Inovação

Design

Nova solução de conforto acústico é criada a partir de fungos por startup e designers

Sharon Abdalla
20/11/2020 12:35
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A substituição dos polímeros recicláveis por matérias-primas biodegradáveis desponta como o próximo passo do setor produtivo na busca por um futuro econômico e ambientalmente sustentável. E uma das apostas mais promissoras neste sentido vem do micélio (parte vegetativa dos fungos composta por uma rede de fibras finas, semelhantes a raízes), utilizado pela startup paranaense Mush como base para uma coleção de produtos voltados ao conforto acústico nos ambientes residenciais e corporativos.
Batizada de Íris, a linha conta com painéis, nuvens (elementos decorativos) e biombos e tem design assinado pela curitibana Furf Design Studio, dos designers Mauricio Noronha e Rodrigo Brenner. Assim, as peças aliam biotecnologia, design e sustentabilidade para a composição de espaços confortáveis, com apelo estético e ambientalmente responsáveis, inspirados na biofilia.
"Nuvens" atuam no conforto acústico e como elemento decorativo do ambiente.
"Nuvens" atuam no conforto acústico e como elemento decorativo do ambiente.
"A forma [radial] tem uma subjetividade para que as pessoas possam enxergar diferentes coisas: o sol, uma flor, uma mandala", aponta Noronha ao descrever o padrão das peças. "É a união do design e da ciência. Uma forma de trazer o holofote, uma veia comercial forte para a ciência e para este material que é completamente sustentável e renovável", acrescenta Brenner.

Pesquisa

A inovação é a base da coleção Íris e ela vem de uma etapa anterior à do desenvolvimento das peças. A pesquisa científica que fez do micélio a matéria-prima que dá forma a elas é desenvolvida há cerca de três anos dentro do campus Ponta Grossa da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), onde a Mush nasceu, em novembro de 2019.
"Somos uma startup que desenvolve soluções de uso para o subproduto da agroindústria, que normalmente é utilizado para cobertura de solo ou como material de queima, para a geração de energia ou calor. Queremos dar um destino melhor para ele, agregando valor, reduzindo o impacto junto ao solo e contribuindo para a qualidade de vida das pessoas", afirmam Leandro Oshiro, graduando em Engenharia Química e responsável pela produção de fungos na Mush, e Antonio Carlos de Francisco, doutor em Engenharia de Produção e mentor na área de sustentabilidade da startup, que também conta com Eduardo Bittencourt Sydney à frente da área de desenvolvimento de bioprocessos.
Produção do micélio que dará origem às peças utiliza subprodutos da agroindústria.
Produção do micélio que dará origem às peças utiliza subprodutos da agroindústria.
No processo de produção da matéria-prima, que envolve diversas etapas, este subproduto atua como um elemento que reproduz as condições nas quais o fungo cresce na natureza, a partir do controle da temperatura, umidade, da inserção de calcário e de outros componentes para torná-lo ideal ao desenvolvimento do micélio. Após a primeira etapa de crescimento, o material é quebrado, recebe uma carga extra de nutrientes e é acondicionado nos moldes, onde novamente se expande até a formação do bloco, que então é aquecido e seco, o que evita que o fungo continue seu desenvolvimento.

Desafios

As pesquisas com micélio como alternativa de matéria-prima vêm chamando a atenção de pesquisadores e gigantes da indústria nos últimos anos em diversas partes do mundo e ganha campo especialmente no setor de embalagens, no qual a Mush também atua.
Painéis dão acabamento e contribuem para o conforto acústico dos ambientes.
Painéis dão acabamento e contribuem para o conforto acústico dos ambientes.
No que diz respeito a produtos de alto valor agregado, como os de decoração e acabamento, no entanto, um entrave é a capacidade de ganho de escala da produção, o que a startup paranaense pretende alcançar a partir de três frentes. A primeira delas é a parceria com empresas e investidores interessados na tecnologia. A segunda vem da participação em editais voltados à inovação e à aceleração de startups. Já a terceira refere-se ao investimento na empresa dos lucros gerados pela comercialização das peças da coleção Íris, seguindo o modelo de negócio B2B2C (business-to-business-to-consumer, que configura parcerias entre empresas para atingir o consumidor final), com previsão de início das vendas para abril de 2021. A Mush também prevê a possibilidade de personalização das peças conforme a necessidade de cada projeto.
"Somos a única empresa no Brasil que detém esta tecnologia e, no mundo, são poucas as que a tem, o que faz com que sejam pouquíssimas as que estão atuando neste mercado. A cadeia e as possibilidades são muito grandes", destaca Antonio Carlos de Francisco. "É uma tecnologia desenvolvida dentro da universidade e que traz uma inspiração para as pessoas que estão tentando ver outra possibilidade que não a indústria, mas, sim, a de empreender dentro dela", finaliza Oshiro.
Veja como as peças são produzidas.

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