Arquitetura

Refúgios de leitura

Mariana Sanchez, especial para a Gazeta do Povo - marianab@gazetadopovo.com.br
01/08/2010 03:10
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Das estantes presenteadas pelos sogros à poltrona herdada do pai, as leituras de Flávio Stein têm história

Foi o que fez o músico e diretor teatral Flávio Stein, 48 anos, que também é mestrando em Estudos Literários na Univer­­­sidade Federal do Paraná (UFPR). Até pouco tempo atrás, ele e a esposa mantinham em casa um quarto multiuso que abrigava desde objetos de arte e documentos até uma infinidade de livros. Com o anúncio da gravidez da esposa – e um inesperado ataque de cupins no principal armário de madeira –, Flávio decidiu que era hora de organizar melhor o espaço, transformando-o em escritório, biblioteca e canto de leitura. “É um ambiente em processo, ainda faltam alguns detalhes finais, mas já tenho o silêncio e o conforto de que preciso para ler e me concentrar”, conta. A inspiração veio da casa de seu pai, Milton de Lima Sousa, que tinha um acervo com mais de 10 mil obras e, além de poeta, editava uma revista literária nos anos 1960. Flávio não tira da cabeça a ideia de reproduzir o cantinho de leitura onde seu pai passava o tempo, com estantes margeando as paredes, mesa para apoiar a máquina de escrever – hoje substituída pelo computador – e uma larga poltrona próxima da janela. Essa, por sinal, ele recuperou da casa paterna, trocou o forro, tecido e até a angulação do encosto: “além de confortável, ela tem muita história”, garante.
De acordo com Eliane Canho­­­to, arquiteta e professora do curso de design de interiores do Centro de Educação Profissional de Design, Artes e Profissões (CEPDAP), planejar um ambiente de leitura adequado requer certos cuidados com iluminação, ergonomia, circulação e conforto térmico. “Nada é melhor do que a luz natural do dia para ler e estudar, mas quando ela não for suficiente o ideal é mesclar diferentes tipos de iluminação. No spot geral, escolha lâmpadas frias, mais indicadas a áreas de trabalho, e sobre a mesa use uma luminária com foco direcionado e lâmpada de led, que dura mais e tem baixa manutenção”, ensina. Se o objetivo é criar um escritório equipado com computadores além de livros, outro ponto fundamental é a cadeira, que deve ter regulagens de braço, encosto e altura do assento, sem esquecer o apoio para os pés. Quanto ao armazenamento dos materiais, Eliane Canhoto defende o uso de nichos, prateleiras e cristaleiras antigas ao invés de armários com portas. “Hoje em dia os espaços estão cada vez menores, por isso é legal deixar os materiais à mostra, visualmente livres e protegidos do pó apenas por vidros, o que dá a sensação de amplitude.”
O conforto térmico é mais um aspecto a ser considerado, principalmente em Curitiba. Se o morador não for alérgico, a arquiteta recomenda incluir tapetes para deixar o ambiente mais quente e agradável. “Revestimen­­­tos como madeira, papel de parede e até o tipo do tecido de poltronas e almofadas podem ajudar a tornar aquele espaço mais confortável e aconchegante, mas é preciso cuidar para não deixá-lo muito escuro ou fechado demais.”
Toque pessoal
Leitores com Flávio Stein costumam passar muitas horas do dia debruçados sobre os livros. Por isso, Eliane Canhoto recomenda que a pessoa se sinta extremamente confortável e identificada com o lugar da casa destinado à leitura. “É comum os arquitetos indicarem o uso de cores neutras e suaves neste tipo de espaço, para evitar a distração e trazer tranquilidade. Mas, se quem irá frequentá-lo adora cores, por exemplo, por que não pintar uma parede de vermelho ou incluir objetos lúdicos e coloridos?”, questiona. “O mais importante é criar uma espécie de refúgio, o lugar mais pessoal e particular possível, sem muitas regras, que mexa com os sentidos.”
Espaço coletivo
Antes de arregaçar as mangas e começar as mudanças em casa, é preciso definir se o canto de leitura e estudos terá uso individual ou coletivo. Para quem prefere mais privacidade, o próprio dormitório pode servir para receber bancada, prateleiras, luminárias e poltronas. Mas Eliane Canhoto avisa que, se a acústica do local não for boa ou se a janela permitir muita exposição, é melhor buscar ambientes alternativos, como espaços de passagem na casa ou até a sala de estar. Segundo ela, dois metros quadrados são suficientes para criar um cantinho confortável, e com painéis deslizantes e cortinas é possível dividir os espaços sem separar as pessoas, preocupação constante da arquiteta.
“Percebo que cada morador vive dentro de uma ilha isolada, com seu próprio computador e televisão no quarto. Um ambiente que concentre as atividades de leitura e estudos, desenhado para várias pessoas da família, ajuda a estimular a convivência”, opina. Como sugestões para este canto coletivo, ela cita o uso de poltronas para contar histórias às crianças, bancos de madeira que servem de apoio para livros, deixando-os mais à mão, e futons ou pufes divertidos para os pequenos se sentarem. Estratégias simples que tornam qualquer escritório descontraído e multifuncional.
Serviço:
A3 Arquitetura, fone (41) 3022-1962
CEPDAP, fone (41) 3029 4044

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