Design

Novos museus de design fazem renascer cidade histórica na Bahia

Aléxia Saraiva
17/12/2018 19:50
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O Museu das Cadeiras Brasileiras, em Belmonte (BA), se propõe a ser o maior acervo do país neste que é o principal produto do design. Foto: Ruy Teixeira

A cidade baiana de Belmonte foi berço de um dos maiores expoentes do modernismo brasileiro no design de móveis, aclamado como “mestre da madeira”. Estamos falando de Zanine Caldas. A um ano do seu centenário, o pequeno município a 70 km de Porto Seguro — que foi importante durante o ciclo do cacau, no século 19, mas longe de ser um grande destino turístico — volta a ser destaque no cenário artístico: Belmonte foi escolhida para sediar o Museu das Cadeiras Brasileiras, que se lança com o desafio de ter o maior acervo do tipo no país. Pré-inaugurado em novembro, ele será um apêndice do futuro Museu Zanine Caldas, em homenagem ao arquiteto e previsto para 2019.
Fachada restaurada do Museu das Cadeiras Brasileiras. Foto: Ruy Teixeira
Fachada restaurada do Museu das Cadeiras Brasileiras. Foto: Ruy Teixeira
A ideia partiu de seu filho, o também designer Zanini de Zanine, junto do empresário Daniel Katz. Da concepção à prática, o processo foi ligeiro: apenas 45 dias separaram o insight e a inauguração do antigo casarão que recebe o museu, onde funcionava um escritório da Katz Engenheira.
“Este museu, em primeiro lugar, é para o povo de Belmonte. Em segundo, para nós, designers brasileiros, como registro cultural. Em terceiro, para o mundo”, afirma Zanine. “Queremos tentar despertar outras conexões que estamos vislumbrando, sempre em prol de preservar a cultura e todas as joias de Belmonte, como a arquitetura histórica, filarmônicas, artesanato, culinária, religiões — sempre preservando a natureza”.
Cadeira assinada por Sérgio Mattos, 2016. Foto: Leticia Remião
Cadeira assinada por Sérgio Mattos, 2016. Foto: Leticia Remião
O futuro museu dedicado a Caldas ficará na casa onde viveram seus pais, a apenas alguns passos do outro acervo. O projeto arquitetônico será assinado por Marcio Kogan e está em fase de elaboração. A previsão é de que ele seja inaugurado para celebrar os cem anos do nascimento de Caldas.

Recepção local

A iniciativa conta com o apoio da prefeitura do município através da Secretaria de Cultura, Turismo e Esporte. Segundo o secretário da pasta, Herculano Assis, a identidade local — marcada por famílias que vivem de artesanato, com cerâmica, palha e marcenaria — poderá ser revelada através desta transformação sociocultural da cidade.
Acervo é dividido entre o ambiente interno e o externo do museu. Foto: Leticia Remião
Acervo é dividido entre o ambiente interno e o externo do museu. Foto: Leticia Remião
“Acreditamos no renascimento de Belmonte pelo caminho da cultura e da história em razão de um manancial cultural dos mais importantes da Bahia, que abriga desde o enraizamento afrodescendente, os áureos tempos da lavoura cacaueira, a poesia de Sosigenes Costa, o esplendor paisagístico e arquitetônico, a genialidade de Zanine Caldas e tantos outros aspectos amalgamados num povo que faz da sua arte e cultura a razão das suas vidas”, afirma Assis.
“Esse novo ciclo da cidade faz todo o sentido”, conta o designer Paulo Alves, que integra o acervo com a premiada Cadeira Atibaia. “Aqui já é um polo de criatividade. Por que não juntar isso, que está adormecido, com o design? Por que não ser um polo para se discutir o design?”, provoca. “Inhotim já provou que é possível fazer um lugar fora do eixo em que você só respira aquilo”.
Premiada Cadeira Atibaia, assinada por Paulo Alves, integra o acervo. Foto: Victor Affaro
Premiada Cadeira Atibaia, assinada por Paulo Alves, integra o acervo. Foto: Victor Affaro

Por que cadeiras?

A curadoria do Museu das Cadeiras Brasileiras é assinada por Christian Larsen, que trabalha junto ao The Metropolitan Museum of Art de Nova York. Com mãe paulista, Larsen estudou a identidade brasileira no mestrado em artes decorativas, história do design e cultura material.
“Se cadeiras são como pessoas, o que as cadeiras brasileiras têm a dizer sobre o povo brasileiro? O talento, a desenvoltura, a ginga com a qual os brasileiros fabricam seus próprios produtos? As cadeiras dessa mostra contam histórias dos homens e mulheres que as usaram, seus interesses, o tempo em que viveram, os materiais disponíveis a eles e seu senso estético, inspirado pela natureza, arte e a própria cultura brasileira”, afirma Larsen no texto curatorial.
Cadeira de Ines Schertel, 2018. Foto: Leticia Remião
Cadeira de Ines Schertel, 2018. Foto: Leticia Remião
Atualmente, o acervo do museu conta com 65 peças assinadas. Entre elas, estão nomes como Lina Bo Bardi, Sérgio Rodrigues, Irmãos Campana, Hugo França, Claudia Moreira Salles, Carol Gay, Ronald Sasson e Rodrigo Ohtake.
Para Alves, a cadeira é o objeto mais icônico do design — é o mais desenhado e busca sempre o mesmo objetivo: resolver um lugar para se sentar. “Além de tudo, é o mais difícil. Para um designer fazer uma cadeira nova, ela precisa ser diferente de tudo o que já existiu. E já que esse é o móvel que mais se usa e o que mais muda de lugar, por que não usá-lo para comunicar algo além do funcional?”, acrescenta.
Cadeira de Pedro Franco, 2012. Foto: Leticia Remião
Cadeira de Pedro Franco, 2012. Foto: Leticia Remião

Planos futuros

Em breve, a Prefeitura de Belmonte vai inaugurar uma programação cultural ligada ao museu, incluindo projetos educacionais voltados à população. Além disso, Zanine revela que tem mais planos para preservar Belmonte, mas ainda guarda segredo das novidades. O secretário de cultura reforça que as iniciativas ainda vão longe. “Zanine [Caldas] não morreu. Virou árvore! Dessas árvores frondosas, cheias de sementes e que imperam na floresta”.

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