O quadro e o painel

Key Imaguire Junior
19/03/2016 01:00
Thumbnail

Foto: Eduardo Nascimento/Acervo pessoal.

O painel está para a cidade como o quadro está para a casa: preenche um vazio inexpressivo com formas sugeridas por ideias. Podendo acontecer que as próprias formas sejam ideias.
Desde os primórdios modernistas, os arquitetos se preocuparam com as grandes superfícies que não havia como evitar em projetos típicos do século 20. Um dos ícones da modernidade brasileira – e internacional – foi o edifício do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, para o qual Portinari desenhou painéis de azulejos até hoje admiráveis.
É evidente que os painéis não são invenções do modernismo. Sempre existiram como complemento das grandes obras de arquitetura. Mas para os arquitetos modernistas, às voltas com construções cada vez maiores e paredes cada vez mais intermináveis, foi uma questão doutrinária: integrar com as artes plásticas, inserindo painéis e esculturas nos espaços projetados. Tanto interna quanto externamente, a participação dos artistas torna-se imprescindível.
Não é preciso citar o grupo dos muralistas mexicanos – Siqueiros, Rivera, Orozco – para se ter ideia de até onde se pode ir nessa integração e conivência. E nem foi só de grandiosos edifícios públicos que os painéis participaram: também prédios institucionais e residenciais passaram a convocar os artistas, com resultados espaciais culturalmente mais ricos.
Antes mesmo do “menos é mais” dos modernistas radicais se tornar cansativo e ser questionado, os arquitetos já haviam percebido que os paredões urbanos eram opressivos e chapantes como cabeças sem pensamentos – e começado a aplicar a elas texturas e formas.
O painel não só pode como deve transcender o aspecto ornamental e chegar ao monumental: quando bem resolvido, tem a representatividade potencializada. Pensemos, uma vez mais, nos mexicanos. Não significa usá-los como fizeram os regimes autoritários, doutrinariamente, o que seria rebaixar a arte ao nível da demagogia dos ufanismos oficiais.
Por grandioso e bem realizado que seja, como toda obra humana, o painel requer manutenção – ele pode ser apagado pelo tempo ou ter sua visibilidade comprometida pela agressividade imobiliária.
As dimensões favorecem a ele uma possibilidade de leitura sequencial – como um gibi gigante. Essa qualidade lhe é quase congênita: já existia nas formulações egípcias e, em toda a história da arte, variando o suporte e as composições determinadas pela técnica de execução, os painéis são contadores de histórias e de história.

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!