História das “telhas feitas nas coxas” revela ignorância nacional sobre arquitetura

Key Imaguire Junior
16/11/2017 13:00
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Foto: Mark Heard/ VisualHunt

Telhas nas coxas

Talvez a arquitetura seja, além de uma uma das mais importantes, uma das mais desconhecidas áreas da nossa cultura. Depois de esclarecer em aulas, textos, e até ter feito viagem para evitar a propagação de uma bobagem recorrente, volta e meia temos conhecimento de que persiste a desinformação e o que é pior, por parte de pessoas que não poderiam ser o “mosquito transmissor” de tal tolice.
A mais recente foi uma professora, levando — o que é muito louvável – seus alunos para visitar a Casa Romário Martins, mas semeando seu desconhecimento nas jovens cabecinhas. À entrada, afirmou que o beiral era uma beira-seveira — quando se trata de uma cimalha. Mas dá para relevar, afinal os dois termos são incomuns e fáceis de confundir. Mas o que não dá para perdoar, é a afirmação seguinte: “essas telhas eram feitas nas coxas pelos escravos. Por isso, quando vocês fazem coisa malfeitas, se diz que fizeram nas coxas”.
O tamanho da telha revela de imediato a impossibilidade de ter sido feita nas coxas, como alguns propagam
O tamanho da telha revela de imediato a impossibilidade de ter sido feita nas coxas, como alguns propagam
Vamos amenizar a ignorância dessa professora: temos visto gente ligada à área de preservação fazendo essa afirmação. Até mesmo, painéis do Iphan em uma igreja restaurada em Goiás. Professora, a senhora pensou, por um minuto que seja, no tamanho dessa bobagem? Tem um mínimo de conhecimento do que tenha sido o escravismo? Será que um senhor de engenho ou de lavras compraria um escravo — que não custava barato — para fazer telhas nas suas coxas e deixá-lo dormindo ao sol, esperando a secagem?! Além do mais, professora, uma simples olhada para essas telhas mostra a impossibilidade da sua afirmação. Segundo cálculos do maior telhadólogo brasileiro, o professor José LaPastina Filho, para fazer uma dessas telhas, um escravo deveria ter, como altura mínima, 3,50 metros! É, três metros e meio, um gigante que não caberia em pé na sua casa!
Louvo suas boas intenções ao proporcionar essa bela experiência espacial aos seus alunos, mas ela se neutraliza com informações erradas. E, sempre como atenuante, devo dizer que essa pergunta me é feita em palestras e conferências em universidades: – É verdade que essas telhas os escravos faziam nas coxas? Está ficando difícil manter a calma nessas situações, professora. Por favor, se informe melhor. Ou vai acabar lhe acontecendo o que em certa ocasião, usei como resposta a essa pergunta: havia uma telha capa-e-canal nas imediações, fui buscá-la para que algum estudante conferisse o tamanho da bobagem com o tamanho da telha…
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