Arquitetura

Prédio restaurado no centro de Curitiba preserva história do primeiro modernista brasileiro

Luciane Belin*
10/09/2018 11:00
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No número 110 da Rua Riachuelo, no centro de Curitiba, escondido por trás de uma fachada que oscila entre o eclético e o art déco, reside mais uma relíquia daquele que é considerado um dos primeiros arquitetos modernistas brasileiros, Frederico Kirchgässner. O Edifício Guilherme Weiss foi construído entre 1927 e 1930 para abrigar o Hotel Martins, que ocupava seus dois pavimentos superiores, além de quatro pequenas lojas no térreo.
Agora chamado Edifício Regina Weiss de Castilho, o prédio foi restaurado pela Construtora Tha a partir de um projeto desenvolvido pela arquiteta Ivilyn Weigert em 2014, quando ela integrava a equipe da Arte Maggiore Arquitetura Construção e Restauro. Ele é integrado ao projeto All You Need, um complexo que atravessa toda a quadra até a Rua Presidente Faria. Valiosa para a história da arquitetura curitibana, a construção teve boa parte de sua identidade mantida durante o restauro.
Porém, quem conhece as residências cujos traços deram a Kirchgässner o título de primeiro modernista brasileiro pode nem desconfiar, à primeira vista, que esta seja uma de suas obras.
Linhas verticais, formas geométricas e o próprio período de construção do prédio sugeriram à arquiteta que se tratava de mais uma obra eclética com elementos de déco de autoria anônima. “O estilo eclético é o que prevalece no início do século 20, então nesse período da década de 20 é muito comum encontrar edifícios com esta assinatura, que é uma mistura de elementos. Este, em específico, tem essas características, com um estilo voltado para o art déco, porque tem os adornos geométricos que tendem a uma linearidade”, explica a arquiteta.
Embora tenha se mantido funcional por mais de 60 anos, o edifício estava abandonado desde 1991, quando um incêndio afetou todo o prédio, destruindo principalmente o andar superior. O que o fogo não consumiu, a ação da chuva e do sol ao longo de mais de 25 anos terminaram de corroer. “Sobrou esse esqueleto de concreto armado, que sustentava os vazios dos dois poços de luz, mas o que era de madeira – os pisos, detalhes de arquitetura e as esquadrias da fachada – também se perdeu”, explica Ivilyn.
Entre os resquícios da arquitetura original está o que oferece as primeiras pistas do olhar de um modernista sobre a obra: as longas vigas de concreto armado que se estendem de um lado a outro da edificação e que dão à construção uma sustentação à frente do seu tempo.

Essência modernista

Nascido no Brasil em 1899, na região onde hoje está o município de Ibirama (SC), Kirchgässner iniciou seus estudos de arquitetura na universidade alemã de Kunstschule via correspondência, em 1916, mesmo ano em que se tornou desenhista da Prefeitura Municipal de Curitiba. Somente em 1928 ele viajou à Alemanha para obter seu diploma.
O edifício da Rua Riachuelo, no entanto, foi projetado um ano antes da viagem, de onde o arquiteto também trouxe diversas referências. “Este projeto em questão não chega a ser uma obra modernista, é mais tradicional, enquanto que as outras casas que ele desenvolvia eram mais inovadoras. Então não é muito representativa do que ele conseguiu fazer”, opina o arquiteto Salvador Gnoatto, que em 2017 fez a curadoria de uma exposição inspirada na obra de Kirchgässner.
Segundo o arquiteto e professor da FAE Fábio Domingos Batista, embora seja forte, essa categorização do arquiteto como modernista não é consenso entre os pesquisadores. “O conjunto da obra de Kirchgässner marca um início do modernismo no Brasil e ele tem uma essência que é modernista, mas a produção dele vai além disso. O Edifício Guilherme Weiss é um exemplo: é uma peça eclética com traços déco que não tem nada de modernista”, completa.
Além dos projetos reconhecidos de arquitetura residencial e comercial, Kirchgässner também teve participação em dezenas de importantes obras públicas, que incluem a Praça Alfredo Andersen e o Largo Bittencourt.
*Especial para a Gazeta do Povo.

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