Design

Curitiba é celeiro do bom design com reconhecimento internacional

Luan Galani
27/03/2018 01:00
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Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo


Curitiba é um dos grandes centros de design no Brasil. Sem dourar a pílula. Aos fatos mais recentes: foi escolhida pelo segundo ano consecutivo por um comitê científico do governo da Itália para sediar no Brasil o Dia do Design Italiano; é sede do Centro Brasil Design (CBD), importante instituição local que fomenta o design brasileiro junto ao governo federal e empresários; é casa da LinBrasil, que se dedica exclusivamente às obras de Sérgio Rodrigues, um dos expoentes do móvel moderno no mundo.
Não bastasse, tem seus estudantes e escritórios brilhando com frequência nos mais importantes concursos e prêmios, como a Furf Design Studio, da dupla Maurício Noronha e Rodrigo Brenner, que acaba de levar as três maiores premiações de design de produto do mundo (Red Dot, Leão de Cannes e iF) com a capa para prótese Confete; e é terra natal de diversos designers que hoje tem projeção nacional, como Ronald Sasson, Carolina Armellini e Paulo Biacchi (da Fetiche Design) Gustavo Engelhardt (da Desfiacoco) e Aleverson Ecker e Luiz Pellanda (da Holaria), para citar apenas alguns.
Capa para próteses de perna da Furf Design Studio levou o Leão de Bronze na categoria design de produto, em Cannes. Foto: Divulgação
Capa para próteses de perna da Furf Design Studio levou o Leão de Bronze na categoria design de produto, em Cannes. Foto: Divulgação
“Curitiba tem profissionais jovens e criativos que a configuram uma oficina de inovações”, defende o cônsul-geral da Itália para o Paraná e Santa Catarina, Rafaelle Festa. “A cidade tem muitas peculiaridades que a tornam especial, mas não pode ficar presa à fama do passado”, alerta o diplomata de carreira.
O designer e arquiteto curitibano Ivens Fontoura, nome de peso do design brasileiro que ajudou a criar a Bienal Brasileira de Design e o Prêmio Salão Design, um dos mais importantes do cenário latino-americano há 20 anos, defende que Curitiba ainda é um celeiro importante. “O fato de ter tido um dos primeiros cursos de design do país e dos grandes nomes da arquitetura terem se aventurado também pelo design propiciou a Curitiba um ambiente de cultura de design, de discussão, de possibilidades”, sentencia.
Tanto que em 2014 Curitiba foi a primeira cidade brasileira a entrar para a rede de cidades criativas da Unesco como referência em design. A capital paranaense se juntou ao seleto grupo de Buenos Aires, Montreal, Shangai e Berlim, para compartilhar boas práticas e soluções pertinentes para desenvolver ainda mais a área. Logo em seguida, em 2015, Curitiba chegou à final da disputa para receber o rótulo de Capital Mundial do Design de 2018, mas acabou perdendo para a Cidade do México. O reconhecimento sempre é dado para cidades que tenham potencial de desenvolvimento no setor, e não para centros estabelecidos no mundo do design.
Por uma coincidência Curitiba virou casa do arquiteto e designer paulista Leandro Garcia, que enxerga diversas oportunidades aqui e não arreda o pé. Garcia já foi eleito pela revista britânica Wallpaper um dos 20 melhores escritórios de arquitetura em ascensão do mundo e integra a seleta lista do Design Milk dos melhores estúdios que representam o design brasileiro na atualidade.
O arquiteto Leandro Garcia, que atua em Curitiba, apresentou  peças novas da coleção 2017/2018. Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
O arquiteto Leandro Garcia, que atua em Curitiba, apresentou peças novas da coleção 2017/2018. Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
“O curitibano é mais exigente e tem um mercado que valoriza o design. Estando aqui você pode não perceber, mas quando você sai é perceptível o nível de cuidado e detalhe exigido por aqui”, enfatiza. “Claro que não é perfeito, mas o ponto é enxergar isso como oportunidade e não como problema.” É o que Garcia está fazendo. Em vez de abrir o escritório em uma sala comercial, como tantos outros, criou um estúdio ainda sem paralelo por aqui, em que uma casa antiga abriga seu escritório e também serve de galeria e loja para suas peças de design, com acesso ao público. “Aqui consigo mostrar meu trabalho por completo”, destaca.
Frisa ainda que Curitiba e região faz parte da grande escola de marcenaria que existe no Sul do país. “O início disso tudo começa com o trabalho dos imigrantes, dos construtores alemães, italianos e ucranianos. Antes de vir para cá, todos os grandes trabalhos de marcenaria de projetos de outros escritórios pelos quais passei eram feitos em algum lugar aqui do Sul.”
Para os jovens designers da Furf Design Studio, que já ganharam o mundo, Curitiba ainda mantém uma aura de cidade pequena que ajuda na qualidade de vida para poder criar. “Sou bem acostumado a me mudar, desde pequeno [nasceu em Valinhos, mas cresceu em Amsterdã, Califórnia e Floripa]. E parei em Curitiba. Poderia estar em outros lugares, mas aqui é onde quero estar”, confidencia Maurício Noronha. “São Paulo é o caos total, com muita oportunidade de trabalho e zero qualidade de vida. Curitiba é o equilíbrio. A gente trabalho muito com a leveza para conseguir sublimar o que tá dentro da gente materializar na criação. Em São Paulo não teríamos isso.”
Rodrigo Brenner compara: “Se a gente morasse no Rio de Janeiro e precisasse falar com o prefeito para apresentar uma proposta, seria impossível. Aqui todo mundo é mais acessível”, compara. “Queremos levar a Furf para vários países do mundo, mas, no Brasil, sempre vai ser Curitiba”.

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