Entrevista

Design

Herdeiro da Natuzzi avalia momento atual e fala sobre o futuro da marca e do design

Fernanda Massarotto, de Milão, especial para HAUS
18/01/2021 19:31
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Pasquale Junior Natuzzi: contato com o mundo do design fez com que sua carreira na empresa da família fosse algo natural. | Alberto Zanetti

“Cresci à base de pão e Natuzzi”. A frase em tom de brincadeira revela um amor quase incondicional pela empresa fundada pelo pai Pasquale, em 1959, na Puglia, no Sul da Itália. Pasquale Junior, 29 anos, não nega as dificuldades em seguir os passos do patriarca e, por muitas vezes, as comparações e críticas, nem sempre construtivas.
O menino, que corria pelos corredores da conhecida grife de estofados, pensou até em seguir a carreira esportiva. “Cheguei a jogar golfe seriamente, com bons resultados. Mas também fui um bom atleta em disciplinas como basquete e polo aquático”, relembra com saudosismo o atual diretor criativo da marca italiana.
O mundo dos esportes perdeu um promissor campeão, mas a Natuzzi ganhou um profissional dedicado que ajudou o pai a levar a empresa para uma esfera industrial e mundial. “A beleza do design me capturou”, diz ele que hoje responde também pela direção comercial Emerging Markets da Natuzzi.
Em entrevista exclusiva para HAUS, grande parte dela realizada enquanto se dirigia a mais uma reunião, Pasquale Junior fala sobre a sua entrada nos negócios da família, as lições dadas pelo pai, o mercado brasileiro e o futuro.
Diretor criativo e herdeiro da Natuzzi
Diretor criativo e herdeiro da Natuzzi
Você cresceu com a Natuzzi. E a pergunta que justamente se faz nesse caso é: entrar para a empresa foi uma obrigação, uma imposição ou simplesmente se tornou uma paixão?
Sempre fui um criativo e o fato de ter nascido em uma família onde a criatividade está no sangue, me levou quase que naturalmente a fazer tal escolha. Obviamente, cresci com o “mantra” Natuzzi, e meu ingresso na empresa acabou sendo orgânico. Sou o terceiro de cinco filhos, o primeiro menino e tenho muito orgulho de ter sido registrado com o mesmo nome do meu pai. Hoje, me sinto honrado em fazer parte dessa empresa extraordinária. É uma honra poder contribuir para o sucesso da Natuzzi.
Pode nos contar o início do seu percurso profissional na empresa?
Tenho 29 anos e 8 de Natuzzi. Eu brinco que conheço muito melhor a empresa que eu mesmo. Fiz de tudo um pouco. Comecei como estagiário e fui aprendendo a reconhecer a complexidade de uma grande estrutura. Participei de feiras de negócios, viajei pelo mundo inteiro, vivi o mercado do design, e hoje, além de diretor criativo, sou responsável comercial dos chamados mercados emergentes – emerging markets.
Percorri uma longa estrada, mas valeu a pena. A um certo ponto, pensei em buscar uma outra carreira. Mas a paixão pela Natuzzi falou mais alto. Larguei a Bocconi (uma das mais importantes faculdades de administração do mundo), em Milão, e voltei para a Puglia, no Sul do país. Os primeiros três anos foram desafiadores, mas hoje sinto que minha presença faz diferença e posso concretamente contribuir para o sucesso da empresa.
Como é a Natuzzi do Pasquale Junior? 
A Natuzzi é uma marca cada vez mais lifestyle, sustentável, dinâmica e intercultural. Gosto de pensar na Natuzzi como uma oliveira centenária que tem as suas raízes fincadas na Puglia, de onde tira a sua energia e inspiração. Mas, ao mesmo tempo, seus ramos e folhas abraçam o mundo.
Sou apaixonado pela ideia da “contaminação” vinda de diferentes culturas que entram em contato e se misturam com o DNA da marca. Meu objetivo é levar a filosofia Natuzzi e o seu conceito de hospitalidade mediterrânea para o setor hoteleiro com a criação, por exemplo, de hotéis boutique Natuzzi. Seriam lugares para descansar sem pensar em nada mais e viver a atmosfera do Mediterrâneo.
Sofá new Classic, por Fabio Novembre, da nova coleção Natuzzi Italia.
Sofá new Classic, por Fabio Novembre, da nova coleção Natuzzi Italia.
O grupo Natuzzi hoje está em diversas partes do mundo, e possui forte presença no Brasil. Qual a importância do mercado brasileiro para a empresa?
É um mercado importantíssimo, mas também complexo e onde investimos muito. Não só economicamente. Houve momentos em que muitos duvidaram que o Brasil fosse o mercado certo para nós. Mas meu pai, grande visionário, sempre achou que o mercado brasileiro tinha potencial, como aconteceu com o americano dos anos 1970 e 1980 e onde tivemos muito sucesso. E é claro que ele estava certo.
Temos uma fábrica no Brasil, mais precisamente em Salvador, na Bahia. Conhecemos bem o mercado, conseguimos nos posicionar muito bem no segmento do luxo com a linha Natuzzi Editions. Ao contrário de outros países, o relacionamento com os arquitetos é fundamental e temos trabalhado com esses profissionais. O Brasil não é como a China e os Estados Unidos, mas possui um enorme potencial de crescimento.
Furf Design Studio, de Curitiba, assinou a poltrona Monroe para a Natuzzi. Como anda essa parceria? E a Monroe pode chegar ao mercado italiano?
Foi uma escolha acertada. Fiquei sabendo do trabalhado deles por meio de um representante em Nova York. Estamos muito felizes com a colaboração e já estamos pensando em novos projetos, com certeza. A Monroe, que é realmente um sucesso de vendas, irá chegar ao mercado italiano por meio da nossa rede de lojas Divani & Divani by Natuzzi.
Estamos vivendo um ano muito complicado. A pandemia causada pelo coronavírus acabou resultando, em março, na paralisação da produção da Natuzzi. A empresa parou de fabricar móveis para produzir máscaras cirúrgicas para os funcionários e para a população da Puglia. Como nasceu essa ideia?
O mundo do design traz consigo soluções criativas. E essa é mais uma delas. Um dos engenheiros de produção nos mostrou que era possível transformar nossa fábrica de Ginosa, na Puglia, em um verdadeiro laboratório destinado à produção de máscaras cirúrgicas. Em menos de três semanas, conseguimos os testes sanitários previstos e demos início à produção de máscaras para uso interno, além de termos doado para hospitais, polícia militar e guarda civil. Hoje, continuamos com a confecção das máscaras para nossos empregados para que possam trabalhar em completa segurança.
Durante a pandemia, os consumidores passaram a valorizar ainda mais o lar. Ou seja, móveis e peças de decoração ganharam prioridade na lista de novas aquisições. O Made in Italy está renascendo?
Acho que a pandemia fez com o que nosso setor acordasse. Vejo que há um grande entusiasmo e não só por parte das empresas, mas também dos consumidores que clamam por produtos de qualidade. Acredito que veremos um grande crescimento de vendas, mas também temo que nos próximos meses viveremos outros lockdowns, talvez menos rígidos. É esperar para ver.
Ano que vem, 2021, se comemora os 60 anos do Salão do Móvel. O que podemos esperar da Natuzzi?
Estamos trabalhando já para apresentar grandes novidades durante o Salão do Móvel e se eu deixar escapar qualquer detalhe, sou um homem morto dentro da empresa (risos).
Você vive em meio ao design. Como é a decoração da sua casa?
Sou um tipo eclético. Na minha casa há um pouco de tudo. O sofá, como não poderia deixar de ser, é Natuzzi, mas tenho peças icônicas de outras marcas. Gosto de colecionar, de comprar. Nesse momento estou construindo a minha moradia fixa em Milão, essa sim a minha “a casa”, uma residência onde irei decorar com móveis Natuzzi e algumas peças desenhadas por mim mesmo.
Então você irá assinar peças para a Natuzzi?
Não irei desenhar, mas digamos que irei projetar com a colaboração de arquitetos. E não descarto a possibilidade, quem sabe um dia, de criar algo para a Natuzzi.
Quem são seus designers preferidos?
Há muitos. Tenho uma predileção pelas criações orgânicas da genial arquiteta iraniana Zaha Hadid, falecida em 2016. Gosto muito dos Irmãos Campana. As peças deles seriam perfeitas para a minha nova casa, por exemplo, assim como o mobiliário de luxo de design contemporâneo dos portugueses da Boca do Lobo.
Um sonho para o futuro?
Viver em Nova York. É uma cidade que me inspira. Respiro novas ideias. E depois de uma temporada nos Estados Unidos, gostaria de poder dividir meu tempo entre Milão, Nova York e a minha Puglia. Milão é diversão, beleza, design, pesquisa e relacionamento profissional. A Puglia é a minha terra, onde recarrego minhas energias. Não seria maravilhoso? (risos).

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