Decoração

Conheça a Shou Sugi Ban, técnica japonesa de 300 anos que transforma madeira queimada em móveis incríveis

Aléxia Saraiva
18/05/2018 21:00
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Sala de jantar assinada por Janaina Macedo. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi

Pode soar irônico, mas uma técnica milenar japonesa criada para conservar a madeira é novidade e está virando tendência no Brasil. Conhecida por Shou Sugi Ban, ou ainda yakisugi, o método impermeabiliza o material e destaca características próprias através da queima de camadas superficiais da madeira.
Quem explica a origem da técnica é Marco Antonio Zamboni Zalamena, cineasta que morou na Ásia e, lá, entrou em contato com diferentes usos para o material. O Shou Sugi Ban, no entanto, conheceu já de volta ao Brasil, onde aprendeu a técnica e, a partir dela, desenvolveu uma linha de móveis.
Bandeja Oriental Yakiocha, desenvolvida por Zamboni com a técnica do Shou Sugi Ban. Foto: Pinterest/Mochileiromazz
Bandeja Oriental Yakiocha, desenvolvida por Zamboni com a técnica do Shou Sugi Ban. Foto: Pinterest/Mochileiromazz
“Os japoneses começaram a utilizar as madeiras nativas do próprio país na construção civil, como o cipreste japonês. Por serem várias ilhas, o Japão tem muitos problemas com temperatura, umidade, corrosão de matéria prima, e a madeira teve que ser protegida“, explica Zamboni. Ele conta que o próprio nome da técnica tem essa origem: yakisugi significa, literalmente, queima do cipreste japonês.

Queimar a madeira?

O processo envolve quatro etapas: queimar, lixar, limpar e aplicar óleo na madeira. Todos os materiais utilizados por Zamboni foram facilmente adquiridos no Brasil. Para testar a técnica artesanalmente, alguns dos materiais básicos foram maçarico, botijão de gás, serrote japonês, escova de aço e esponja.
A técnica esteve presente na Casa Cor São Paulo 2016, no ambiente Ambiente Hot Spot assinado por Moacir Schmitt Jr e Sálvio Moraes Jr. A técnica foi realizada pela Monte Claro Madeiras. Foto: Marco Antônio
A técnica esteve presente na Casa Cor São Paulo 2016, no ambiente Ambiente Hot Spot assinado por Moacir Schmitt Jr e Sálvio Moraes Jr. A técnica foi realizada pela Monte Claro Madeiras. Foto: Marco Antônio
Com a queima, a madeira pode chegar a inúmeras tonalidades, conforme a intensidade da chama e local de aplicação. Uma das únicas empresas a realizar o processo de forma industrial é a Madeiras Monte Claro, localizada em Campo Magro (PR). A texturização a fogo passou a ser realizada em 2008, como uma forma de valorizar madeiras de reflorestamento.
“O Brasil não valoriza um pinus ou um eucalipto, que teoricamente não são nobres porque não são madeira de lei. Fazendo esse tratamento, você agrega valor. O desmatamento aumentou muito e as pessoas esquecem que esse problema ainda acontece”, destaca Munir Felipe, especialista da empresa e responsável pela técnica. Zamboni lembra ainda que um dos pré-requisitos é que a técnica seja aplicada apenas sobre madeiras sólidas — não funciona, por exemplo, em MDFs.
Felipe conta que, além do valor estético, a técnica agrega as vantagens históricas de proteção do material. “Dessa forma, a madeira se impermeabiliza e impede que seja atacada por insetos”.
O "shou sugi ban absoluto" é o último grau de carbonização da madeira, em processo realizado pela Monte Claro Madeiras. Foto: divulgação
O "shou sugi ban absoluto" é o último grau de carbonização da madeira, em processo realizado pela Monte Claro Madeiras. Foto: divulgação

Casa Cor Paraná 2018

A técnica pode ser observada em um dos ambientes da 25ª edição da Casa Cor Paraná. A Sala de Jantar, assinada pela engenheira civil Janaina Macedo, tem como protagonista uma mesa cujo tampo foi carbonizado.
Antes e depois do processo de carbonização do tampo da mesa do ambiente de Janaina Macedo. Foto: Janaina Macedo
Antes e depois do processo de carbonização do tampo da mesa do ambiente de Janaina Macedo. Foto: Janaina Macedo
Macedo conheceu a Shou Sugi Ban quando procurava sobre outro tratamento na madeira, a ebonização. Foi quando decidiu aplicar a técnica japonesa à mesa. “O que eu achei fantástico é poder escolher exatamente o tom de madeira final. Eu queria bem escura, mas sem o aspecto de carvão, que é o último grau da técnica”.
Foram necessárias quatro queimas até chegar ao resultado desejado — oito horas de trabalho no total. Segundo Macedo, essa é uma tendência que demorou até chegar ao Brasil, mas que já foi observada em Milão e absorvida em outros países. “Como desafio, até por ser a primeira vez, foi descobrir como fazer para que a madeira não empene”, ela conta.

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