Oásis cultural

Arquitetura

Projeto cultural do ator Luís Melo, Campo das Artes traz arquitetura sustentável com espaços multiuso

Stephanie D’Ornelas, especial para HAUS
13/04/2022 11:00
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A área total do espaço é de 164 mil metros quadrados, com cerca de 2 mil metros quadrados de área construída pública e mil metros quadrados de área de apoio.

Um lugar que acolhe arte, educação e cultura em meio a um cenário campestre. Este é o Campo das Artes, a materialização do sonho de vida do consagrado ator paranaense Luís Melo. O espaço cultural abriu as portas ao público oficialmente no último mês de março, com espetáculos que integraram a 30ª edição do Festival de Teatro de Curitiba. Essa história é muito mais antiga, entretanto: foi em 2008 que o projeto começou a sair do papel e ganhar vida no distrito de São Luiz do Purunã, no município de Balsa Nova, a 40 quilômetros de Curitiba.
Em busca do local que abrigaria o Campo das Artes, Melo foi de Almirante Tamandaré a Colombo, de Piraquara a Antonina. Havia uma condição fundamental para o ator, que era impactar o mínimo possível o ambiente em que a construção seria inserida. “Conheci esse espaço em São Luiz do Purunã a partir de um convite do Beto Bruel, que é um dos maiores iluminadores do mundo. Ele disse que tinha o lugar ideal para construir, que é o campo. Aqui, anteriormente, era um pasto, então não precisaríamos derrubar nenhuma árvore”, lembra Melo. “A ideia é utilizar uma parte dessa área para o projeto, e outra para preservação e recuperação da mata”, conta.
Com capacidade para 200 pessoas, o Espaço Multiuso foi criado para abrigar os mais diversos eventos artísticos promovidos pelo anfitrião Luís Melo.
Com capacidade para 200 pessoas, o Espaço Multiuso foi criado para abrigar os mais diversos eventos artísticos promovidos pelo anfitrião Luís Melo.
Revestidos com madeira reutilizada, os barracões que formam a principal estrutura do Campo das Artes parecem ter pousado na área privilegiada, que é cercada pela mata nativa dos Campos Gerais, integrando-se de forma leve e natural ao ambiente. “A ideia inicial é que o Campo parecesse com um barracão de madeira, porque a minha paisagem é essa: a casa de madeira, a neblina, a geada, a araucária. Sou curitibano, adoro esses espaços. Por isso o revestimento externo e interno é em madeira”, explica Melo.
O amplo pátio com vista para a paisagem da Serra de São Luiz do Purunã pode ser ocupado com propostas como feiras, apresentações de teatro, música e dança, desfiles de moda, rodas de conversa e demais ideias de ocupação ao ar livre.
O amplo pátio com vista para a paisagem da Serra de São Luiz do Purunã pode ser ocupado com propostas como feiras, apresentações de teatro, música e dança, desfiles de moda, rodas de conversa e demais ideias de ocupação ao ar livre.
O reaproveitamento de materiais, uso de retrofit e adoção de soluções sustentáveis é um dos principais pilares do projeto. “A ideia era trabalhar o máximo possível com coisas reutilizáveis. Toda a madeira que foi usada na caixaria para fazer concreto foi usada internamente, no revestimento”, exemplifica o arquiteto Renato Santoro, responsável pelo projeto de interiores do Campo das Artes. O projeto também conta com estrutura de captação de água da chuva e painéis solares. Além disso, contêineres instalados no terreno ganharam novas funções, como espaços de armazenamento e acervo.
 A grande caixa preta do Espaço Multiuso tem revestimento termo-acústico nas paredes, teto e janelas superiores que podem ser fechadas para total vedação da luz e porta que se abre para a área externa, ampliando as possibilidades de uso cênico.
A grande caixa preta do Espaço Multiuso tem revestimento termo-acústico nas paredes, teto e janelas superiores que podem ser fechadas para total vedação da luz e porta que se abre para a área externa, ampliando as possibilidades de uso cênico.

Ideias múltiplas

O Campo das Artes sempre foi um projeto pensado com muitas cabeças, inclusive na parte arquitetônica. O projeto inicial foi delineado pelo arquiteto, cenógrafo e figurinista JC Serroni. “Fiz o galpão de uso múltiplo e os galpões laterais, utilizando o conceito de abrir a arquitetura para a paisagem. Pensando nisso, também fiz uma bancada de 60 metros que acompanha a curva desse lugar, com a paisagem deslumbrante de fundo. Ali as pessoas podem trabalhar e sentar para apreciar a vista”, diz Serroni.
Bancos esculpidos em madeira em forma de cabeça são peças artesanais assinadas pela Oficina de Agosto.
Bancos esculpidos em madeira em forma de cabeça são peças artesanais assinadas pela Oficina de Agosto.
Santoro define a arquitetura do espaço como elegante, limpa e discreta. “São as pessoas, espetáculos e exposições que devem aparecer ali”, afirma. Os espaços neutros também facilitam o uso multidisciplinar do local, que promove o desenvolvimento de projetos culturais, artísticos e educativos. Os ambientes foram pensados para a criação de intersecções entre as mais diversas linguagens artísticas e áreas do conhecimento, como arte, design e gastronomia.
Espaço de convivência com capacidade para 70 pessoas promove momentos de confraternização em um ambiente descontraído.
Espaço de convivência com capacidade para 70 pessoas promove momentos de confraternização em um ambiente descontraído.
Os ambientes com aspecto industrial, com a parte elétrica e hidráulica aparente, têm também uma razão prática. “Precisamos de uma arquitetura de fácil manutenção. Se tivermos algum problema conseguimos resolver sem quebrar a parede. Aqui também tem muita umidade, então teríamos mais problemas se fosse tudo embutido”, explica Melo. No Campo das Artes, o ator não tem medo de ousar. “Acredito que em um espaço de arte é importante fazer provocações, arriscar materiais, usar a obra como um campo de experimentação, um laboratório de ideias que possam ser desenvolvidas e testadas”.
Sustentabilidade: o projeto conta com estrutura de captação de água da chuva e painéis solares, além de contêineres que ganharam novas funções, como espaços de armazenamento e acervo.
Sustentabilidade: o projeto conta com estrutura de captação de água da chuva e painéis solares, além de contêineres que ganharam novas funções, como espaços de armazenamento e acervo.
Mapa do Campo das Artes: o espaço cultural fica onde anteriormente era um pasto, então não foi necessário derrubar nenhuma árvore.
Mapa do Campo das Artes: o espaço cultural fica onde anteriormente era um pasto, então não foi necessário derrubar nenhuma árvore.

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