do trabalho entalhado na madeira Sheesham, serviam de fechamento para residências ou escolas corânicas da região do Punjab, no Paquistão, datados aproximadamente do século 18.
“O entalhe é algo radical. Estamos acostumados com o gesto do pincel, da tinta, algo não tão material quanto usar uma lâmina e impor na madeira, em um objeto sólido, essa visão da gestualidade. Esses portais eram encontrados em antiquários e ferros velhos quando passaram a ser substituídos pelas portas de metal nas regiões mais afastadas dos centros urbanos, mas eles têm um valor artístico muito significativo para os colecionadores”, explica Marco Baena, mestrando em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), que atua na pesquisa e catalogação do acervo asiático do MON e acompanhou a reportagem em uma visita guiada pela exposição.

Mobiliário

Também em madeira, os móveis são outros itens que chamam atenção na mostra. Mais do que a simples função, eles exprimem a cultura e as tradições dos povos asiáticos em seus detalhes. Com acréscimo de metal, as cômodas para roupa, datadas entre 1868 e 1912, são compostas por dois módulos encaixáveis, que podem ser separados e transportados facilmente com o auxílio das alças laterais. “A madeira desses móveis é bem fina, o que os torna leves e fácil de transportar. Muitas famílias de imigrantes trouxeram algumas cômodas destas para o Brasil”, acrescenta Baena.
As cadeiras são outros elementos importantes para se entender a cultura oriental. Quando aparecem em pares, o que é bastante comum na China, segundo o pesquisador, elas costumam ocupar uma área nobre da residência e não serem utilizadas, funcionando como uma espécie de altar em homenagem aos antepassados.
Já as peças com espaldar (encosto) curvo serviam à classe dos letrados, formada por intelectuais ligados ao império. “Os chapéus que esta classe usava está representado no formato da cadeira. Ao mesmo tempo, ele servia de apoio para pendurar [o acessório] quando eles se sentavam. Por isso as pontas são curvadas para cima”, explica Baena.
A exposição “Ásia: a terra, os homens, os deuses” segue em cartaz por longa duração na sala 5 do Museu Oscar Niemeyer (MON), que planeja organizar outras mostras para exibir os demais itens da coleção asiática do museu, que é a maior da América Latina.

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