Design

Conhecida por criações exuberantes, jovem italiana é o grande novo nome do design mundial

Luan Galani
12/07/2018 21:30
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Coleção Most Illustrious de Elena para a Bosa Ceramiche, que rende homenagem a grandes mestres do design italiano. Em comum? A ironia presente no trabalho de todos eles. Foto: Elena Samistraro/Bosa/Divulgação | FRANCK_JUERY

Se você ainda não ouviu falar dela, anote aí para não se esquecer. Afinal, o mundo ainda vai ruminar seu nome por um longo período. Elena Salmistraro, de 35 anos, é a nova cara do design italiano. Um design com atitude e humor, que fascina por evocar emoções instantaneamente, e uma experimentação incansável por transformar papel e dobraduras em criações para casa.
Já virou a queridinha de grandes marcas, como Seletti, Alessi, Bosa, De Castelli e Bitossi Home, para citar apenas alguns. Graduada pelo Politécnico de Milão em 2008, hoje vive e trabalha em Milão, a capital mundial do design, em seu próprio escritório Studio Alko, em conjunto com o arquiteto Angelo Stoli.
Foto: Elena Samistraro/Divulgação
Foto: Elena Samistraro/Divulgação
É inevitável que esta seja a primeira pergunta: quão difícil é ser mulher em um universo ainda tão masculino como o design e a arquitetura? Já sofreu algum preconceito?
Claro que o mundo do design sempre foi tipicamente um negócio entre homens. Mas é verdade que está mudando. Nas pessoas da minha geração, a distância entre homens e mulheres está ficando cada vez menor e acho que hoje mais mulheres trabalham com design que homens. Espero que em breve os únicos fatores discriminatórios em nossa área sejam a competência e o profissionalismo. Sobre preconceito, nunca enfrentei tal problema.
São criações são poesia materializada com uma linguagem impressionante e única. Como é esse processo de criar produtos e ilustrações evocando emoções?
Meu processo criativo é muito instintivo. Eu não sigo regras pré-estabelecidas. Minhas emoções me guiam. Eu preciso comunicar através do desenho. É uma escapatória, uma terapia que, mesmo sem perceber, preenche meus objetos com emoções e sensações. Essa minha atitude de design me leva a brincar com a fronteira tênue que existe entre arte e design. E eu admito que isso me diverte bastante.
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Dá para perceber que a natureza tem uma grande influência sobre as suas criações, principalmente como inspiração de conceito ou nas formas mais orgânicas que você desenha. Por quê? E como é esse processo de traduzir linhas da natureza?
Quando eu falo da natureza eu quero dizer tudo que me rodeia, tangível e intangível, que pertence também à alma, ao comportamento. Eu tento reter formas, cores e sentimentos por meio da minha linguagem pessoal. Os materiais se tornam a ferramenta necessária para criar um objeto bem acabado, de todos os pontos de vista, tanto emocional quanto formal. Eles precisam ser escolhidos com extremo cuidado, e devem ser selecionados com base no que desejo transmitir. Um paralelo com a arte: eu poderia representar o mesmo tema com aquarela ou mármore Carrara, e o resultado seria completamente diferente.
Você vê um grande potencial de design no papel. Pode nos explicar um pouco essa crença e nos dar alguns exemplos? Em algum nível, vejo bastante similaridade entre você e o arquiteto japonês Shigeru Ban. Já entrou em contato com a arquitetura de papelão dele?
O papel foi o meu primeiro amor. Mas eu ainda era estudante quando comecei a investigar suas características e peculiaridades. Fiquei impressionada com aquele mundo mágico. Tanto que aprendi a usar o papel machê. Meu sofá Deux âmes e minha luminária Lampsfall são resultados dessa pesquisa. O encontro com Okinawa [sul do Japão] e Jacroki [material feito com 80% de celulose] veio logo depois disso, e em seguida comecei a pesquisa sobre origami e o vaso Cover nasceu. Eu admito que ainda uso papel, mas apenas para criar protótipos. Infelizmente, a diferença entre o mestre Shigeru Ban e o Japão – onde o papel é parte integral da cultura – e o mundo ocidental é que não estamos prontos para desistir de certos materiais.
Até que ponto design pode ser arte?
Eu acredito que ambos design e arte têm o dever de tornar a vida melhor, por meio da elaboração da beleza. Se em um nível o design é mais atento para a função, já que envolve objetos, a arte engaja mais pelas mensagens. Por que envolve sentimentos. Mas, como mencionei antes, a divisão entre os dois é tênue e está cheia de insights e crescimento potencial.
O que você está fazendo agora? E quais os seus projetos do futuro, que pode contar para a gente?
Não vou falar de projetos, mas de mundos que eu gostaria de explorar. Com certeza vou tentar trabalhar em uma escala maior de projetos. Talvez eu olhe mais para o design de interiores e definitivamente vou explorar a iluminação.
O design vê o retorno massivo de técnicas tradicionais. Como você vê a relação entre o artesanal e a produção industrial?
A gente precisa lembrar que o setor industrial na Itália é composto principalmente de pequenos e médios negócios. Então, a combinação nem sempre existiu, mas tem dado resultados excelentes. Isso foi fundamental para o nosso design. Naturalmente, se tivéssemos que falar de uma escala industrial maior, a questão muda. Mas a resposta também mudaria, porque o design tem métodos e abordagens completamente diferentes.
Vejo bastante humor no seu design. Você concorda? Acha que o design deveria abraçar mais esse conceito menos sóbrio?
Esse ano no Salão do Móvel de Milão eu apresentei minha nova coleção de estatuetas com a Bosa Ceramiche, chamada de Most Illustrious, que é uma celebração daqueles que me ensinaram tanto sobre essa profissão maravilhosa. Se analisar esses mestres, você vai descobrir que, antes de tudo, eles são e eram muito irônicos em suas criações. Foi o primeiro ensinamento deles e volta ao que eu disse antes: o fato de que o design deveria melhorar nossas vidas. E que melhor maneira de atingir o objetivo do que pelo humor?

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