Opinião: a importância dos jardins, praças e outros “respiros urbanos” para as cidades

Key Imaguire Junior
20/09/2018 13:51
Thumbnail
Como circulador pedestre urbano – seria mais chique dizer “flâneur” – muitas vezes me intrigam áreas desconhecidas, difíceis de entender: vazias, baldias, abandonadas. O que existe ali? Não me refiro apenas a terrenos sem construção – esses, para além do muro, é fácil supor uma casa em ruínas, um reinado de ervas espontâneas, arbustos e mesmo árvores, insetos, passarinhos. São pequenos respiros do solo entre tanta área impermeável – com os quais simpatizo bastante. Resistem ao adensamento e verticalização bravamente, à espera de melhores dias para as cidades…
Intrigam-me em especial – e é só um exemplo – aquelas áreas de fundos de terrenos: a frente, é ocupada por construção, mas quanto aos fundos, o quê acontece lá? Se pensarmos em todos os fundos de uma quadra, teremos uma área bastante representativa.
Quando o terreno tem a infelicidade de ser transformado em estacionamento, tem uso integral – apesar da ilegalidade da impermeabilização total. As áreas vazias, nas fotos aéreas, fáceis de achar na internet – são espaços sem compreensão imediata.
A paisagista Claudia Canales deu alma de interior aos fundos de uma casa com diversas flores e árvores frutíferas
A paisagista Claudia Canales deu alma de interior aos fundos de uma casa com diversas flores e árvores frutíferas
Observem, do alto de um novo edifício, esses – ainda é, acho, a denominação oficial – miolos de quadra. É penalizador imaginar que desaparecerão essas áreas de quintais com árvores, discretos jardins floridos, hortas, uns poucos animais que têm aí sua última oportunidade de sobrevivência.
É de desejar que esses “vazios” urbanos sejam perdoados – isto é, tratados, cuidados, acarinhados, mas não construídos, impermeabilizados, integrados ao já excessivo volume construído.
Há muitas maneiras de fazer isso – seria o caso de viabilizar um uso para essas pequenas áreas, que são protegidas do tráfego pelas edificações. Já há idéias e exemplos de ações interessantes nas maiores cidades.
Tal como a preservação cultural, a ambiental confronta muitos interesses e qualquer ação é muito complexa, seja do ponto de vista jurídico seja administrativo da cidade.
Mas, fazendo e errando, fazendo e acertando, com persistência e discernimento, não seria um dos caminhos para amenizar a rigidez, a hostilidade, a aridez das nossas cidades? Alinhar ações com os “pocket gardens”, as hortas comunitárias, os jardins verticais e outras frações de boa vontade para com o meio ambiente… a médio prazo, não tornariam nossa vida urbana menos neurótica e menos competitiva?

LEIA TAMBÉM

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!