Design

Copo americano: nome gringo, mas design 100% brasileiro

Aléxia Saraiva
05/11/2019 10:56
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Foto: Divulgação

Café, cerveja, pingado, vinho. Poucos objetos têm uma característica tão democrática quanto a capacidade de 190 mililitros do copo americano. Ao contrário do que seu nome infere, sua nacionalidade é tão brasileira quanto a cultura que representa: desde 1947 ele é produzido pela Nadir Figueiredo, tradicional fabricante de vidros fundada em São Paulo nos anos 1910.
A origem do seu nome se deve às máquinas norte-americanas que industrializaram o processo de fabricação dos copos, aos poucos substituindo a técnica do vidro soprado. Se, na época, impressionantes mil copos eram produzidos em oito horas, atualmente esse número sobe para mais de 400 por minuto. Em 72 anos, mais de seis bilhões de copos já foram fabricados—todos seguindo seu desenho original.
Foi um design que deu certo. “O copo americano, com uso muito versátil e tamanho prático, sempre foi utilizado para diferentes bebidas e está presente no nosso universo brasileiro de ser”, afirma Miriam Gurgel, arquiteta, designer e co-autora do livro Café com design: a arte de beber café. Para ela, o produto é um sucesso por seguir um design ergonômico, prático e com apelo estético.
Copo americano: design ergonômico, prático e com apelo estético. Foto: Pixabay
Copo americano: design ergonômico, prático e com apelo estético. Foto: Pixabay
“A ergonomia garantirá que o objeto seja utilizado de maneira confortável e com segurança. A praticidade na manutenção, armazenamento e uso terá seu apelo pela funcionalidade e facilidade de se lidar com o objeto. Já o apelo estético será o grande link com consumidores que valorizam o visual do objeto e o utilizam como uma forma de ‘poder’, um símbolo social”, explica a pesquisadora.

Fama internacional

Em 2009, o sucesso do copo americano o fez chegar ao Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) pelo projeto Destination: Design, que tem como objetivo dar visibilidade a diferentes países através de uma seleção de peças assinadas por designers locais que ficam à venda na loja da instituição. O Destination: Brazil levou ao museu 75 objetos assinados por brasileiros, dentre os quais constava o famoso copo. Foram enviadas 40 caixas de 24 unidades, e cada copo foi vendido a US$ 3 — quatro vezes o valor cobrado no Brasil.
Para além dos Estados Unidos, os copos americanos já foram exportados para países da América do Sul, Europa, África e Ásia.

Por toda a cozinha e além

Aos poucos, o copo expandiu sua família e ganhou releituras com novas cores — azul, vermelho, amarelo, laranja, verde — e tamanhos — dos 45 aos 450 mililitros. A aposta é fruto de uma parceria realizada junto da Tok&Stok, que desde 2006 comercializa o produto clássico.
A nova linha foi lançada em 2016, vésperas da comemoração do septuagenário da peça. “Nesta ocasião lançamos com exclusividade a versão colorida do copo avulso e até um kit de cores flúor”, comenta Edson Coutinho, gerente de design e tendências da Tok&Stok. “O desenho da silhueta tão reconhecida do copo também se transformou em estampas e tivemos jogo americano, balde de pipoca, pano de prato e avental”. A partir da data, a marca também lançou outros objetos com o desenho do copo: copos on the rocks, canecas, potes, petisqueiras e até uma jarra.

Pingada

Mas as novas peças não pararam por aí. Foi inspirado no uso plural que o brasileiro faz do copo que o estúdio de design curitibano Holaria desenvolveu, ainda em 2007, uma releitura de seu desenho para o concurso “Xícara Brasileira de Cerâmica para Café”, promovido pela Associação Brasileira de Cerâmica (ABCeram) naquele ano.
“A gente observou como as pessoas tomavam café nos grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba — e o copo americano era constante”, conta Aleverson Ecker, designer da Holaria. A partir deste arquétipo, eles desenvolveram uma xícara de cafezinho em porcelana inspirada no copo.
“Foi um processo de buscar na memória a iconografia do copo, que tava já na nossa cabeça. Começamos a criar em cima dela, partindo de uma imagem que a gente tinha, e não do copo original. Para nossa surpresa, eles são bem distintos: [na Pingada,] o caneladinho vai pra dentro, e no original vai pra fora”, complementa.
Premiados pelo concurso da ABCeram, o escritório expandiu a linha para pratos, tigelas e xícaras — tudo em porcelana. Depois de receber menção honrosa no 22º Prêmio Design MCB, do Museu da Casa Brasileira, as peças passaram a ser produzidas e comercializadas pela Germer Porcelanas. E sua fama foi tanta que a linha também entrou para a curadoria do Destination:Brazil do MoMa nova-iorquino. “No fim, a Pingada teve uma ressonância muito grande e foi muito identificada com o jeito brasileiro de tomar café”, destaca Aleverson. Mas ele frisa a importância que o copo americano tem para o brasileiro. “Ele é um desses ícones que estão no dia a dia das pessoas. Essa iconografia cria uma identidade. Cultura é o que a gente faz todo dia. A força também está nisso: ser parte do imaginário das pessoas”.

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