Decoração

Decoração

Do ferro-velho ao antiquário, “garimpos” dão personalidade extra à decoração

Stephanie D’Ornelas, especial para HAUS
07/02/2020 16:50
Thumbnail
Nem só de feiras internacionais e lojas de decoração se alimenta o design de interiores. Muitos arquitetos buscam inspiração em ferros-velhos e bazares de usados para seus projetos. Com criatividade, é possível reaproveitar e dar novo uso a peças antigas, transformando ambientes residenciais ou comerciais de maneira econômica, sustentável e original.
A arquiteta e designer de interiores Erika Karpuk é uma das entusiastas das velharias. Ela não só transforma e restaura objetos que encontra em ferros-velhos como auxilia milhares de pessoas a fazerem o mesmo. Em 2013, ela lançou seu canal de Youtube (hoje com mais de 270 mil inscritos) com o objetivo de ensinar seus seguidores a colocarem a mão na massa e renovarem suas casas gastando pouco — e, de quebra, minimizando o impacto ambiental.
“Comecei a buscar itens em ferros-velhos e bazares de usados quando comecei a me conscientizar de que tudo que eu indicava em meus projetos causava impacto no meio-ambiente. Hoje eu não procuro móveis novos pra comprar, eu busco os que já existem. Primeiro pelo custo, porque é econômico. Segundo porque pode ter muito mais a sua personalidade em uma peça usada e reformada para você do que em uma nova feita em uma linha de produção. E, por fim, mas muito importante, porque quando você dá vida nova a algo que foi descartado, você deixa de retirar um recurso da natureza. O impacto positivo que isso gera é muito grande”, sublinha Erika.
O design sustentável é uma das bandeiras defendidas pela profissional. “Sempre acreditei na decoração econômica e consciente. As pessoas acham que precisam ter muito dinheiro para ter uma casa confortável e feliz, com estilo. Mas na verdade não precisam, porque podemos reformar o que a gente já tem ou itens antigos que conseguimos recuperar” comenta a designer. E dá um exemplo: transformou uma porta em mesa de jantar. “Uma porta já foi uma árvore, e quando você dá um novo uso para ela, você deixa de tirar outra da natureza”, reflete.
Quer garimpar em um ferro-velho? Erika dá a dica para iniciar o processo: é preciso “desconstruir a perfeição”. “Somos a geração do design perfeito, treinados para enxergar os mínimos detalhes. Não adianta ir para bazares e ferros-velhos com o mesmo olhar de quem vai fazer compras em lojas e shoppings. Também não adianta achar que na primeira vez em um ferro-velho você vai achar mil coisas para comprar. Vá uma vez, treine o olhar, compre uma pecinha. E faça compras de maneira consciente, saia de casa com um objetivo, pensando no que você realmente precisa”, salienta.

Restauração

Após a aquisição de peças antigas, é preciso focar na restauração, que exige cuidados específicos. “É importante ter a consciência de que as coisas em ferro-velho não estão em perfeito estado, não dá para chegar em casa e colocar em uso sem dar o mínimo de manutenção. A limpeza é o primeiro passo. Verifique se não há cupins se a peça for de madeira. Se for de metal e estiver enferrujada, analise se será possível recuperar. É possível renovar muitas peças metálicas antigas passando uma mistura de limão e bicarbonato na superfície, até ela clarear”, sugere Erika.
O arquiteto Givago Ferentz também é fã de objetos antigos e os incorpora nos projetos de seu escritório, localizado em Curitiba. “Para mim, garimpar é um tipo de arte, porque você acaba tendo um olhar diferente sobre algo que era considerado lixo, descartável, e utiliza de outra forma. Isso também é uma questão de sustentabilidade e de economia. Por exemplo, ia fazer um balcão em uma marcenaria que custaria R$ 4 mil, restaurando consegui por R$ 3 mil”, revela.
Além de ferros-velhos, Ferentz busca peças antigas em desmanches e, em alguns casos, dá novo uso até para resíduos de obras que iriam para o lixo. “É preciso ter um olhar de restaurador. Alguns elementos adquiridos nestes locais são cortantes, ou muito pesados. No caso de recipientes de plástico, não sabemos o que foi transportado ali. Temos que tomar cuidado e ter atenção com a segurança”, destaca.
Tambores de ferro-velho foram restaurados e usados como luminárias na cafeteria ‘Mas será o Benedito?’, em Contenda. O projeto é de Givago Ferentz Arquitetura  Foto: Gustavo Lupian / Divulgação
Tambores de ferro-velho foram restaurados e usados como luminárias na cafeteria ‘Mas será o Benedito?’, em Contenda. O projeto é de Givago Ferentz Arquitetura Foto: Gustavo Lupian / Divulgação
Segundo Ferentz, em alguns casos o ideal é buscar ajuda especializada para a restauração da peça. “É mais difícil restaurar sozinho, porque pode ser necessário o uso vernizes e tintas específicas que são tóxicas. Geralmente é preciso usar máscara e proteger as mãos. Procure um profissional habilitado para receber esse direcionamento”, diz.
Leiteiras que integram a decoração do Briele Gelato Italiano, em Curitiba, foram garimpadas no Mercado das Pulgas por Givago Ferentz. Foto: Fernando Zequinão / Divulgação
Leiteiras que integram a decoração do Briele Gelato Italiano, em Curitiba, foram garimpadas no Mercado das Pulgas por Givago Ferentz. Foto: Fernando Zequinão / Divulgação

Decoração com memória

Nem sempre é preciso garimpar fora de casa para encontrar itens interessantes do passado. Muitas pessoas guardam objetos de família que podem ser restaurado e colocados novamente na decoração. A arquiteta Aline Roman busca manter peças especiais vinculadas à memória dos clientes dentro dos projetos residenciais que desenvolve. “Muitas vezes o valor estético e de design de um objeto fica em segundo plano. O importante é a memória do cliente, porque a casa é sobre ele”, afirma. Para a arquiteta, o resgate do passado também é importante pela questão da sustentabilidade. “Eu acredito que o papel da arquitetura, num plano de no máximo 10 anos, não será mais de construir coisas novas. Temos tantos espaços ociosos na cidade, que precisam ser restaurados. Cabe ao urbanista e arquiteto ressignificar essa memória”.
Processed with VSCO with g3 preset
Processed with VSCO with g3 preset
Muitos dos móveis que são utilizados nos projetos que Aline assina são encontrados em antiquários. “Hoje se faz muito uma arquitetura com móveis de MDF colados na parede. Nos antiquários há peças soltas. Um armário pode servir como biblioteca e depois como um louceiro, por exemplo. Isso permite que a casa seja mutável, como todo o ser humano”, diz. Ela resume a origem de seu interesse em objetos do passado: “meu apreço pelas coisas antigas é porque existe um apreço pela memória.”

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!