Arquitetura

Decoração

Repetição de elementos e integração de ambientes garantem unidade a apartamento de 95 m²

Bruno Gabriel, especial para HAUS
23/09/2020 18:03
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Os tons terrosos surgiram como consequência das escolhas feitas durante o projeto.

Quando um casal optou por reformar o apartamento de 95 m², em Curitiba, não imaginava que dos quatro quartos do projeto inicial, sairia com duas suítes. Essa diminuição do número de cômodos, que pode até parecer estranha, é facilmente justificada por duas ideias bem simples: integração e conforto.
“Para que ter vários quartos em um apartamento se utilizo só um ou dois deles? É muito melhor termos um quarto enorme e uma sala integrada a ele, em um ambiente onde desfrutamos de tudo”, explica o arquiteto responsável pela reforma, Ralf Sperka. Quando iniciou o projeto, Ralf viu que um dos quatro quartos podia facilmente ser incorporado à sala, transformando o cômodo em um amplo espaço de integração.
A ideia de modificar também o terceiro dormitório veio logo na sequência. Junto dos moradores, Ralf enxergou não haver necessidade de um cômodo separado para o escritório. “Se houvesse essa divisão, o quarto de casal ia ficar pequeno, sendo que bastava incorporar o ambiente de trabalho ali”. Com a definição de que o apartamento ficaria com duas suítes, o arquiteto foi ainda mais longe: propôs a inserção de uma porta de ligação entre os dois quartos.
A integração tornou-se, então, ainda mais presente. Com a nova disposição proposta, Ralf ficou livre para criar um guarda-roupas diferenciado, que juntasse os dois quartos ao closet e, ainda, se associasse ao corredor que leva à sala.

Integração como estilo de vida

O arquiteto explica que a ideia de juntar ambientes tem relação com um modo de vida muito mais atual, no qual áreas inutilizadas podem ser evitadas. “As pessoas têm se convencido de que é muito melhor ter a experiência de um espaço amplo do que viver em um quarto apertado por anos à espera da possibilidade de precisar daquele segundo quarto”.
Um dos motivos para esse convencimento pode ser explicado pelo mau uso de metros quadrados úteis em um apartamento, seja por conta de paredes que ficam no caminho ou excessivos espaços de circulação. Ralf afirma que o lado financeiro também precisa ser considerado: “se eu precisar dividir um quarto em algum momento, é muito mais fácil, barato e limpo colocar uma parede de drywall. Custa muito mais barato do que ter um quarto que não será utilizado tão cedo”, garante.
Segundo Ralf, o conceito de integração faz com que não exista uma pessoa isolada dentro de casa. “Pense no tempo que passamos em uma cozinha tradicional. É possível estar em contato com as outras pessoas da casa enquanto estou preparando comidas e bebidas”, pontua.

Repetição de materiais

Outra maneira escolhida pelo arquiteto para conferir unidade ao espaço foi o uso repetido de alguns materiais, o que garante leitura única ao apartamento. A madeira, por exemplo, é amplamente utilizada em diversos ambientes, seja no painel, no piso, na parede ou no forro.
Além da madeira, alguns materiais frios, como as placas cimentícias e o laqueado, têm uso frequente. Desde a sala até a cozinha e os banheiros, as soluções são repetidas várias vezes. “A principal característica é que consegui trazer a unidade ao apartamento: a estrutura metálica do móvel de TV e do escritório no quarto é a mesma solução usada nos dois banheiros, no tampo da pia. Trata-se da mesma estrutura metálica com o mesmo desenho”, conta Ralf.
Seguindo essa mesma ideia da repetição, o painel de chapa de fibrocimento visto na cabeceira da cama também está no lavabo. O mesmo acontece com o revestimento do painel da sala, que é semelhante ao do quarto. Ele sai da sala, passa pelo quarto e chega ao escritório.
Outro elemento usado repetidamente é a luminária no quarto, trabalhada como um conjunto. Para evitar o custo elevado de uma peça maior, o arquiteto optou pela utilização de seis focos mais simples, todos iguais. Juntos, eles causam impacto semelhante ao que um elemento mais caro poderia trazer.
Ralf diz que o segredo para o uso da repetição em um imóvel é seguir as características adequadas a cada local. "São as mesmas soluções para formar um apartamento único. Ou seja, não há ambientes com estilos diferentes. Se eu tirar a parede do quarto e integrar com a sala, tudo continua harmonioso”, garante o arquiteto.

Confira mais detalhes do projeto

Rústico e refinado

Mesmo com harmonia entre os espaços, alguns detalhes chamam a atenção, como é o caso do espelho do lavabo. Peça antiga do cliente, poderia ter passado por uma restauração, mas teve outro destino. “Se deixamos as marcas do tempo no objeto, elas se contrapõem a outros pontos e mostram o nosso estudo. Nada foi colocado sem propósito, assumimos que esse é o nosso acabamento”, diz Ralf.
Para que houvesse o equilíbrio entre o rústico e o refinado na escolhas dos revestimentos, a opção foi o uso de materiais fora de seus lugares habituais. Além do lavabo, isso acontece no caso da pedra para revestimento externo de piscina, que se tornou tampo de mesa, apoiado em uma estrutura metálica. O mesmo ocorreu com as placas cimentícias, que foram usadas como revestimento nas paredes.
O arquiteto explica que tudo foi acrescentado e colocado de forma leve, sem exagero. “A transição entre os materiais não é gritante, o que nos leva a um ambiente calmo e sutil”, explica.

Instalação na sala

Sobre a mesa de jantar, há uma instalação concebida por Ralf Sperka que utiliza luminárias já existentes. “Não queria um ponto de luz em cima, no teto. Por isso, desenvolvi um trilho que permitisse o controle e garantisse a dramaticidade da iluminação”. Utilizando roldanas e contrapesos, as luminárias permitem um jogo de luzes.  Se a intenção é iluminar a sala inteira, os focos são dispostos acima. Se a iluminação é destinada à mesa, basta puxar todas as luminárias para baixo. Como elas não estão ligadas ao teto, mas à parede, funcionam quase como um abajur.

Área íntima

Ao final do corredor, criado pela madeira aplicada na sala, foi inserida uma estante para memórias de viagem, livros e outros objetos de arte. A estante fica na face oposta ao closet, e é nesse ponto da casa que o fluxo é distribuído para os outros ambientes, como o quarto de hóspedes, de casal, e banheiros.

Cozinha

O quarto de serviço foi agregado à cozinha, o que garantiu a ampliação do espaço e a inserção de uma mesa. As luminárias colocadas na estante seriam usadas apenas como decoração, mas passaram a fazer parte da iluminação efetivamente.

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