Arquitetura

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Projeto que resgata memória de prédios de Curitiba entra em nova fase

Gustavo Queiroz, especial para HAUS
16/11/2020 20:21
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Todas as vezes que o arquiteto Guilherme de Macedo passa em frente ao número 205 da Rua Cândido Lopes, faz questão de não atravessar a rua. A estreita calçada que introduz o Edifício Brasilino de Moura tem fama de ser um funil onde se concentram postes, pessoas, lixeiras – e os pedestres apressados tratam de prestar atenção por onde andam. Mas Macedo garante que quem lembra de diminuir o passo e olhar para cima, descobre uma sensação diferente. “É como se o prédio te olhasse de volta, pois ele tem fachadas inclinadas que ficam te observando no meio dessa loucura que é o centro. Isso reflete a vida na cidade”, diz.
A experiência sensorial de enxergar os edifícios curitibanos para além de sua arquitetura é tema do projeto “Prédios de Curitiba”, criado em 2014. Antes com uma página no Facebook, a proposta ganhou apoiadores e, após vencer edital da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), se materializou em um livro de mesmo nome. “O objetivo principal era revelar os prédios que traziam uma riqueza ao imaginário urbano da capital. A personalidade desses edifícios acompanha a personalidade da cidade”, conta Macedo. Agora, o projeto entra em uma fase com foco no digital, que propõe novas formas de apresentar as histórias que os edifícios têm para contar.

O projeto

O livro “Prédios de Curitiba” foi lançado em 2017 e é assinado por Guilherme, pelo arquiteto Fábio Batista e pelo fotógrafo Washington Takeuchi. A publicação narra o processo de verticalização de Curitiba desde 1916, com a construção do baixo e eclético Paço da Liberdade, passando pelos arranha-céus e concluindo no contemporâneo “1232”, edifício construído em 2013 com apenas dois andares.
Cada um dos 40 edifícios que protagonizam a obra ganha um nome próprio. São exemplos o “Impávido Colosso”, o “Dissimulado” e o “Balança mas não cai”, que apelidam construções conhecidas da capital: o Moreira Garcez, o Jatobá e o citado Brasilino de Moura. “Existe uma memória afetiva nos prédios, já que os edifícios carregam uma série de narrativas. As pessoas criam marcos referenciais a partir deles”, explica Fábio Batista. O Edifício Tijucas e o ASA, por exemplo, são os conhecidos detentores das fofocas da capital.
 Tijucas: considerado o ‘mais querido’. A construção tem porte e vocação política.
Tijucas: considerado o ‘mais querido’. A construção tem porte e vocação política.
 Brasilino de Moura: com a fachada inclinada, prédios é apelidado de “balança mas não cai”.
Brasilino de Moura: com a fachada inclinada, prédios é apelidado de “balança mas não cai”.

Curadoria dos prédios

Contar a história de um prédio é contar a história de uma cidade? Os autores garantem que sim e, por isso, selecionar apenas 40 edificações não foi tarefa fácil. A curadoria passou ao largo dos prédios institucionais, que já têm enredo conhecido. Depois de coletar a opinião de muitas pessoas, Fábio e Guilherme entendem que os prédios escolhidos são uma extensão da vida curitibana, que pode se dar no material escolhido para a construção, em um querido hall de entrada, ou em um térreo solto que convida o pedestre a entrar.
As construções dos anos 60 e 70, do arquiteto Elgson Ribeiro, são um destaque à parte. “Nessa data, a personalidade dos edifícios contrasta com a da cidade. Não é só o fator modernista, mas o fator humano, com cores e elementos próprios que marcam essa transição”, afirma Macedo. Conhecer o Edifício Itália, assinado pelo arquiteto, por exemplo, significa conhecer o carisma curitibano de 1964.

Nova fase do "Prédios de Curitiba"

Após passar alguns anos colhendo os ecos da publicação do livro, o “Prédios de Curitiba” agora inaugura uma nova fase. Com uma equipe que chega a 20 colaboradores, nesse ano o site e o perfil nas redes sociais foram repaginados. “A gente acha que agora a proposta pode contribuir para que as pessoas entendam o que é relevante para o desenvolvimento de um edifício e a responsabilidade que se tem quando se faz um projeto que ficará por anos na cidade, se relacionando com o cidadão”, defende Macedo.
 Detentor de uma “fachada vibrante e ritmada", o edifício Araucária, que leva o nome da árvore símbolo do estado, fica na Rua Treze de Maio e é um dos focos do projeto "Prédios de Curitiba".
Detentor de uma “fachada vibrante e ritmada", o edifício Araucária, que leva o nome da árvore símbolo do estado, fica na Rua Treze de Maio e é um dos focos do projeto "Prédios de Curitiba".
Todos os prédios contemplados pela primeira edição do trabalho foram agora adotados pela versão online. As histórias são contadas no quadro “Prédio da semana” e acompanham um impecável acervo fotográfico, em ângulos que muitos, inclusive, ainda não conheciam. Em maio deste ano, uma publicação de fotos internas do edifício Eduardo VII causou um alvoroço. De acordo com Guilherme e Fábio, o “Eduardo” é um folclore da pesquisa, abandonado desde 2008 mas que passa por um processo de restauração. “O perfil recebeu inúmeros pedidos de interessados querendo entrar. Se não fosse a pandemia, poderíamos até organizar um tour”, contam.
Em paralelo, outras construções que não constam no material original agora ganham os holofotes na página. Em todos os casos, as publicações apontam para um mesmo caminho: o resgate da história da cidade por meio de seu mapa afetivo vertical. “Sempre que publicamos algo, um leitor traz um fato novo. Por mais que a pesquisa seja antiga, ela nunca se esgota. É um projeto sem fim”, diz Macedo. No futuro, novas demandas devem entrar na ordem do dia da equipe, como a constituição de minidocumentários.
 Eduardo VII: edifício está sendo revitalizado e irá se transformar em moradias para locação por temporada.
Eduardo VII: edifício está sendo revitalizado e irá se transformar em moradias para locação por temporada.
Os pedidos dos leitores – que por vezes reclamam que o próprio prédio ainda não aparece no projeto – motivam novas produções. O primo paulista, “Prédios de São Paulo”, já chegou no terceiro volume. Os curitibanos, quem sabe, devem também seguir para uma próxima publicação, agora menos vertical: o “Casas de Curitiba”.

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