Já é passado a ideia de que móveis planejados desperdiçam o espaço de casa por não conseguirem se adaptar às medidas de um ambiente. Com alto grau de personalização – e também de personalidade – as marcas de móveis modulares se adaptaram ao mercado e passaram a fazer as vezes do que antes só a marcenaria conseguia: abranger todos os milímetros de um projeto.“Antigamente, se utilizava mais marcenaria porque era a única que fazia sob medida. Agora, são poucas as marcas que ainda trabalham com módulos prontos, sem adaptação”, conta a arquiteta Juliana Matalon, do Estúdio Ela Arquitetura. A profissional aponta que essa modernização foi fundamental para um crescimento do uso dos planejados, que agora alia essa vantagem à praticidade da montagem e à facilidade do atendimento no pós-obra.

Luciana Bazan, à frente da unidade curitibana da marca de móveis de luxo Ornare, explica que esse alinhamento de fatores é um grande diferencial. “São móveis sob medida, industriais e dentro das novas tendências, para não ficar sempre com a mesma cara modular”, conta. Dentro das influências europeias e americanas que mais têm saído no Brasil, ela aponta a camurça e o cobre como duas apostas fortes. Além disso, Luciana destaca que todos os ambientes da casa podem ser contemplados por este tipo de projeto: “A nossa intenção é poder trabalhar atendendo a casa inteira.”

HAUS selecionou projetos que exploram os móveis planejados em diferentes ambientes para mostrar, afinal, como a personalização se tornou palavra de ordem junto aos modulares.

Uma mistura de base neutra com pontos de cor foi o perfil procurado pela arquiteta Viviane Gobbato para um apartamento de 90 m² localizado no bairro paulistano de Moema e projetado para um casal de publicitários. Viviane criou um estilo industrial mesclado a tons pastel: móveis e revestimentos neutros – como concreto e tijolo a vista – com pontos de cor e objetos de decoração com personalidade.

O espaço da varanda, vizinho à sala de estar, fez com que o interior da casa ficasse mais leve, trazendo como solução um jardim vertical de plantas preservadas que ocupa uma parede inteira. O ambiente foi otimizado com móveis da Bontempo, criando um novo espaço de convivência descontraído para a casa. Para a arquiteta, a principal vantagem de trabalhar com móveis de marcenaria industrial é a rapidez na instalação e a possibilidade de projetos personalizados. “Isso torna mais simples a adequação nos ambientes. Outro ponto positivo é a diversidade de acabamentos, com possibilidades de ferragens e puxadores metálicos”, conclui.

O projeto de Andréa Benthien inteiramente planejado com móveis da Todeschini abarca um apartamento de 75 m² no bairro Alto da Rua XV, em Curitiba. O imóvel é dividido em dois andares e seu interior foi pensado para um jovem universitário que mora sozinho e costuma receber pessoas em casa. Para isso, o andar superior reserva um ambiente que pode tanto servir de escritório como de estar íntimo. O terraço foi integrado ao cômodo para otimizar essa área.

O ambiente traz uma mesa que pode receber jogos de tabuleiro ou aperitivos e armários com estruturas metálicas para deixar o espaço de armazenamento mais prático. Todos os móveis têm acabamento em madeira melamínico e tonalidade bege claro, por ser um tom acolhedor. “Em espaços pequenos, você precisa aliar beleza e funcionalidade. Com os planejados, os padrões dos modulares geralmente são na altura e nos tamanhos de gavetas. Se a gente consegue adaptar isso ao projeto, as alterações são mínimas”, explica Andréa.

A decoração é encorpada também pela iluminação: como o projeto tem um perfil mais despojado, a arquiteta trabalhou a ideia de luzes mais cênicas e neon para quando o morador receber visitas.

Já a proposta da cozinha integrada com lavanderia do projeto das arquitetas Juliana Matalon e Carolina Dantas, do Estúdio Ela Arquitetura, traz os modulares como solução para um conceito diferente: um ambiente clean e com o máximo de otimização de espaço. No apartamento de 53m² no bairro Ipiranga, em São Paulo, mora um casal com um filho. Para aumentar a sensação de amplitude, todos os ambientes foram integrados: cozinha e lavanderia estão separadas da sala de estar apenas por uma parede, sem portas.

No espaço reduzido, foram usados móveis da Todeschini, que vão do chão ao teto. Os tons trabalhados foram branco, bege, quartzo branco, para dar leveza, contrapostos a tons de madeira, para aquecer o ambiente. “Nesse caso, nós optamos pelos planejados por ser um espaço pequeno e pela expertise na modulação, conseguindo fazer caber tudo o que era necessário”, afirma Juliana. A profissional aponta também que, com os planejados, a facilidade no pós-obra é maior, enquanto o custo é menor. “Se quebra uma dobradiça ou a maçaneta, o atendimento acaba sendo mais fácil”, relata.

A proposta de uma casa de campo para o lazer da família norteou o projeto de Deborah Roig na cidade de Porto Feliz, próxima de Campinas (SP). O casal e seus dois filhos mantêm a casa para receber visitas e passar finais de semana, momentos nos quais a cozinha se torna o coração de toda a convivência, já que todos têm na gastronomia um hobby. “Era uma cozinha em que todos queriam muito aconchego, que tivesse eletrodomésticos de ponta, mas que tivesse ares do sul da França, o oposto do industrial”, revela a profissional.

Por isso, o projeto trabalhou com a linha Paris, da Ornare, que tem como característica a ideia do “móvel vitrine”: móveis abertos e com vidros que permitem ver o que está guardado – o que Deborah destaca como um diferencial interessante para armazenar as louças. “Essa linha remete a um clima de campo. A tonalidade verde-menta, tranquila e ao mesmo tempo aconchegante, também dá personalidade para o ambiente”. Já a cuba, com desenho também inspirado na França, foi desenhada especialmente para o projeto.

A cozinha também tinha como ponto fundamental uma mesa para receber as refeições, para resgatar a convivência nesse espaço, ao mesmo tempo em que se preparam os alimentos. Por isso, o projeto conta com uma ilha que permite que se utilizem ao mesmo tempo o fogão, a pia e a bancada. Nas vantagens dos planejados, Roig destaca o alto grau de personalização e tecnologia, como a possibilidade de aquecer a bancada.

A reforma assinada pela designer de interiores Andrea Lima em um apartamento de 600 m² em Belo Horizonte buscou a sofisticação como premissa ao trabalhar com mobiliário da Ornare. Espaços para receber os filhos e os netos do casal de moradores foram base para a integração dos ambientes, como a sala de jantar conjugada ao hall à sala de estar, pensando na funcionalidade: ela se torna o ponto de conexão entre o estar e o estar íntimo e foi criada em tons claros para proporcionar as sensações de fluidez e amplitude.

“A minha criação traduziu o desejo constante dos clientes em valorizar o ato de receber a família e os amigos. Uma integração que está representada no projeto por um painel que envolve toda área social do apartamento, iniciando no hall e terminando no estar íntimo”, destaca a arquiteta. A movelaria da marca trabalhou revestimentos como o couro e a laca, trouxe monogramas personalizados com as iniciais dos clientes em puxadores e foi unida a peças de design autoral, como as cadeiras da sala de jantar assinadas por Jader Almeida.

“Consegui dar uma nova leitura e uso para os materiais e móveis produzidos pela empresa, que dão um requinte atemporal ao ambiente”, relata Lima. “O luxo, para mim, é personalizar de acordo com o gosto do cliente, com uma raiz sólida que é o design autoral, com a essência das grandes marcas, mas de acordo com o gosto do morador da casa”.

Desmistificar o conceito de ambiente frio e exclusivamente funcional que recai sobre a lavanderia foi o ponto de partida do projeto assinado pela arquiteta Tatiana Hess. Para isso, ela tirou partido da ampla área do ambiente e fez dele um espaço para a moradora também exercitar seu hobby: a costura.“Lavar roupa [às vezes] é sinônimo de sofrimento, mas aqui o intuito não é este. O espaço foi projetado para que a cliente tivesse conforto ao estar na lavanderia, e que ela funcionasse como uma área de lazer para ela”, resume Tatiana.

Assim, o mobiliário planejado da Simonetto foi pensado para abrigar as duas funções e ocupa as quatro paredes do ambiente. Numa delas, nichos e cabideiros em MDF em dois tons neutros abrigam materiais de limpeza e objetos de decoração e são ‘iluminados’ pelo revestimento em 3D esmaltado em tom laranja. A mesma cor aparece no vidro serigrafado que reveste a frente das gavetas (uma das quais guarda uma tábua de passar retrátil) da mesa de corte e o tampo da mesa que apoia a máquina de costura, na parede oposta.

“O laranja contrasta com os tons sóbrios dos móveis e do piso e faz um link com as luminárias com lâmpadas de filamento em tom de cobre”, afirma. Ao fundo, um armário em “L”, com portas em vidro acidato, serve de depósito e guarda do aspirador de pó às tesouras de poda do jardim.

O mobiliário planejado foi essencial para acompanhar a mudança que a arquiteta e artista visual Ana Mähler e o marido trouxeram para seu estilo de vida. “Quisemos reduzir a metragem e simplificar a vida. Então, mudamos de um apartamento de 300 m² para um de 118 m², o que fez com que norteássemos o projeto em cima de escolhas duráveis, tirando o maior proveito do espaço”, conta a profissional.

O quarto, por exemplo, teve sua área reduzida pela metade, mas ganhou funcionalidade com um projeto com paleta de tons neutros, como cinza, preto e amadeirado, que ganham brilho com a laca bronze do roupeiro. Com portas do piso ao teto e profundidade de 35 cm, ele abriga roupas dobradas e sapa-teira. A peça tem nos puxadores moldados outro de seus destaques. A tonalidade, que também aparece na cortina, aquece e traz sofisticação ao quarto, além de contrastar com o toque rústico da laje aparente do teto.

Abaixo e acima da janela, o planejado da S.C.A. Mobiliário Contemporâneo aparece novamente na forma de um pequeno armário com portas mais altas do que sua estrutura, que dão acabamento ao caimento do tecido, e no cortineiro, que se expande para a parede lateral, onde assume a função de prateleira. “Ela guarda os equipamentos da televisão, dispensando o uso de um aparador e aproveitando melhor o espaço”, explica Ana. O painel ainda se projeta para a área do lavatório, onde faz a vez de forro e marca a integração dos espaços.

Na entrada do quarto, o closet traz portas de correr em vidro fosco cinza escuro e de abrir em laca bronze que mantêm a paleta da área de dormir. Um painel em MDF reveste a parede que abriga a cabeceira da cama, assinada pela arquiteta.

*Aléxia Saraiva e Sharon Abdalla.