Opinião: vida contemporânea padroniza estilo de vida e torna as casas cada vez menores

Key Imaguire Jr.
12/07/2018 11:00
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Foto: Key Imaguire Jr. / Acervo pessoal

Menos, menor, mínimo…

Quando tudo isso começou? Ainda nas primeiras décadas do século 20, construíam-se belas e espaçosas “villas” burguesas. Mesmo a classe média, vivia em casas bastante bem dimensionadas. Todo esse conforto está sendo transformado em clínicas, escritórios de advocacia e restaurantes, com reformas desfiguradoras – fica difícil até entender o que as pessoas faziam com tanto espaço disponível. E isso, mesmo tendo em conta que as cidades eram menores e as famílias, maiores.
Certamente que esse é um fator primordial: mais gente querendo morar nos mesmos lugares. O Modernismo na Arquitetura assumiu essa tendência: as moradas, aí pela metade do século passado, eram relativamente grandes – mas empilhadas, os apartamentos eram espaçosos como casas.
Foto: Key Imaguire Jr. / Acervo pessoal
Foto: Key Imaguire Jr. / Acervo pessoal
Enquanto o lucro das imobiliárias subia à estratosfera o ser humano assistia à redução de seus espaços individuais, em número e dimensões. Houve uma contração na esfera das atividades individuais: mais gente numa cidade significa vida mais competitiva, centrada no ganha pão, circulação congestionada, lenta, e menos tempo para as atividades caseiras, individuais. Então, menos espaço para elas.
A tecnologia trabalhou muito nessa direção: aparelhos elétricos, depois transistorizados, depois digitais são fortemente encolhedores de espaço. É possível e até fácil administrar uma empresa com um note-book na mesa da cozinha. Ou, mais dentro do espírito neo-liberal, de dentro do automóvel.
É comum a alegação segundo a qual a socialização também se afasta do espaço individual: pode-se passear num parque cheio de gente ou desenvolver atividades culturais e artísticas em instalações públicas, mais bem equipadas que uma biblioteca ou atelier caseiro. Mas isso se faz ao custo de comprimir e padronizar a criatividade. A sociabilidade está acontecendo no shopping, no supermercado, nos espetáculos – ou nos bares, cada vez mais numerosos. Donde, não é preciso ter sala de visitas nem de jantar em casa, mesmo porque os convidados não têm onde estacionar seus carros com tranqüilidade.
Claro, a variabilidade das necessidades humanas é enorme: sempre houve e ainda há quem viva num barco, num vagão de trem, numa cela de mosteiro, num quarto de pensão, numa kitinete. Ou numa caverna no deserto, comendo gafanhotos. Mas não se pode supor essa gente como parte substancial da população de uma cidade. Cada um sabe onde lhe dói o calo, dizia minha avó. Ou onde lhe falta ou sobra espaço para morar…

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