Dia das Crianças

Decoração

Além dos brinquedos: como tornar os ambientes lúdicos e com estímulo à autonomia das crianças

Bruno Gabriel, especial para HAUS
07/10/2020 20:02
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Desenvolver um ambiente acolhedor para as crianças vai muito
além da inserção de elementos coloridos e brinquedos em um espaço. Isso porque o
modo como uma criança se vê inserida em um imóvel terá relação direta com o desenvolvimento
de sua autonomia e também com a sensação de pertencimento àquela família. É o
que garante o casal Aurélia e Eduardo Schneck, sócios da Fabular, marca
responsável pelo desenvolvimento de projetos para crianças.
“É uma das necessidades básicas do ser humano. Somente quando a criança se sentir segura no ambiente é que vai desenvolver os estímulos para aprender”, explica Aurélia. O casal, que utiliza o método montessoriano para o desenvolvimento de projetos, afirma que são os pequenos detalhes que fazem a criança se sentir acolhida em um espaço. “O quarto é projetado para ela, mas e o resto da casa? Geralmente na sala não há nada que seja lúdico e o espaço dos filhos fica restrito ao quarto deles”, afirma Eduardo.
Para que uma integração verdadeira aconteça, o indicado é que exista um equilíbrio entre os espaços individuais e os ambientes de convívio coletivo. Segundo Eduardo, a maneira mais fácil de tornar uma casa mais lúdica é realizar pequenas adaptações por diferentes cômodos. “Inserimos pequenos locais para a criança por toda a casa. E podem ser mudanças com matérias simples, com o que já temos”, sugere.

Da casa mais acessível...

Para Aurélia e Eduardo, o olhar atento ao ambiente deve ter início pelo quarto da criança, que precisa se enxergar como a protagonista desse espaço. “É por aí que começamos a estimular a autonomia, a liberdade e o sentimento de pertencimento”, diz Aurélia. A sugestão é de que os quartos sejam feitos a partir da perspectiva do pequeno. “Os brinquedos e o roupeiro quase sempre estão no alto, além de que a criança não consegue sair sozinha da própria cama. Ou seja, pode ser um quarto bonito, mas não é acessível”, explica Eduardo.
Desse modo, no quarto, o primeiro passo seria colocar cama, móveis e objetos ao alcance da criança. Além disso, um mobiliário divertido e funcional pode ensinar mais sobre o senso estético, o que envolve até mesmo a descoberta de texturas e o treinamento do olhar a partir de nuances de cores.
Criar projetos nos quais a criança não dependa do adulto para coisas pequenas é a marca de Aurélia e Eduardo Schneck
Criar projetos nos quais a criança não dependa do adulto para coisas pequenas é a marca de Aurélia e Eduardo Schneck
Na sala, o casal sugere a organização de um cantinho de acordo com o estilo de vida da família e seus gostos. Nesse momento, são muitas as opções: cabaninha, área de artes para desenhar e pintar, espaço musical, cantinho de leitura com almofadas e os livros preferidos da criança. “É importante não deixar tudo no quarto da criança, mas dividir pela casa para que a criança possa fazer atividades junto com os adultos”, aconselha Aurélia. Outra solução simples e eficaz é disponibilizar uma mesa menor, adaptada, que faça a criança assimilar a ideia de que também faz parte daquele espaço.
Na cozinha, disponibilizar móveis que facilitem o acesso tanto à água, quanto aos lanches e frutas incentivam que a criança busque isso sozinha. Um banquinho seguro nessa região também é indicado para que a criança possa participar de tarefas do cotidiano, como lavar a louça e participar de algumas receitas.
No banheiro, um banquinho parecido com o usado na cozinha pode ser útil para que os pequenos possam lavar a mão e escovar os dentes sozinhos. “É uma conquista para eles, se sentem capazes. Isso mexe na autoestima da criança, o que se reflete na vida adulta”, diz Aurélia.

... ao quarto mais lúdico

De acordo com a designer de interiores Natália Castello, responsável pelo Studio Farfalla, especializado em ambientes infantis, os itens que a criança já tem podem ser a chave para deixar o ambiente mais lúdico, se forem organizados adequadamente. Nesse sentido, escolher alguns brinquedos para deixar em exposição é uma boa alternativa. O mesmo pode ser feito com acessórios que sejam visualmente interessantes.
Inserir papel de parede ou adesivos também é um ótimo recurso, principalmente se a ideia é dar uma cara nova ao ambiente gastando pouco.
O papel de parede foi usado para dar ar lúdico ao ambiente projetado por Natália Castello
O papel de parede foi usado para dar ar lúdico ao ambiente projetado por Natália Castello
O reposicionamento de móveis dentro do espaço funciona como uma boa opção, segundo Natália. “Além de não demandar dinheiro, a reestruturação do layout do quarto dá a sensação de um ambiente novo e diferente para a criança, o que pode ser bem positivo”, assegura.
A designer ainda aconselha o investimento em itens básicos e acessíveis, como organizadores de brinquedos e prateleiras de livros. O uso das cores, segundo ela, também é um elemento que pode ser bem trabalhado, principalmente na marcenaria. Além disso, pensar em elementos decorativos, como quadrinhos, tapete, luminária, almofadas e enxoval é primordial. Enquanto as luminárias podem ser peças essenciais para crianças que têm medo do escuro, tapetes podem possibilitar brincadeiras no chão. “Mas é importante que tudo isso seja prático e de fácil manutenção”, diz.
O uso de cores é um recurso trabalhado pela designer de interiores Natália Castello para trazer ludicidade
O uso de cores é um recurso trabalhado pela designer de interiores Natália Castello para trazer ludicidade
Para ambientes maiores e com mais recursos, Natália indica a inserção de beliches com paredes de escaladas, passagens secretas ou escorregadores, que proporcionam uma sensação de maior diversão ao ambiente. “Claro que nada é obrigatório dentro de um quarto, até porque nem toda família pode investir em todos os itens. O essencial é entender quais são as prioridades no momento”, aconselha Natália.
Como o investimento nos quartos de crianças é muito alto, Natália chama a atenção para a utilização de elementos que possam ser modificados ao longo do tempo. Um exemplo é a bancada, que mesmo tendo altura padrão mais alta, pode receber outra encaixada embaixo por um período de tempo. Tampos reguláveis também podem ser úteis nesse sentido. Outro aspecto possível é a utilização de cores neutras no mobiliário padrão, para que os tons vivos apareçam em objetos mais fáceis e baratos de trocar, como decoração, papel de parede e almofadas.

Individualidade x quartos compartilhados

Embora toda a casa precise estar adaptada à criança, o
quarto acaba sendo o espaço em que a criança precisa se sentir mais acolhida.
Isso porque além de trazer benefícios para o sono e para a autoestima, pode ser
uma das primeiras oportunidades para ela revelar seus traços individuais e
capacidade de escolha.
“Se é a criança que vai estar no quarto, é ela que precisa se sentir bem. Então, dependendo da faixa etária, é preciso ter liberdade para tomar pequenas decisões, desenvolvendo autonomia”, explica Eduardo, sócio da Fabular. Ele exemplifica usando a escolha da cor de uma parede: os pais limitam as opções a duas, mas deixam a decisão final para a criança. “São microdecisões que vão fazer com que a criança arque com as consequências", completa.
Para quartos compartilhados, Natália Castello busca respeitar a individualidade de cada criança no ambiente de dormir
Para quartos compartilhados, Natália Castello busca respeitar a individualidade de cada criança no ambiente de dormir
A designer de interiores Natália Castello concorda. Para
ela, é possível considerar o que pede uma criança, sempre filtrando o que é
viável, mas consideramos atividades, esportes e brinquedos favoritos. Em caso
de quartos compartilhados, no entanto, isso requer maior atenção, pois é
preciso respeitar a identidade e os desejos de cada criança. Natália explica
que a solução é criar espaços menores, mas individualizados, que tragam as
cores favoritas de cada um e diferentes detalhes de marcenaria. “Em um mesmo
quarto, temos espaços compartilhados, como a mesa de estudos, mas dependendo da
área útil disponível, um cantinho personalizado é totalmente possível”, diz.

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