Logo depois que os primeiros lisboetas pisaram em terras brasileiras, o pau-brasil virou coisa rara. Mas não foi disputado por sua madeira. Recebeu atenção dos europeus por ser um reservatório de corante vermelho natural em pleno século 16, quando o pigmento era de difícil extração, de alto valor comercial e restrito ao uso da realeza. Depois da industrialização, quase todas as tintas e corantes se tornaram sintéticos no mundo ocidental.
Mas, desde o fim da década de 1960, algumas empresas europeias, como as alemãs Aglaia e Biofa, têm tentado resgatar o costume de tirar as colorações da natureza. Ao contrário das sintéticas, que utilizam substâncias derivadas do petróleo, as tintas naturais são produzidas a partir de insumos de origem vegetal ou mineral, como a terra, o óleo de linhaça, o silicato, o cimento e a cal.
Com o passar dos anos, as tintas naturais provaram ser uma alternativa sustentável e tão eficiente quanto as tintas convencionais. Por aqui, apesar de ainda ter uma tímida participação no mercado, as tintas naturais já colecionam adeptos.
Antídoto para a umidade
A primeira vantagem da tinta natural é ser livre de substâncias tóxicas à saúde humana, como os compostos orgânicos voláteis, conhecidos pela sigla VOCs. Eles estão presentes nas tintas convencionais devido a sua natureza sintética e demoram até cinco anos depois da aplicação para evaporarem completamente. Como lembra o engenheiro civil Eloy Casagrande Junior, que leciona na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), se o ambiente não for devidamente ventilado, os VOCs podem ser inalados e, em longo prazo, causar fadiga, confusão, alergias e até câncer.
Com as tintas naturais isso não acontece. Nem problemas com umidade. “Enquanto as tintas comuns selam a parede, formando uma película uniforme que estoura com o tempo por reter a umidade, as tintas naturais têm microporos que permitem a difusão do vapor d’água e a respiração da parede”, explica o consultor de produção, uso e aplicação de produtos ecológicos Marcio Augusto Araújo.
As irmãs Letícia e Valéria Achcar, responsáveis pelo desenvolvimento da tinta Solum, uma das principais marcas nacionais de tinta à base de terra, destacam que, a fim de evitar mais problemas com umidade, também é aconselhável fazer drenos contrários à parede e proteger os muros externos com rufos. Dessa forma, a probabilidade de infiltrações diminui consideravelmente.
Cuidados
Apesar de a formulação das tintas naturais ser diferente das que se encontram nas prateleiras das lojas, visualmente o resultado final é bastante semelhante. E o preço também é o mesmo das tintas convencionais de alto padrão, variando de R$ 95 a R$ 250 o balde de 18 litros.
Os cuidados com aplicação variam de produto para produto. Algumas são líquidas e só precisam ser misturadas. Outras vêm em pó e precisam ser dissolvidas. No caso da manutenção de cores claras, Letícia aconselha lavar a parede com o lado mais delicado de uma esponja úmida. Para as cores escuras, é só utilizar o lado mais seco.
SERVIÇO | Tintas Bautech; Biofa; Italit; Organum; Solum, Produção Oficina de Arte & Restauro, Rua Moysés Marcondes, 592, (41) 9213-0632. Mercado das Pulgas, Avenida Silva Jardim, 57, (41) 3342-5673.