Mercado imobiliário

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Bem-estar passa a ser preocupação principal na busca por imóveis

Heloisa Nichele, especial para HAUS
20/10/2020 16:40
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Aumentam as buscas por imóveis com espaços verdes, sobretudo por casas com quintais ou apartamentos com ambientes de uso comum em condomínios.

Um dos efeitos da pandemia do coronavírus tem afetado de forma direta o mercado imobiliário: as pessoas tem ficado mais tempo em casa. O espaço, que muitas vezes era utilizado apenas para se passar a noite, quando todas as outras atividades do dia eram feitas fora da residência, tornou-se um lugar único de lazer, trabalho e reunião com a família. As novas normas colocaram toda a atenção para dentro de casa, e os resultados são adequações nos espaços internos e buscas por moradias que atendam às demandas de conforto das famílias.
Diferente de muitos setores da economia que foram prejudicados pela pandemia, o mercado imobiliário tem crescido com as buscas, compras e vendas de imóveis. “O cliente foi muito às compras durante a pandemia. Tirando os 45 primeiros dias, a partir de meados de maio a procura foi subindo cada vez mais”, destaca o sócio diretor da Brain Inteligência Estratégica, Fábio Tadeu Araújo. Segundo ele, o aquecimento no mercado pela mudança de imóveis tem uma principal característica: a busca por bem-estar.

Conforto é prioridade

Não há uma uniformidade no fluxo de buscas por imóveis, uma vez que depende de fatores relacionados à renda familiar e a outras demandas particulares. Enquanto para alguns mais qualidade de vida significa um apartamento maior, ou até mesmo uma cobertura, para outros é uma casa com quintal em ambientes mais verdes, ou ainda um imóvel em um condomínio residencial. Independentemente do espaço, o que uniformiza essa procura é o desejo por maior bem-estar. “Isso é positivo para o mercado porque significa que nenhum tipo de produto está restrito, você tem que pegar os atributos que o seu empreendimento têm que são relacionados a mais bem-estar e qualidade de vida e ressaltá-los na hora da venda”, explica Araújo.
 Maior conforto e bem-estar nos ambientes são fatores que influenciam a escolha por um imóvel. Na foto, o apartamento decorado do MAI Terraces Barigui.
Maior conforto e bem-estar nos ambientes são fatores que influenciam a escolha por um imóvel. Na foto, o apartamento decorado do MAI Terraces Barigui.
Uma das tendências apontada na busca por bem-estar nos imóveis, sobretudo nas classes mais altas, foi a procura por casas mais afastadas do centro, em geral, sem abrir mão de segurança, em condomínios fechados. Segundo Araújo, a tendência veio acompanhada não só da aspiração por mais espaço físico para a família, mas também por ambientes verdes em quintais no próprio terreno ou nos espaços de uso comum do condomínio.
Porém ainda é cedo para avaliar mudanças concretas nos projetos imobiliários, uma vez que não se sabe quais hábitos trazidos pela pandemia vieram para ficar e quais são passageiros. Entretanto, o que é ressaltado pelos especialistas é que fatores voltados ao bem-estar e à qualidade de vida têm sido mais levados em consideração quando se pensa no futuro imóvel. Nesse sentido, como explica o diretor de incorporação da Laguna, André Marin, a pandemia é um fator que intensifica preocupações já existentes das construtoras no desenvolvimento de projetos. “A gente tem apostado muito nisso, em como levar mais conforto e bem-estar para as pessoas. De uma forma geral, a pandemia serviu para acelerar as mudanças que já vinham acontecendo”, destaca.

Tendências

A partir dessas questões, algumas tendências no mercado imobiliário vêm para planejar a relação das pessoas com os espaços, como o WELL Building Certification, a primeira certificação focada sobretudo no bem-estar humano nos edifícios. Diferente de outros selos internacionais voltados à arquitetura sustentável, como os padrões BREEAM e LEED, desenvolvidos para avaliar a relação das construções com o ambiente, o selo WELL se preocupa com a ligação do edifício com o ocupante, com base em onze categorias que avaliam questões como qualidade do ar, água, luz, som, conforto térmico e inovação. “A gente passa 90% do nosso tempo em ambiente interno, seja casa, escritório, carro, então o selo nos faz entender a influência desse ambiente interno na nossa vida”, explica Marin.
O primeiro projeto que contará com o selo WELL no Brasil é o Edifício Pinah, desenvolvido pela Construtora Laguna, em Curitiba, com lançamento previsto para novembro deste ano. Dentre as soluções apresentadas no edifício com o foco em bem-estar está o monitoramento da qualidade do ar, a disponibilidade de água filtrada em todo o prédio e um bosque de araucárias no terreno.
 O edifício Pinah, da Construtora Laguna, é o primeiro projeto brasileiro a receber o selo WELL, voltado ao bem-estar.
O edifício Pinah, da Construtora Laguna, é o primeiro projeto brasileiro a receber o selo WELL, voltado ao bem-estar.

Home office adaptável

Uma das mudanças mais significativas dentre os efeitos da pandemia foi a adaptação da residência como espaço de teletrabalho. Essas, que não foram feitas para serem escritórios, tiveram os quartos, salas e varandas rearranjadas ergonomicamente para atender às novas necessidades. Porém, segundo a pesquisa qualitativa desenvolvida pela BRAIN, ADIT e Secovi-SP realizada entre julho e agosto deste ano com 120 pessoas de diferentes rendas e regiões do país que tinham interesse de compra em um novo imóvel, a conclusão é que as pessoas não procuram no futuro espaço um ambiente exclusivo para home office, mas espaços flexíveis que também possam ser utilizados para trabalho, com ergonomia e sem distração.
 O quarto, além de um espaço de privacidade, tem sido um dos lugares adaptados para home office durante a pandemia.
O quarto, além de um espaço de privacidade, tem sido um dos lugares adaptados para home office durante a pandemia.
Para Fábio Araújo, isso aponta uma tendência no mercado imobiliário, a de que as construtoras passem a incorporar na divulgação das plantas espaços que possam ser configurados de diversas formas e não exclusivos a uma única atividade. “Como adaptar um salão de festas que é utilizado nos fins de semana para que possa ser utilizado como home office durante a semana? É interessante que essa flexibilidade seja incorporada na planta”, explica.

A redescoberta da cozinha

Um dos ambientes da casa que mais recebeu atenção durante a pandemia foi a cozinha. Devido ao isolamento social, muitas pessoas passaram a aventurar-se no fogão de modo a investir na saúde alimentar e tornar a gastronomia uma atividade de lazer para este período. Segundo o estudo realizado pela NutriNet da Universidade de São Paulo (USP) com 10 mil pessoas antes da pandemia, de janeiro a fevereiro, e durante, em maio, houve um aumento de 40,2% para 44,6% no consumo de comidas saudáveis. “É momento de relaxamento, quando acabam as reuniões e lives é a hora de ir para cozinha, fazer algo gostoso para a família e comer, por isso foi uma redescoberta”, explica Araújo. De acordo com ele uma tendência na busca pelo futuro imóvel em relação à cozinha é a vontade de integração entre o cômodo e o restante da casa, como sala e varanda, sobretudo pela classe de alta renda, como forma de gerar conforto na união dos ambientes.

Quarto e varanda, os refúgios da casa

O quarto também foi ressignificado durante a pandemia. Se antes era um espaço destinado para dormir, agora, mas do que isso. tornou-se um refúgio de privacidade. Como passou-se a dividir com mais intensidade os demais espaços da casa com a família ou outros moradores, o quarto se tornou um espaço de fuga para um ambiente individual. Além disso, em muitos casos, o quarto tornou-se o próprio espaço de trabalho em home office, mesmo que adaptado na cama ou em uma mesa improvisada.
As novas normas colocaram toda a atenção para dentro de casa, e os resultados são adequações nos espaços internos e buscas por moradias que atendam às novas demandas de conforto da família.
 Varandas, quintais, sacadas e outras áreas abertas nunca foram tão demandadas quanto agora.
Varandas, quintais, sacadas e outras áreas abertas nunca foram tão demandadas quanto agora.
Enquanto isso, as varandas e quintais tornaram-se ambientes de respiro e relaxamento, espaços para recarregar as energias em mais contato com o ambiente externo. Nesse sentido, os espaços naturais têm sido valorizados nos novos imóveis, seja nas sacadas verdes planejadas, seja trazendo as plantas para dentro das residências. “A varanda virou o respiro, de ver a vida lá fora, tomar um ar, um sol, coisas que se tornaram muito importantes”, reforça Araújo.

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