
A matéria está em constante estado de transformação. O vidro, material de trabalho escolhido pela artista curitibana Désirée Sessegolo, forma-se a partir da mistura de matérias-primas naturais elevadas a altas temperaturas. Antes de atingir seu resultado final ele se torna maleável, podendo ser moldado em diferentes formas e objetos. E seu ciclo não é finito. Por ser um material reciclável, peças em vidro podem ser reutilizadas e se transformar em novas coisas.
Foi em um processo de transformação que Désirée descobriu o vidro. Há pouco mais de dez anos, a designer sentiu a necessidade de buscar novos interesses e trabalhar com algo no qual pudesse se projetar de forma autoral. “Nessa procura por atuar de forma livre, iniciei em 2008 os cursos de Cerâmica e Vidro do Atelier do Museu Alfredo Andersen. Foi assim que, após um período de trabalho com a cerâmica, encontrei no vidro novas possibilidades de expressão”, conta.
Para a artista, o material tem uma série de qualidades que chamaram sua atenção. Ela o vê a partir de diferentes dimensões: na forma, através da transparência, do brilho e da organicidade que o compõem. Além disso, seu interesse a instigou a testar os limites das técnicas tradicionais. Trabalho de pesquisa que rendeu descobertas inovadoras e que reforçam sua liberdade de criação.
Novas formas
A vidro-fusão, técnica autoral desenvolvida pela artista, traz para o material novas texturas e significações poéticas. Diferente do vidro tradicional, liso e homogêneo, o vidro celular, que resulta dessa técnica, é composto pela matéria e pelo vazio. As peças que se formam apresentam o vidro fragmentado por meio de furos que se abrem no material e se transformam em composições orgânicas. Característica que se tornou linguagem nas obras de arte de Désirée.
“Quando penso no meu trabalho, vejo que ele está na beleza do vazio. Os furos que se formam no vidro carregam a obra tanto quanto a matéria. É algo que ressalta a nossa relação com a onipresença do vazio e que, de certa forma, também nos preenche. Assim como a luz, que atravessa esses furos e ganha novas dimensões projetando as obras de outra maneira nos espaços que elas ocupam”.
Projeção Internacional

Há alguns anos, a arte de Désirée Sessegolo passou a extrapolar as divisas locais. Após expor em diferentes espaços da cidade, como o Museu Alfredo Andersen e Casa João Turin, o trabalho de arte em vidro da curitibana trilhou novos caminhos, ganhando destaque mundo afora. Espaços como o Museo del Vidrio de Bogotá e eventos como a The International Biennale of Glass, na Bulgária, e a The Venice Glass Week, em Veneza, receberam trabalhos da artista.
Em 2021, ela realizou sua quarta participação no evento italiano, com a instalação VUOTI, que reúne mais de 300 peças em vidro suspensas - todas trabalhadas manualmente. Sua obra conquistou a admiração de grandes nomes, como de Jean Blanchaert, curador da mostra, que vê na arte da curitibana um trabalho criativo e inovador, que nos leva a refletir sobre a presença do homem no universo.
“Representar a arte em vidro brasileira é uma honra. A curadoria da The Venice Glass Week é realizada por uma série de pesquisadores, historiadores e especialistas da área. Saber que faço parte dessa seleção e que estou na mostra principal confere reconhecimento ao meu trabalho e aos processos que desenvolvi ao longo da minha trajetória”, pontua.
Olhar para o futuro

De acordo com o Conselho da ONU (Organização das Nações Unidas), no próximo ano será celebrado o Ano Internacional do Vidro. Juntamente a outros artistas brasileiros, Désirée integra uma comissão nacional responsável por realizar ações de valorização do material e seu aproveitamento enquanto matéria-prima de expressão na arte.
Da mesma maneira que os vidros que restam da produção artística de Desirée são transformados em novas peças, entre acessórios pessoais e mobiliários, a artista está em constante processo de reinvenção. Transformando a matéria em arte, vida e movimento. “A difusão do meu trabalho é um sonho que tem se realizado. Explorar a valorização de novas expressões e projeções da arte integra o caminho que vem a seguir”.
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