Arquitetura

São Paulo recebe exposições inéditas de Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi

Luciane Belin*
02/04/2019 14:18
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Estudo preliminar – esculturas praticáveis do belvedere Museu de Arte Trianon, 1968. Peça em nanquim e aquarela sobre papel, faz parte do Acervo MASP, doação Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. Foto: Divulgação

O mês de abril será marcado por importantes mostras de dois dos mais importantes nomes da arquitetura brasileira em São Paulo. A partir desta sexta-feira (05), até o dia 28 de julho, o Museu de Arte de São Paulo (MASP) apresenta a exposição “Lina Bo Bardi: Habitat”.Já o Instituto Tomie Ohtake recebe de hoje até o dia 19 de maio a mostra “Oscar Niemeyer (1907-2012) – Territórios da Criação”.
Foto: Divulgação
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A primeira vai exibir um panorama sobre a atuação da arquiteta ítalo-brasileira em várias frentes e, segundo o MASP, reunirá o mais completo catálogo já produzido sobre sua obra e legado. Os temas principais da exposição giram em torno dos projetos fundamentais da carreira da arquiteta, bem como de momentos decisivos de sua trajetória pessoal. A mostra é dividida em três capítulos.
O primeiro deles, “O Habitat de Lina Bo Bardi”, conta com os quinze primeiros exemplares da revista Habitat, produzida por Lina enquanto dirigia o MASP ao lado do marido, o marchand e crítico italiano Pietro Maria Bardi, diretor-fundador do museu. Ambos trabalharam na publicação entre 1951 e 1952, quando se afastaram para conduzir outros projetos, sobretudo na Bahia, estado que impactaria de modo decisivo o trabalho da arquiteta.
Estudo preliminar – esculturas praticáveis do belvedere Museu de Arte Trianon, 1968. Peça em nanquim e aquarela sobre papel, faz parte do Acervo MASP, doação Instituto Lina Bo e P. M. Bardi.  Foto: Divulgação
Estudo preliminar – esculturas praticáveis do belvedere Museu de Arte Trianon, 1968. Peça em nanquim e aquarela sobre papel, faz parte do Acervo MASP, doação Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. Foto: Divulgação
“A revista falava de arte popular, de mobiliário, da educação como transformação social e política, e de sua visão de arte, não eurocêntrica ou estadunidense. Sem dúvida, a revista Habitat é um grande registro da multiplicidade e da amplitude da atuação de Lina no campo da prática e da teoria”, diz Tomás Toledo, curador-chefe do MASP e um dos três curadores da exposição, via assessoria de imprensa.
“Repensando o museu”, a segunda parte, revê o envolvimento de Lina com o MASP desde a sede da 7 de Abril, dos Diários Associados, grupo de mídia do empresário e mecenas Assis Chateaubriand, fundador do MASP, com destaque para o edifício-sede da avenida Paulista e sua radical pinacoteca com cavaletes de vidro.
Revê também sua proposta didática e de uma função social para o museu, com a organização de exposições que dessacralizavam obras e expografias e a criação do Instituto de Arte Contemporânea (IAC). Repassa ainda a experiência da arquiteta na Bahia, onde criou o Museu de Arte Moderna (MAM-BA) nos escombros de um incendiado Teatro Castro Alves, e o Museu de Arte Popular do Solar do Unhão, edifício cuja escada, feita à maneira dos encaixes de carros de boi, se imortalizou na história da arquitetura brasileira.
Foi na Bahia em que Lina abraçou de vez o popular, em uma vivência que resultaria nas exposições “Bahia no Ibirapuera”, realizada em 1959 no local que viria a abrigar o MAM-SP, Nordeste, que inaugurou o Solar do Unhão, em 1963, e “A mão do povo brasileiro”, aberta em 1969 no MASP da Avenida Paulista.
"A mão do povo brasileiro", mostra temporária inaugural do MASP na avenida Paulista em 1969. Foto: Divulgação/MASP
"A mão do povo brasileiro", mostra temporária inaugural do MASP na avenida Paulista em 1969. Foto: Divulgação/MASP
A parte final da mostra e do livro, “Da Casa de Vidro à Cabana”, trata da trajetória de Lina como projetista, que se inicia com uma influência mais acentuada do modernismo europeu, com projetos como o da Casa de Vidro, sua primeira obra construída e sua residência até a morte, e com o passar do tempo agrega referências da cultura popular brasileira e das técnicas vernaculares de construção, características que podem ser observadas em projetos como a Casa Valéria Cirell, a Igreja Espírito Santo do Serrado e o SESC Pompéia, um de seus principais projetos.
Produzida em três idiomas – português, espanhol e inglês -, a mostra contou ainda com a curadoria de Julieta González, do Museo Jumex, e José Esparza Chong Cuy, no MCA Chicago, onde será exibida em janeiro e julho de 2020, respectivamente.
A abertura de Lina Bo Bardi: Habitat será simultânea à da exposição “Tarsila popular”, sobre a artista Tarsila do Amaral, que foi figura central do modernismo brasileiro em sua primeira fase, a partir dos anos 1920. As mostras integram o ciclo “Histórias das mulheres, histórias feministas”, eixo temático que guiará a programação da instituição ao longo de 2019.

110 anos de Niemeyer

A curadoria de Marcus Lontra e Max Perlingeiro, além de reunir um conjunto inédito de desenhos, pinturas, esculturas e peças de mobiliário feitos pelo consagrado arquiteto, traz também obras de artistas que trabalharam com ele em seus emblemáticos projetos, como Alfredo Ceschiatti (1918-1989), Alfredo Volpi (1896-1988), Athos Bulcão (1918-2008), Bruno Giorgi (1905-1993), Candido Portinari (1903-1962), Franz Weissmann (1911-2005), Joaquim Tenreiro (1906-1992), Maria Martins (1894-1973), Roberto Burle Marx (1909-1994) e Tomie Ohtake (1913-2015).
Um retrato da Pampulha, da série "fios", 2004 - 2007, escultura em aço pintado. Foto: Divulgação
Um retrato da Pampulha, da série "fios", 2004 - 2007, escultura em aço pintado. Foto: Divulgação
“Ruínas de Brasília” (1964), conjunto de duas raras pinturas de Niemeyer – uma delas nunca exposta – se unem a 25 desenhos inéditos, que retratam com seu inconfundível traço a Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, a Oca e o Parque Ibirapuera, em São Paulo, o Palácio do Planalto, a Catedral de Brasília, o Palácio da Alvorada, o Caminho Niemeyer, em Niterói, e a Bolsa de trabalho, em Bobigny, França, entre outros.
A paixão pela figura feminina e suas curvas também estão nos desenhos feitos em sua maioria em caneta hidrográfica sobre papel. A exposição dedica ainda um espaço a retratos de Oscar Niemeyer assinados por grandes fotógrafos: Antonio Guerreiro, Bob Wolfenson, Edu Simões, Evandro Teixeira, Juan Esteves, Luiz Garrido, Marcio Scavone, Nana Moraes, Nani Góis, Orlando Brito, Ricardo Fasanello, Rogerio Reis, Vilma Slomp, Walter Carvalho e Walter Firmo.
Traços da catedral de Brasília, feitos em caneta hidrográfica sobre papel. Foto: Divulgação
Traços da catedral de Brasília, feitos em caneta hidrográfica sobre papel. Foto: Divulgação

Outros olhares

Para a mostra em São Paulo foi incluída a maquete original do trabalho de Tomie Ohtake realizado para o Auditório do Ibirapuera, uma monumental pincelada vermelha do chão ao teto do grande hall. Há ainda desenhos, pinturas, esculturas e azulejos criados por grandes artistas para projetos arquitetônicos de Niemeyer, e que se tornaram igualmente símbolos desses espaços.
É o caso de um estudo feito por Volpi em têmpera sobre cartão para a Capela Dom Bosco, em Brasília; um estudo em aquarela e duas provas de azulejos feitos por Portinari para a Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha; duas esculturas em pequeno formato como estudo para os “Candangos” e outra para “Meteoro”, de Bruno Giorgi, que estão em Brasília em escala monumental.
Da série de mobiliários feitos em colaboração com a filha Anna Maria (1930-2012), produzidos no Brasil e no exterior, estão a “Poltrona Alta”, que integra a coleção criada para o Palácio do Planalto, e a “Espreguiçadeira Rio”, em madeira e palha.
A poltrona alta, de Oscar Niemeyer, é uma das peças em exposição. Foto: Divulgação
A poltrona alta, de Oscar Niemeyer, é uma das peças em exposição. Foto: Divulgação
A exposição reunirá ainda uma série de documentos e publicações, mostrando o Niemeyer designer gráfico. Niemeyer criou a revista “Módulo”, na década de 1950, dedicada à arte e à arquitetura, publicada até 1964, e retomada por ele em 1975, quando retornou ao Brasil.
Na exposição, será exibido continuamente o vídeo “Oscar Niemeyer: a vida é um sopro” (2006, 90’, Gávea Filmes e Pipa Comunicação), de Fabiano Maciel e Sacha, com trilha sonora de João Donato, Berna Ceppas, Kassim e Felipe Poli.
*Especial para Haus.

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