As mulheres no design

Design

“Aqui não bordamos almofadas”: a história do design feita também por mulheres

Rafaella de Bona e Stefany Santana, especial para HAUS*
28/08/2020 11:00
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Chaise-longue LC4 teve a designer Charlotte Perriand, do ateliê de Le Corbusier, como uma de suas principais criadoras. Foto: reprodução

Através de um estudo sobre a relevância de Le Corbusier e do modernismo nos dias de hoje, provocamos a reflexão a respeito da existência de modernismos obscurecidos que precisam vir à tona e serem abordados no momento presente.
Ao conhecer cada vez mais a fundo a vida e as obras de Corbusier, torna-se indiscutível sua influente importância na arquitetura moderna. No entanto, devemos considerar a relevância do modernismo na atualidade sem que seja necessário, ao mesmo tempo, anular nomes que por serem femininos nasceram para serem esquecidos – principalmente na cultura e época em questão.
Dessa maneira, quanto mais fundo submergimos na história do arquiteto, mais claro se torna o risco de estudar sua narrativa por uma só perspectiva. Entendendo também os coadjuvantes por trás do suntuoso nome de Le Corbusier, levantamos uma discussão sobre a diferença de gênero que decorreu na aparição de vários modernismos.
Além de um grande arquiteto, Le Corbusier teve sua presença marcada no design de produto. Em seu ateliê trabalhava Charlotte Perriand, uma designer modernista muito importante para o período. Contudo, antes que isso sequer fosse uma possibilidade, vale destacar a emblemática frase dita por Le Corbusier quando a designer demonstrou interesse em participar de seu ateliê: “Aqui não bordamos almofadas”. Essa foi, então, a imagem motriz da análise que demonstra o apagamento das mulheres na história.
 Charlotte Perriand no Japão em 1954. Foto: Wikimedia Commons/Reprodução
Charlotte Perriand no Japão em 1954. Foto: Wikimedia Commons/Reprodução
Naquela época era inesperado que uma mulher fosse capaz de criar com materiais não efêmeros, como concreto e metal. As mulheres bordavam almofadas e desenvolviam artefatos com papel e tecido, materiais que se perdem ao tempo, não deixando registro de suas obras.
Ao analisar o artigo ‘Corpos, cadeiras, colares, um paralelo da Charlotte Perriand e Lina Bo Bardi’, a autora Silvana Rubino, professora do Departamento de História da Unicamp, deixa claro que essas duas mulheres eram símbolos de resistência entre um modernismo elitista e predominantemente masculino.
Nesse cenário, contra a corrente, Perriand protagonizou a criação de um dos itens mais emblemáticos da coleção LC, de Le Corbusier: a chaise-longue LC4, um ícone do design. Da mesma forma, com o seu diploma de “arquiteto” e suas obras como ‘A casa de vidro’, o ‘SESC Pompeia’ e a ‘cadeira Bardi’s Bowl’, Lina Bo Bardi foi e continua sendo um exemplo de resistência e de ruptura ao se tornar um ícone do modernismo brasileiro.
Lina Bo Bardi foi uma das maiores arquitetas do mundo. Foto: reprodução
Lina Bo Bardi foi uma das maiores arquitetas do mundo. Foto: reprodução
Dessa maneira, discutir a prática de artistas modernistas no contexto contemporâneo vem com total relevância, percebendo-se o quanto o modernismo internacional serviu como meio de fragmentação social, transformando uma diferença de gênero em desigualdade ao consolidar uma cultura de elite, formada quase que totalmente por homens.
Deve-se dirigir o olhar à diferença e existência de vários modernismos, onde mulheres, mesmo sendo minoria, conseguiram dar um grande passo na tomada desse espaço. Porém, enquanto uns são enaltecidos, outras ainda continuam desvanecidas e, na história, é preciso se atentar a todos os pontos de vista. Será que continuamos a escrever de uma só perspectiva?
*Rafaella de Bona é graduanda em Design de Produto na UFPR e vencedora do iF Design Talent Award 2019. Stefany Santana é designer pela UFPR.

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