Design

Conheça a jovem marca de mobiliário que é aposta de designers famosos de todo o mundo

Luan Galani
26/09/2018 11:00
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Poltrona Peeler, do designer Daniel Widrig, sendo impressa em 3D por braço robótico. Foto: Nagami/Divulgação

Há algum tempo os designers até poderiam sonhar em desenhar peças de mobiliário cheias de detalhes e de linhas sinuosas, mas não conseguiriam fabricá-las. Agora, a tecnologia já consegue quebrar esse grilhão por meio da impressão 3D. E uma das grandes referências nessa aventura de superar as limitações do design convencional, como destacou o arquiteto alemão Patrik Schumacher atual diretor do escritório Zaha Hadid Architects, na Semana de Design de Milão de 2018, é a Nagami.
Fundada pelos arquitetos espanhóis Ignacio Viguera e Manuel e Miki Jimenez Garcia, a empresa com nome de fruta japonesa tem apenas dois anos de vida e já é aposta de designers de pedigree, como Schumacher, Ross Lovegrove e Daniel Widrig, com criações ousadas, tecnológicas, funcionais e mais baratas.
De onde surgiu a ideia de criar a Nagami?
Nagami é o resultado de ideias jovens e frescas acerca do design e da manufatura, mas também o resultado de um momento cultural e socioeconômico muito específico no qual vivemos. Nos últimos cinco anos na The Bartlett School of Architecture, em Londres, tenho investigado novos métodos de design usando robôs. Em 2016, eu e Gilles Retsin fomos procurados pelo Centre Pompidou, de Paris, para desenvolver uma peça para a exibição “Imprimer le Monde”. Percebemos que se quiséssemos levar esse projeto além da academia, precisaríamos de uma estrutura mais profissional, e os preços muito altos de Londres nunca nos permitiriam abrir um negócio no Reino Unido.
Miki e Ignacio já tinham começado uma companhia de prototipagem digital em Ávila, na Espanha. O aluguel baixo de uma cidade devastada pela crise, mais o fato de uma atmosfera que gritava por novos negócios que pudessem reinventar os que faliram durante a crise, fez de Ávila o lugar perfeito para a aventura. Criamos assim a VoxelChair v1.0, que se tornou parte da coleção permanente do museu francês. Nagami continuou a desenvolver tecnologia e começou a criar seus próprios produtos.
O que significa o nome da marca?
É uma combinação dos nossos nomes, mas também o nome de uma fruta japonesa. ‘Naga’ significa longo e ‘mi’ é fruta. Nossas peças são brilhantes e cheias de cores vibrantes, como o interior da
Nagami. E não seria a primeira empresa com o nome de uma fruta. Se você digitar no Google a palavra ‘Apple’, você não vai achar só a fruta. Ainda temos um longo caminho até Nagami poder competir com seu rival do mundo das frutas (risos).
Qual o grande diferencial tecnológico de vocês? A utilização de extrusor que utiliza partículas de plástico em vez do tradicional filamento para construir as peças?
Existem outras empresas desenvolvendo métodos de extrusão para impressão 3D robótica. O que faz a Nagami especial não é apenas a tecnologia, mas o foco em design inovador de qualidade, desenvolvido para levar a tecnologia ao limite. A fabricação de mobiliário ainda é governada por técnicas tradicionais, como a injeção de molde. Claro que há designs de alta qualidade que podem ser alcançados com essas técnicas, mas não existem muitas que se alinham com a tecnologia 3D.
Então a Nagami preenche essa lacuna materializando produtos que os designers sempre sonharam em fabricar, mas que esperavam pela tecnologia certa. Todo produto que a gente desenvolve é feito para superar alguma limitação da impressão 3D. Alguns dos nossos primeiros produtos, como o vaso Nital, introduziram espessuras variáveis na extrusão para alcançar formas que vão além da extrusão ortogonal e gradientes de cores já incorporadas no processo. O que acabou virando a identidade da marca. E que apareceram nas cadeiras em exposição na Semana de Design de Milão 2018.
Você pontua que essa nova tecnologia torna os produtos mais baratos. Você vê isso como uma ferramenta importante para um design mais democrático?
Em geral, a impressão 3D é lenta e ineficiente. E na maioria dos casos não é efetiva. Nosso primeiro objetivo foi superar esses problemas, permitindo uma produção de produtos maiores por preços acessíveis. Desenvolvemos nosso próprio método de extrusão, como também nosso conjunto de ferramentas que tornam isso possível. Isso ainda está longe de democratizar o design, mas sem dúvida alguma o torna mais acessível, e não limitado somente a museus, galerias e colecionadores.
Estúdio da arquiteta  iraquiana-britânica Zaha Hadid assina duas peças para a marca.
Estúdio da arquiteta iraquiana-britânica Zaha Hadid assina duas peças para a marca.
Nagami faz experimentações com diferentes tipos de materiais?
Até agora focamos em extrusão com PLA, que é um material biodegradável, muito mais ecologicamente amigável que a maioria dos plásticos. Estamos fazendo experimentações com outros tipos de plásticos, como TPE, ABS e PVC. Estamos trabalhando em uma nova linha de produtos a partir de plásticos reciclados e semi flexíveis. Isso vai abrir novas possibilidades formais para nossas peças.
Que outras possibilidades do design computacional podem vir em breve?
Impressão 3D oferece mais liberdade formal que as técnicas tradicionais. Tentamos introduzir mais elementos para aumentar a eficiência da tecnologia em larga escala, mas isso é apenas o começo do que pode ser alcançado através do design computacional e da fabricação digital. Eles começam a ser explorados, mas vão mudar a maneira como concebemos o design e a arquitetura. E a Nagami está interessada em participar dessa transformação tecnológica. Mantemos nossos softwares versáteis para adaptá-los para outros processos e materiais. E em vez de esconder a trajetória que o robô faz ou alguma característica que revele o comportamento do material, nós abraçamos essas limitações e celebramos como design.
Poltrona Peeler, do designer Daniel Widrig, sendo impressa em 3D por braço robótico. Foto: Nagami/Divulgação
Poltrona Peeler, do designer Daniel Widrig, sendo impressa em 3D por braço robótico. Foto: Nagami/Divulgação

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