Estudiobola

Design

“Móveis são para sempre”, defende estúdio brasileiro de design

Luan Galani
16/07/2021 12:53
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Showroom exclusivo do Estudiobola na Inove Design tem toda a coleção da marca à disposição. | Patricia Amancio

A marca de mobiliário Estudiobola, dos arquitetos paulistas Flavio Borsato, 49, e Maurício Lamosa, 47, conhecidos por suas criações autorais, elegantes e de uma simplicidade formal sem igual, celebra 20 anos agora em 2021. Como parte da celebração, Curitiba ganha showroom exclusivo da marca na loja do Jardim Social da Inove Design, na Avenida Nossa Senhora da Luz, 1.715. E para marcar esse momento importante, Flavio concedeu entrevista exclusiva para HAUS direto de Treviso, no coração do Vêneto, na Itália, onde está morando há alguns anos, dirigindo o QG do Estudiobola na Europa. A entrevista foi respondida com áudios de WhatsApp em uma tarde de sexta-feira.
Flavio Borsato e Maurício Lamosa, arquitetos e proprietários do Estudiobola.
Flavio Borsato e Maurício Lamosa, arquitetos e proprietários do Estudiobola.

Como surgiu a ideia de criar o Estudiobola? De ir da arquitetura para o design de mobiliário?

Eu e o Maurício Lamosa criamos o Estudiobola. E o nome surge da composição dos nossos nomes. “Bo” de Borsato, meu sobrenome, e “la”, de Lamosa, sobrenome do Maurício. Há 20 anos nos reunimos e resolvemos montar a marca. Apesar de ambos sermos arquitetos, a gente sempre quis trabalhar com design. Eu venho de uma família moveleira, mas que não trabalhava com design diretamente. Já o Maurício fez arquitetura e trabalhou como arquiteto e depois com programação gráfica. Isso complementou nosso trabalho. Ele complementava aquilo em que eu me sentia deficiente. O mercado era carente de design na época. Já tinha designers com produtos, mas nunca como marca. Isso acontecia na Itália e na Europa, mas não no Brasil. O caminho foi bem promissor, e andamos a passos largos porque o mercado era muito carente.

O Estudiobola é reconhecido por seu design expressivo, minimalista e original. Como funciona o processo criativo e de inspiração de vocês?

Ele é bastante minimalista por uma escolha nossa. A gente acredita que o produto deve durar muito na casa do cliente. E ser muito longe de modismos. Ao contrário de roupas e acessórios, que você pode usar por um tempo e enjoar, o móvel não pode passar por isso. É um investimento mais alto, e tem a questão ambiental. Não teria porque se desfazer dele. O móvel então precisa ter uma linguagem que perdure durante o tempo. Que não seja um usa e joga fora. Essa é a questão primordial da nossa limpeza do desenho.
O desenho tem que durar para a fábrica, para o cliente e para a gente. Não é um produto de moda, é um produto duradouro. O processo criativo acontece na necessidade da marca. A gente entende o que pode complementar, fazer que ela tenha uma atuação mais completa, então o nosso processo vem da necessidade e da continuidade de desenhos para ter coleções com identidade forte e limpa.

Quais as principais razões de criar showrooms exclusivos para a marca?

A ideia veio da coesão da mensagem que queremos passar. A partir do momento que tem um espaço exclusivo, que as nossas peças regem esse espaço, você tem mais controle sobre a mensagem que quer passar. Por experiência, produtos usados de maneira difusa perdiam a linguagem que a gente queria transmitir. Não era difícil visitar um showroom e encontrar o móvel em um contexto completamente fora do que foi proposto. Então, criar espaços exclusivos é fundamental para que o Estudiobola passe a mensagem a que se propõe.
Poltrona Serena, peça estofada de curvas gentis e convidativas, de pequena dimensão, com estrutura em madeira de reflorestamento. Há opção giratória ou fixa.
Poltrona Serena, peça estofada de curvas gentis e convidativas, de pequena dimensão, com estrutura em madeira de reflorestamento. Há opção giratória ou fixa.

Como vocês enxergam a questão do design democrático, que é tão raro no Brasil?

Na minha visão, passa por duas instâncias: primeiro, a conscientização. Fazer com que todo mundo tenha capacidade e prazer de entender o design. E o segundo é o método produtivo. No primeiro estamos mais evoluídos. Existe desejo e conscientização do que o design pode trazer de bom na qualidade de vida e no modo de viver. Já no método produtivo, temos barreiras. O Brasil é um país muito fechado. E o design democrático depende de cadeias globais, que não é o caso do Brasil. Nossa economia é fechada e taxa muito a chegada de matérias-primas, o que inibe a chegada de algumas marcas que promovem isso.
Vamos dar nome à principal: a Ikea. Ela é a porta de entrada e daí sim as pessoas vão se familiarizando com o design. A primeira casa de todo jovem passa pela Ikea. Depois, com a maturidade, e com uma situação mais estável, a pessoa pode passar para um design mais robusto. Então, a gente teria que resolver essa questão de inserção global. Senão fica só na pessoa que tem acesso financeiro e pode comprar design e não chega no dia a dia do brasileiro. Fica no virtual, no sonho da novela, do Instagram, da revista, do artista que tem a casa legal, mas não fica palpável. Ter marcas de acesso é a única maneira de trazer o design democrático.

Você está na Itália há quatro anos. O que aprendeu estando aí?

O aprendizado é o mesmo de qualquer mudança. Você conhece pessoas novas, culturas novas e, no nosso caso, no meu caso na Itália, tenho a felicidade de estar no centro do design, tendo contato com profissionais, fábricas, artesãos. Todos de um nível muito avançado. São artesãos que vêm de família, de três ou quatro gerações, com muito conhecimento técnico, que sabem como chegar ao ponto do que você quer. Além disso, aqui o Vêneto é o centro da produção de cadeira e de maquinários. Boa parte dos nossos maquinários é daqui. Isso tudo forma um caldeirão importante para progredir. E estamos levando isso para o Brasil. Dessa forma, a linha do Estudiobola está ficando bem resolvida e clara de onde queremos chegar.
Mesa Balloon com acabamento em granilite. Parece um balão invertido, brincando com a base grande e pesada que vai afinando ao longo da altura.
Mesa Balloon com acabamento em granilite. Parece um balão invertido, brincando com a base grande e pesada que vai afinando ao longo da altura.

Como é a receptividade dos italianos e europeus às criações de vocês?

São receptivos ao que tem qualidade e é bem feito. E gostam de marca. Os italianos são exímios criadores de marca. Passa por roupa, relógio, carro, bicicletas, motocicletas. É impressionante. Então tudo que é bem feito eles querem. Eles gostam da música e arquitetura brasileiras, mas sendo bem feito e tendo coerência, será bem visto aqui.

Que problemas vocês enxergam no cenário do design atual?

O problema agora é a pandemia da Covid-19 e a suspensão das feiras para um produto que é muito sensorial. A gente quer tocar na cadeira, quer sentar na cadeira, quer ver de todos os ângulos. Tem o 3D, mas não é a mesma coisa do quer ver ambientado. E essas feiras são muito importantes para o design. É lá que tudo acontece, que um estimula o outro. Então, a suspensão da feira é um problema atual. Outra questão é esse design descartável.
Eu entendo que o produto e o design democrático é ótimo de um lado, mas a baixa qualidade faz com que você não seja sustentável. Tem muita embalagem, por exemplo. Eu tenho produtos da Ikea na minha casa e a quantidade de embalagem é assustadora. O móvel passa por esse problema. É um problema, pois dura pouco e gera muita embalagem. Às vezes tem mais massa de embalagem do que massa de produto. Isso é inconcebível para mim.

Vocês têm desejo de ir além do design de mobiliário?

Estudiobola quer ir e está indo além do mobiliário. Quando vira marca, tem a questão de uma atuação global, plena, de tapetes, de iluminação, de objetos. Tudo isso vem crescendo. Não sabemos onde vai parar, mas não vamos ficar só no mobiliário, mas ter atuação maior, como ter cerâmica e objetos para casa. Nossa vocação é a casa com qualidade, e tudo no meio disso será contemplado. Só que isso demora. Não é da noite para o dia.

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