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Arquitetura

Um modernista contemporâneo: apartamento reformado mantém elementos dos anos 1960

Isadora Rupp, especial para a HAUS
25/01/2022 12:20
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O projeto de Vivian Brune uniu espaços sociais e resgatou a linguagem modernista do apartamento. | Eduardo Macarios/Divulgação

Quando inaugurado em 1963, o Edifício Canadá, projeto do arquiteto Elgson Ribeiro Gomes, importante expoente do modernismo no Paraná, causou furor na cidade. Afinal, era o primeiro edifício com um apartamento por andar na capital paranaense. Outros aspectos da construção chamavam a atenção: as janelas amplas, que acompanhavam as vigas do prédio, eram de inox, outra novidade para a época. Até hoje, quem passa pela Rua Comendador Araújo não fica alheio ao prédio e sua arquitetura, cuja linguagem soou um tanto esquisita para aqueles tempos.
A base neutra do chão e paredes permite destaque ao mobiliário e objetos.
A base neutra do chão e paredes permite destaque ao mobiliário e objetos.
As décadas de história acumuladas deram aos amplos apartamentos de mais de 200 m² modificações internas, e foi desse princípio que partiu a arquiteta Vivian Brune, fundadora do escritório Brune Arquitetura, para o projeto em um apartamento no 19° andar do edifício. “No começo do projeto estudei bastante tentando descobrir quais elementos eram originais. Consegui falar com o filho do Elgson e ele me me deu um livro com todas as suas obras e desenhos originais. Também falei com alguns moradores e encontrei fotos para mapear as modificações”, conta Vivian.
O chão de taco original passou por restauro e por um processo de ebanização para ficar na cor preta, mas manter a textura da madeira.
O chão de taco original passou por restauro e por um processo de ebanização para ficar na cor preta, mas manter a textura da madeira.
A compra do apartamento pelo cliente da arquiteta também é repleta de memórias: ele sempre passava em frente ao Canadá e ficava encantado com o edifício. Conseguiu negociar o imóvel com um antigo morador e, pela metragem, materiais e acabamentos, conseguiu um preço mais baixo do que comprar um imóvel novo. “Ele viu um valor que apartamentos antigos têm e que muita gente não vê. A planta é mais ampla, a localização é melhor. Ele realizou um sonho e achei legal poder participar disso”, relata a arquiteta.
O projeto traz peças de designers brasileiros, como Sérgio Rodrigues.
O projeto traz peças de designers brasileiros, como Sérgio Rodrigues.
O cliente trouxe várias ideias para o projeto, que partiu da seguinte premissa: criar uma base neutra para dar mais destaque aos objetos e mobiliário, além de respeitar o conceito modernista do "menos é mais" e da usabilidade. Por isso, as paredes são brancas e contrastam com o chão em taco de madeira, que recebeu tratamento e um processo de queima chamado de ebanização, que deixa o chão na cor preta, mas sem tirar a textura natural da madeira.

Adaptações necessárias

Melhor vista do apartamento, antiga área de serviço virou um espaço de convivência e churrasco (na foto ao fundo, em vermelho).
Melhor vista do apartamento, antiga área de serviço virou um espaço de convivência e churrasco (na foto ao fundo, em vermelho).
Além de refazer as partes elétrica e hidráulica (segundo a arquiteta, essa reforma é um dos pontos negativos quando se trata de apartamentos antigos), foram retiradas sancas de gesso do teto. “Isso permitiu que o apartamento ficasse o mais original possível, retornando à sua estética modernista”, frisa Vivian. A disposição do apartamento também mudou, acompanhando os novos tempos: em décadas passadas, as divisões dos imóveis eram muito claras entre as áreas consideradas íntimas e as de convívio. Hoje, a necessidade das pessoas é por uma maior integração entre os cômodos. “Modificamos demolindo paredes e unificando espaços sociais”, conta a arquiteta.
Cozinha tem painel de azulejo do artista curitibano Rômulo Lass.
Cozinha tem painel de azulejo do artista curitibano Rômulo Lass.
Uma das alterações foi na área de serviço, segundo ela, com a melhor vista do apartamento. “Juntamos com a cozinha e transformamos em um espaço de churrasco e convivência, e a área de serviço foi para um dos quartos”, explica. A cozinha traz outro elemento marcante: um painel de azulejo feito pelo artista Rômulo Lass.
A icônica fachada do Edifício Canadá, na Comendador Araújo.
A icônica fachada do Edifício Canadá, na Comendador Araújo.
O projeto também reaproveitou uma porta de serralheria original dos anos 1960, que dividia a copa e a cozinha, e agora é uma porta de correr entre a sala e o escritório. No mobiliário, a ideia do Brune Arquitetura foi criar ambientes em um estilo galeria, sem muitos móveis planejados, para dar ao cliente a liberdade de adquirir novas peças e combinar os estilos. No apartamento, há peças como cadeiras do mestre do design brasileiro, Sérgio Rodrigues, junto com mobiliários contemporâneos de novas marcas. “O projeto veio para valorizar a construção, que já é icônica, e não competir com a arquitetura marcante e surpreendente. A ideia foi a de complementar”, define Vivian.
Banheiros foram integrados para ampliação de tamanho.
Banheiros foram integrados para ampliação de tamanho.

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