Entrevista

Design

Elegância e simplicidade: o legado da Living Divani para o design de móveis

Fernanda Massarotto
21/10/2020 17:55
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Filha de Luigi e Renata, fundadores da Living Divani, uma das mais tradicionais empresas de mobiliário de luxo no mundo, Carola Bestetti responde hoje pela direção de marketing e comunicação da marca que, há um ano, completou 50 anos. “Apesar de ter crescido com a empresa, houve um momento em que pensei em trilhar outros caminhos”, conta ela, que chegou a trabalhar até em uma cafeteria, em Londres, e a deixar de lado a faculdade de Economia e Comércio, na prestigiosa Universidade Bocconi, de Milão.
Aos 23 anos, porém, decidiu que era hora de voltar ao ninho. E aprendeu de tudo um pouco. Da produção à logística, passando pela venda, comunicação e marketing. “Uma verdadeira escola”, brinca ela, que teve em Piero Lissoni, há mais de 30 anos diretor criativo da marca, um professor. “Somos amigos. E mais do que isso, irmãos”, diz Carola, que admite ter absorvido, graças ao arquiteto e designer, o chamado senso estético apurado.
Em entrevista exclusiva a HAUS, durante a abertura oficial, em setembro, do novo showroom da Living Divani, no centro de Milão, a herdeira de Luigi e Renata Bestetti conta um pouco sobre a sua vida, os primeiros passos na empresa da família e os planos para o futuro.
"Nossa vontade e objetivo é consolidar a marca no mercado internacional. Queremos estar na chamada top list de empresas que trabalham com o design."
Seus pais fundaram a empresa antes mesmo do seu nascimento. Como foi crescer tendo Living Divani como segunda casa? 
Brinco sempre que Living é o primogênito da família Bestetti. Tenho uma irmã mais velha, mas a empresa é o filho que pode tudo (risos). Para mim, foi natural e ao mesmo tempo o quintal de casa. No pátio de cimento, passava horas patinando. Meus pais passavam horas na fábrica. Mais que segunda casa, foi também uma escola. E acabou virando profissão. O mais engraçado é que fui estudar Economia e Comércio, pensei em trabalhar no mundo da moda, morei em Londres e Nova Iorque e, como todo bom filho, acabei voltando aos 23 anos.
Piero Lissoni entra para Living Divani como diretor criativo aos 32 anos. Você tinha nove anos na época. Como foram essas mais de três décadas de trabalho juntos?
Digo sempre que a chegada de Piero Lissoni é um marco na Living Divani. Gosto de dizer que foi um “salto empresarial”, ou seja, ele revolucionou nosso conceito de design. Uma história engraçada é que Piero bateu à porta dos meus pais e acabou sendo rechaçado. Um ano e meio depois, em 1989, foi chamado e se tornou nosso diretor criativo, cargo que ocupa até hoje. Um casamento sólido. Um encontro frutífero. Piero é mais que um amigo. Digo que é um irmão. Ele trouxe para a empresa um estilo estruturado na concepção das peças, tecidos e cores e deu uma nova vida aos catálogos e às campanhas publicitárias. Crescemos juntos e aprendi muito com ele. Meu olhar e meu senso estético foram se aprimorando. Piero me ensinou conceitos de proporção e medidas. É até engraçado, pois vou à casa de amigos e, sem perceber, começo a dar palpites na decoração. Força do hábito e dos ensinamentos de Piero.
 Cadeira Frog: peça icônica da Living Divani, de 1995, é uma criação de Piero Lissoni.
Cadeira Frog: peça icônica da Living Divani, de 1995, é uma criação de Piero Lissoni.
Você começou na área comercial, passou ao marketing e comunicação – onde está até hoje –, mas também ajudou a buscar novos talentos para integrar a lista de designers da empresa. O que é um designer precisa oferecer para convencer Carola Bestetti? 
No início eu ia atrás dos designers. Agora, recebo muitos pedidos. Sou muito flexível. Há também o chamado boca a boca, indicações de outros designers. Gosto de olhar o portfólio e discutir as propostas. Às vezes, um projeto apresentado não me entusiasma por completo, mas vejo potencial. É uma troca de experiências. Dessa nova geração, por exemplo, tenho o prazer de dizer que o espanhol David Lopez Quincoces, que está conosco desde 2013, e se formou no escritório de Piero Lissoni, faz parte do nosso time. Brinco que ele é o meu Piero. Meus pais trouxeram Lissoni para a Living Divani. Eu, David. As suas criações, como a coleção Era, são o retrato perfeito do espírito e da filosofia essencial da Living Divani. Aprecio muito também as peças de Mist-o, de Noa Ikeuchi e Tommaso Nani; e de Un Pizzo, de Agnese Selva e Bettina Colombo.
Como você define o design de Living Divani?
Uso sempre o termo elegância silenciosa. Nossas peças são equilibradas. Complementam ambientes e podem ser integradas de maneira fluida. Além da qualidade e tradição, são produtos que podem atravessar gerações sem perder jamais seu estilo.
Quais são os seus produtos icônicos preferidos da marca?
Eu sou suspeita para falar. Adoro todos. A poltrona Frog, de 1995, que nasceu quase por acaso e completa agora 25 anos, tem um lugar reservado na minha lista. Quando Piero Lissoni a desenhou, primeiramente ele achou que era meio desproporcional – baixa, larga e com os pés enormes – parecia uma rã. Aí ganhou o nome Frog, fez sucesso e hoje tem uma versão em fibra de carbono. Ela virou protagonista na instalação de abertura do novíssimo showroom de Milão, no centro da cidade. E não posso deixar de mencionar o sofá modular Wall, de 2000, um dos primeiros do gênero no mercado que deu ao consumidor a possibilidade de criar seu próprio sofá graças às várias dimensões, profundidades e por ser sem pés. Depois, vieram o Extra Wall e o Extra Soft, e a família foi crescendo.
 Sofá modular Wall, de 2000, trouxe a possibilidade do consumidor adequar o móvel de acordo com seu espaço.
Sofá modular Wall, de 2000, trouxe a possibilidade do consumidor adequar o móvel de acordo com seu espaço.
O design em geral e, é claro, o “Made in Italy” ganharam força com a pandemia. Por quê? 
Acredito que as pessoas passaram a dar mais valor ao mobiliário residencial. Fomos forçados a ficar em casa e percebemos quão importante é investir em peças de qualidade, confortáveis e práticas. Escolhas que podem custar um pouco mais, mas que duram a vida toda. O Made in Italy, nesse caso, é uma garantia de qualidade. Mesmo parados durante o lockdown, vimos o nosso número de pedidos cair somente 7% em relação ao mês de setembro do ano passado. Isso demonstra que os representantes, arquitetos e clientes confiam em nossos produtos. Resultado de 50 anos de muito trabalho, respeito e, com certeza, qualidade e um design único.
Apesar do cancelamento da edição 2020 do Salão do Móvel, em abril, vocês acabaram abrindo o showroom em setembro, o que demonstra confiança no mercado. O que podemos esperar de Living Divani para o próximo Salão de 2021? 
Creio que será um grande evento. Depois de tudo temos muita confiança. Estamos já trabalhando para o evento e também preparando o lançamento, para ainda esse ano, de quatro novos produtos. Três deles são peças renovadas de linhas já existentes, e teremos uma grande novidade, assinada por Piero Lissoni. Em abril, para o Salão de 2021, iremos ampliar ainda mais essas coleções.
Em 2019, Living Divani completou 50 anos. Como você imagina o futuro da empresa em 15 anos?
Nossa vontade e objetivo é consolidar a marca no mercado internacional. Queremos estar na chamada top list de empresas que trabalham com o design.

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