Reconhecimento estudantil

Arquitetura

Projeto que prevê horta urbana no Copan vence prêmio latino-americano de construções em aço

Sharon Abdalla
25/11/2020 14:07
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Dois estudantes brasileiros conquistaram o primeiro lugar do Prêmio Alacero, voltado à concepção de ideias arquitetônicas inovadoras tendo o aço como matéria-prima por jovens latino-americanos, que neste ano teve como tema "Soluções para Cidades e Comunidades Sustentáveis". Batizada de "Arquitetura que não toca o chão", a proposta apresentada por Augusto Longarine e Luiz Sakata, da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) trata do uso das paredes cegas (empenas) de um dos ícones da arquitetura brasileira, o Edifício Copan, assinado por Oscar Niemeyer, para o adensamento e a ocupação sustentável dos centros urbanos.
"Nós trabalhamos juntos no centro de São Paulo e durante um ano convivemos muito com o quarteirão do Copan, percebendo os espaços residuais e as coberturas não ocupadas. Tínhamos interesse em explorar essa arquitetura ociosa dos grandes centros, [o que casou] com o tema do concurso", conta Longarine ao resgatar o histórico que fundamentou a proposta.
Módulos instalados na empena cega do icônico edifício de Oscar Niemeyer.
Módulos instalados na empena cega do icônico edifício de Oscar Niemeyer.
No projeto, essa ocupação se dá a partir da introdução de "módulos parasitas", ou seja, estruturas em aço acopladas nas áreas ociosas do edifício (que englobam empenas cegas e a cobertura) que receberiam uma grande horta urbana instalada entre o 13º e o 38º pavimentos.
O programa prevê, ainda, todo o sistema necessário para o cultivo e desenvolvimento das plantas, o que envolve a captação de águas pluviais e a filtragem de águas cinzas do edifício (provenientes dos chuveiros, lavatórios, pias de cozinha e máquinas de lavar roupa) para a irrigação do plantio. A compostagem do lixo orgânico do condomínio para a produção de adubo e a geração de biogás a partir da instalação de biogestores que receberiam os efluentes condominiais também constam no projeto, no que os estudantes classificam como um "sistema otimizador urbano", ou seja, uma horta vertical cujos insumos básicos para a produção provém do próprio edifício “hospedeiro”.
A comercialização do que seria produzido nela, por sua vez, se daria por um mercado próprio, localizado no prédio vizinho e ligado ao Copan por meio de três passarelas. O acesso ao terraço do edifício, que tem uma das melhores e mais altas vistas de São Paulo, também foi previsto no projeto que, além das escadas, conta com elevadores de forma a garantir acesso universal a todos os pavimentos públicos.

Ganho de escala

Prevista para se tornar uma imensa mancha verde em meio ao cinza do centro da capital paulistana, a "Arquitetura que não toca o chão" foi pensada para que possa ser replicada e adaptada à necessidade e condições de cada edifício que conte com áreas ociosas com potencial de ocupação. Só na quadra do Copan, por exemplo, os estudantes levantaram uma área que soma 55.176,8 m², entre empenas e coberturas subutilizadas, o equivalente a pouco mais de cinco campos de futebol.
No Copan, inserção dos módulos acrescentaria 2,5 mil m² de área ao edifício.
No Copan, inserção dos módulos acrescentaria 2,5 mil m² de área ao edifício.
"Isso corresponde a 1,65 vezes a área da quadra. Se se expandir este conceito para todo o centro de São Paulo, é como se ainda tivéssemos mais uma cidade passível de adensamento e de oportunidades de projeto", ilustra Longarine.
A escalabilidade da proposta também fez com que os módulos fossem instalados a partir de determinada altura do edifício, sem tocar o solo, permitindo que sejam adaptáveis às mais diversas condições de ocupação dos terrenos.
"A ideia dos módulos parasitas enquanto sistema também poderia ser aproveitada tanto como equipamento público, custeado pela prefeitura, quanto pelo setor privado ou pelo próprio condomínio", acrescenta Sakata ao destacar a versatilidade de uso dos espaços gerados pela inserção dos módulos, que também podem servir de áreas de lazer, de permanência, residenciais, escolas, galerias de arte, entre outros. No Copan, por exemplo, 2,5 mil m² de área seriam acrescidos a partir da inserção dos módulos.
"Tentamos olhar a sustentabilidade não apenas do ponto de vista das novas edificações, muitas vezes vinculadas aos certificados de sustentabilidade. Trouxemos a discussão de que precisamos olhar para a cidade já construída, para a infinidade de edifícios que temos e o potencial de se intervir nas questões de sustentabilidade sobre este estoque. A cidade não é o problema, mas sim a maneira como nós lidamos e manuseamos ela", completam os estudantes.
O projeto "Arquitetura que não toca o chão" tem orientação do professor Luciano Margotto e já havia vencido o 13º Concurso CBCA (Centro Brasileiro da Construção em Aço), etapa nacional que antecede o Alacero.

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