Decoração

Entrevista: designer Karim Rashid

Daliane Nogueira
06/10/2011 03:32
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Cores e formas assimétricas são a essência do design praticado por Karim Rashid. Filho de pai egípcio e mãe inglesa, o designer foi criado no Canadá e está radicado em Nova York.
Defensor do design democrático, ele – que participou da House & Gift Fair, que aconteceu em São Paulo – afirma que esta é a arte que melhor expressa o momento, transformando o convívio social e facilitando o dia a dia. Com isso em mente, desenhou mais de dois mil produtos (incluindo objetos de decoração, roupas e eletrônicos), além de grandes hotéis, em mais de 20 anos de carreira.
Como você encontra inspiração para o seu trabalho?
A inspiração é cumulativa. Sou inspirado por minha infância, os professores que tive, as cidades que visitei, os livros que li, as artes que vi, as canções que escutei, cada cheiro, cada sabor, sons e sentimentos. Mas no dia a dia do trabalho eu gosto de esboçar. Geralmente a lápis. Acho que é melhor para manter minhas ideias iniciais soltas e orgânicas. Esboçar me oferece a possibilidade de transformar vários pensamentos em traços rapidamente. Acho que nunca abrirei mão dos esboços. Em seguida, minha equipe transforma esse material usando programas de computador em 3D. O trabalho no computador ajusta e aperfeiçoa a apresentação do produto final.
Sua marca é a inovação. Quais as qualidades para ser um bom designer?
Design muda a nossa vida cotidiana, nossa comodidade e os nosso comportamento. Bons designers devem pensar simultaneamente nos métodos de produção, materiais, interface humana, tecnologia, conforto, comportamento, forma, estética, custo, montagem, uso e, o mais importante, na cultura da empresa com a qual se está trabalhando. Se não há um casamento da sua ideologia com a da empresa, o trabalho não será bem sucedido. Design não é um ato egoísta, é uma colaboração. Design é arte democrática.
Você costuma dizer que sua missão é tornar o design mais democrático. Como você trabalha para isso?
O design é um assunto público. Eu fiz disso minha missão há mais de 20 anos e tento fazer tudo o que está ao meu alcance para propagar o design de qualidade. Felizmente outros tantos tiveram o mesmo pensamento, especialmente a mídia e empresas com grande alcance como Nike, Apple e outras. Não há nenhum problema em consumir objetos luxuosos, mas as coisas do cotidiano devem ser simples, bonitas, agradáveis, com boa performance e interessantes. Os tempos estão mudando e eu tenho procurado empresas com uma forte orientação conceitual, que criem produtos que façam sucesso sendo originais e bonitos. Eu realmente acredito que a poesia de nossa paisagem física é completamente fundamental para o nosso bem-estar e trabalho para convencer as empresas que o design tem esse poder humano de mudar o nosso comportamento e nossa vida. Existem várias maneiras de disseminar o design. A minha é desenhando produtos. Outros escrevem, ensinam e também contribuem para um mundo melhor, mais bonito, mais poético, mais contemporâneo e mais experimental.
Qual o produto que você ainda não desenhou e gostaria de fazer?
Eu adoraria projetar tudo o que entra em contato com os seres humanos, especialmente quando eles têm um grande impacto na psique e nas experiências das pessoas. Eu sempre gostei das áreas periféricas de design. Tenho carinho por coisas que foram consideradas altamente banais: latas de lixo, interruptores de luz, bueiros. Hoje, o mercado exige que tudo tenha design. As industriais estão se aventurando em novos territórios, trazendo estética elevada e mais desempenho, ao remodelar um objeto que já foi considerado apenas útil ou um produto da engenharia. Esses objetos, como radiadores, condicionadores de ar e outros, podem ser redesenhados com a inclusão de conexão humana e aparência artística.
Como a cultura egípcia influencia seu trabalho?
Saí do Cairo ainda muito jovem, por isso não posso falar com a experiência de artistas e designers que vivem e são inteiramente criados no Oriente Médio. Cresci em várias partes do mundo, por isso me sinto universal e não parte de uma cultura qualquer. Isso me dá senso de liberdade. Tenho raízes egípcias, mas minha família me ajudou no pluralismo como designer.
Você gosta de rosa. Por que essa é a sua cor favorita?
Rosa é enérgico, envolvente e usá-lo é uma forma de mostrar-se corajoso em um mundo masculino. Existem variações e tons de rosa para todos os gostos. Essa cor comunica claramente a ideia de imaterialidade e otimismo. O rosa é o novo preto!
Qual é o melhor momento do dia para criar?
Logo ao acordar, ao lado da minha esposa, e acompanhado da primeira xícara de café. É o cenário perfeito para as melhores ideias.
Existe algum arquiteto e designer que você aprecia muito? E arquitetos brasileiros?
Um dos meus edifícios favoritos é o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, do Oscar Niemeyer.
Você foi DJ nos anos 1970 e 1980. Quais os tipos de música que gosta?
Quando era adolescente, adorava funk, mas estudei em um colégio no qual o rock dominava. Depois trabalhei em lojas de discos e comprei muitos álbuns de jazz. Acabei vendendo todos os discos por US$ 4 mil, para alugar um loft em Nova York e abrir meu próprio escritório, em 1993, em Manhattan. Nessa época eu não tinha um tostão!
Agora tenho dois iPods 160GB com dezenas de milhares de canções. Assim eu escuto uma gama muito ampla de músicas. Enquanto escrevo para você, que está aí no Brasil, estou ouvindo as trilhas sonoras que John Carpenter compõe para seus filmes de terror lado B – como A Coisa e O Nevoeiro. Gosto de uma eclética mistura de música eletrônica, lounge, punk, hip-hop e jazz.
Eu não acho que eu sou um grande DJ, mas gosto de discotecar ocasionalmente. Toquei em eventos especiais em museus como o Guggenheim (em Nova York) e nas aberturas de minhas exposições. A música me oferece concentração e imaginação. É uma parte essencial do meu processo.

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