Decoração
Fábricas dos novos tempos
Os escritórios compartilhados deixaram de ser ponto de passagem e se transformaram em pontos de permanência. Foto: Mel Gabardo / Gazeta do Povo
Achar uma boa solução em design é como resolver um crime: você pesquisa, traça linhas de investigação e elimina algumas ideias até sobrar a mais adequada. A resposta sempre está lá e o trabalho dos profissionais envolvidos é achá-la. Só muito raramente algo surge de um momento eureca. Esse é um dos ensinamentos do arquiteto britânico Thomas Heatherwick, considerado por muitos como a nova face da arquitetura inglesa e o novo Da Vinci do design. Mesmo de maneira inconsciente, os escritórios compartilhados seguiram essa diretriz à risca. Embora o objetivo dos espaços de coworking não seja criar sacadas inovadoras em design por si só, esses escritórios desenvolveram saídas diferentes em prol da organização e da maximização dos negócios. A Haus visitou os principais espaços de coworking de Curitiba e separou algumas soluções inspiradoras.
Soluções nada ortodoxas
A Workset Coworking tem algumas soluções curiosas. Depois de passar por outros ambientes de coworking, a empresária Jennifer Schew, 29 anos, sentiu falta de um pequeno ambiente privado onde pudesse tratar de assuntos pessoais. Quando abriu a Workset em 2012, mandou construir cabines telefônicas vermelhas, como as inglesas, para qualquer funcionário poder conversar ao celular sem incomodar ou ser incomodado. A sala de diversão que também serve como sala de reunião ou de brainstorming também chama a atenção de quem visita o local. As paredes do cômodo são forradas por centenas de páginas de histórias em quadrinhos. As folhas foram coladas com cola branca e depois receberam verniz amarelo. Tem Homem-Aranha, Hulk e X-Men para todos os gostos.
Arquitetura como estímulo à criatividade
Para a Nex Coworking, localizada em um prédio histórico do Batel, a cultura de cada profissional trancafiado em sua sala, sem interação, é coisa do passado. “O isolamento sufoca os empreendimentos”, explicam o designer Guto de Lima, 37 anos, e o jornalista André Pegorer, 31 anos, proprietários da Nex. Por isso, o espaço de 1,7 mil metros quadrados prima pela transparência das paredes e divisórias. Isso proporciona não só um senso de liberdade maior como também uma percepção simultânea das diferentes atividades em andamento. A disposição quase circular do espaço ajuda a criar oportunidades de encontros casuais entre os profissionais (chamados de coworkers). Para alcançar as estações coletivas de trabalho ou os estúdios privativos, passar pelos corredores laterais é obrigatório. Assim, esbarrar em alguém pode vir a calhar e a gerar projetos conjuntos e negócios. Destaque ainda para os coffee-stops, espaços dedicados ao momento do cafezinho que têm assentos com nichos para guardar bolsas, mochilas e livros. “Temos mais de 200 empresas e 400 membros conosco hoje. Isso prova que o coworking não é mais ponto de passagem para quem deseja um escritório próprio, mas um ponto de permanência para quem quer estar conectado”, defendem os sócios proprietários.
Estante da unidade
Na Aldeia Coworking, o primeiro escritório compartilhado do sul do país, em funcionamento desde 2010 no centro da cidade, cerca de 70 profissionais de diferentes áreas dividem o mesmo espaço. Para quebrar a monotonia, dar sensação de unidade entre os ambientes e criar uma atmosfera agradável, o arquiteto Juliano Monteiro desenvolveu uma estante paramétrica de fabricação digital que percorre o escritório de ponta a ponta e cria formas espaciais orgânicas e não regulares dependendo do ambiente. Desse design saem nichos para livros e outros objetos, armários e assentos, e sofás para descanso. As paredes foram concebidas como extensões das mesas. São cobertas por chapas de policarbonato leitoso, onde é permitido escrever e anotar informações importantes para o trabalho. Há ainda o cantinho destinado a compartilhar textos que podem ser de interesse de todos. Qualquer coworker pode imprimir e pendurar o material lá. “Tudo isso ajuda a formar uma rede de inovação que potencializa os projetos”, como afirma o publicitário Ricardo Dória, 29 anos, que comanda a Aldeia.