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Opinião: design brasileiro é essencialmente maximalista

Frank Zierenberg*
02/04/2020 11:00
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Cadeira Ella, por Jader Almeida, para Sollos | Foto: divulgação

Mais ou menos, só que melhor
Quando eu tinha 8 anos de idade, meu pai disse que havia comprado cadeiras com três pernas para a cozinha. Eu me perguntei: “três pernas? Como isso pode ser possível? Uma cadeira deve ter quatro pernas! Se você tirar uma, vai ser impossível sentar.” No entanto, nas Ant Chair, feitas por Arne Jacobsen, isso era, sim, possível, como vi semanas depois quando elas chegaram. Eu imaginava que simplesmente uma das pernas havia sido tirada, mas elas foram rearranjadas, formando um triângulo isósceles. Isso ainda faz com que a cadeira seja mais estável, porque as de quatro pernas tendem a balançar. “Isso é muito legal!”.
Essa foi minha primeira ligação consciente com a ideia de design: o desafio de arquétipos comuns para criar algo melhor e “pensar diferente”, como o famoso slogan da Apple pontua tão bem. Além disso, a Ant Chair possui um princípio que você encontra com frequência no design europeu: reduzir ao máximo tirando o que é desnecessário. “Menos é mais”, afirmou Ludwig Mies van der Rohe, “o ornamento é um crime”, disse Adolf Loss, e, mais recentemente, “menos, só que melhor”, pelo designer alemão Dieter Rams. Essas frases famosas mostram a importância da redução na forma como os europeus entendem o design.
 Ant Chair, por Arne Jacobsen | Foto: reprodução
Ant Chair, por Arne Jacobsen | Foto: reprodução
No entanto, a nova coleção Outono, criada pelo estúdio Furf, de Curitiba, possui seis pernas... E isso não é por acaso, ilustra perfeitamente minha percepção do design brasileiro: a tendência de maximizar.
Claro, é preciso cuidado para não repetir ou criar estereótipos quando falamos do “design brasileiro” ou do “design alemão”. As características de cada região sempre diferem – especialmente no mundo globalizado em que vivemos. A cultura é uma grande influência no design, e o seu local geográfico se reflete nos objetos criados.
Coleção Outono da Furf Design | Foto: Ricardo Perini
Coleção Outono da Furf Design | Foto: Ricardo Perini
Como organizador do prêmio internacional iF Design, que recebe inscrições de 50 países, estou ciente dessa questão e cuido para que cada uma seja julgada considerando a especificidade de cada região, ainda conto com o critério de um júri internacional – incluindo do Brasil. Há dez anos, esse júri tem julgado centenas de inscrições brasileiras – muitas dessas receberam o iF Design – e eu estive no país uma ou duas vezes por ano, visitando designers e fabricantes. Então penso ter conhecido ao menos uma parte do “design brasileiro”.
Quando tento encontrar um tema comum no design do Brasil, a tendência que mencionei de maximizar parece óbvia. Mais material, mais cores, mais funções, mais curvas – mais de tudo.
Observe, por exemplo, o material utilizado por vencedores do prêmio iF Design, como Jader Almeida, Ronald Sasson e a Plataforma4; o uso de cores vibrantes e de formas variadas presente no design gráfico do país feito pela Casa Rex ou a Greco Design; o design de interiores realizado por Guto Requena; as joias criativas de Antonio Bernardo e, ainda, a primeira obra a receber o prêmio iF, a estação-tubo de Curitiba. Em nenhum desses projetos a redução parece ter sido o objetivo.
Banco Serpa por Estúdio Ronald Sasson para Voler Móveis | Foto: divulgação
Banco Serpa por Estúdio Ronald Sasson para Voler Móveis | Foto: divulgação
Peço que você não me compreenda mal: absolutamente não quero sugerir que um princípio é melhor do que outro. Essa é apenas uma forma de criar e, no geral, não há nada errado com a ideia de maximização. No entanto, há uma questão: os custos para maximizar precisam ser considerados – não apenas o custo econômico, mas o social e o ambiental também.
Isso nos leva de novo para a coleção Outono, da Furf. Eles utilizaram um novo tipo de couro vegano, com carbono positivo. Ou seja, quanto mais esse material for produzido, melhor. A questão que fica não é se algo é “mais ou menos”, mas “se é melhor”.
Tradução: André Luiz Costa.
*Frank Zierenberg é diretor do prêmio alemão iF Design.

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