Design

Pai do design democrático, Stefano Seletti traz para o Brasil prestigiado evento italiano

Fernanda Massarotto *
15/10/2019 19:18
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Coleção 'Toiletpaper', um dos símbolos da marca italiana Seletti, concebida pelo artista Maurizio Cattelan e o fotógrafo Pierpaolo Ferrari. Foto: Seletti/Divulgação

“Não há meio termo. Ou ama, ou odeia”. Stefano Seletti assim define a sua marca, a Seletti. O empresário, há anos, é um dos nomes mais badalados do design italiano. Suas criações são conhecidas pela originalidade e preços acessíveis. Há um pouco de tudo. E de tudo um pouco. São mais de 1.000 peças no catálogo, entre pratos e canecas esmaltados — um clássico das cozinhas brasileiras e italianas — camisetas, garrafas e copos de vidro, toalhas de plástico, bandejas de porcelana, luminárias e até móveis.
Produtos simples que, com um toque de humor, criatividade e muita cor, se transformam em verdadeiras obras artísticas. O segredo é dar uma nova roupagem aos  objetos que — à primeira vista — nada têm de atraente. E por isso mesmo que Stefano Seletti não ama definir a sua Seletti, uma “grife” de design. “Eu até brinco que não temos clientes, temos fãs“, revela ele que transformou banais utensílios domésticos em verdadeiras obras de arte. Talvez, seja por esse motivo que, se há design democrático, Seletti é a máxima expressão dele.
Para explicar o sucesso da marca é preciso voltar no tempo. Ou seja, 55 anos atrás, quando Romano Seletti, pai de Stefano, partiu para a China com uma missão: importar acessórios domésticos que custassem pouco. Estamos falando em dos anos 60, uma época onde um descanso de panela ou um pano de prato eram comprados em mercadinhos ou armazéns. Não havia ainda as grandes redes de supermercados. “Era um ‘Made in China’ muito artesanal. Peças realizadas com palha e bambu. Só anos mais tarde, começaram a produzir em quantidades industriais e conquistaram o mundo”, explica o empresário que foi cursar contabilidade para cuidar da administração da empresa de família.
O contador — que quase virou advogado — viu sua vida mudar quando, aos 17 anos, foi convocado para conhecer o próprio trabalho. Foram 25 dias passados entre a China, Índia, Filipinas e Tailândia. “Uma viagem que mudou a minha concepção de vida”, relembra Stefano Seletti que passou 12 dias em Guangzhou, a terceira maior cidade da China, visitando os fornecedores e fábricas onde o pai comprava as mercadorias a serem revendidas na Itália. “Hoje se fala muito sobre a China. Mas o país que conheci era outro. No aeroporto, eram os passageiros que literalmente tiravam as malas do avião. Cenas surreais que não passam pela nossa cabeça e a mostra a evolução de uma nação nos últimos 30 anos”, conta ele que retorna regularmente ao país asiático onde inclusive produz todas as peças vendidas pela Seletti.
via Rocca 50<br>46019 - Viadana - MN - Italy
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Tudo porém mudou no final dos anos 80 quando as redes de supermercados começaram se multiplicar nas cidades italianas e Stefano Seletti decidiu se ocupar da venda para a grande distribuição. O que se encontrava em unidades nas feiras passou a ser comercializado em embalagens elaboradas nas prateleiras do Carrefour e outros pontos. O faturamento aumentou bem como a concorrência. Era hora da criatividade entrar em cena. “A ideia foi criar algo acessível, original e é claro que fosse reconhecido como um produto Seletti”, relembra ele que, há quase 20 anos,  apresentou ao mercado a linha ‘Estetico Quotidiano’.
Garrafas e copos de vidro que ao primeiro olhar parecem de plástica. Potes de cerâmica que lembram latinhas de molho de tomate. Tigelas e travessas em cerâmica cópias fiéis das que se vendem em alumínio vendidas em badaladas concept-stores. Não é preciso dizer que o projeto abriu as portas para que a marca ganhasse reconhecimento por seu design contemporâneo.
Coleção 'Toiletpaper', um dos símbolos da marca italiana Seletti, concebida pelo artista Maurizio Cattelan e o fotógrafo Pierpaolo Ferrari. Foto: Seletti/Divulgação
Coleção 'Toiletpaper', um dos símbolos da marca italiana Seletti, concebida pelo artista Maurizio Cattelan e o fotógrafo Pierpaolo Ferrari. Foto: Seletti/Divulgação
O passo sucessivo de Stefano Seletti comprovou que o seu olho clínico e a sua intuição estavam certos. A amizade com o artista Maurizio Cattelan (mais conhecido por suas satíricas e controversas esculturas) e o fotógrafo Pierpaolo Ferrari gerou uma revolução na empresa. Imagens, gravuras e conceitos passaram a ‘vestir’ aquela peças comuns do nosso dia-a-dia. Canecas, bules e pratos esmaltados passaram a trazer estampadas figuras inusitadas. Muita cor e ironia. Nascia ‘Toiletpaper’ — o mesmo nome da revista que Cattelan e Ferrari publicam ainda hoje só com imagens. Em 2014, as peças da coleção foram parar até nas prateleiras do MoMa, o Museu de Arte Moderna de Nova York.  Como explicar esse triunfo? “Simples”, rebate o empresário italiano. “Esse objetos possuem uma memória afetiva, muitos deles estavam nas casas de nossos pais e avós. Fazem parte da nossa cultura doméstica. E o melhor de tudo, é que ficaram mais bonitos, são vendidos por lojas bacanas em todo o mundo por preços super acessíveis”.
Coleção 'Toiletpaper', um dos símbolos da marca italiana Seletti, concebida pelo artista Maurizio Cattelan e o fotógrafo Pierpaolo Ferrari. Foto: Seletti/Divulgação
Coleção 'Toiletpaper', um dos símbolos da marca italiana Seletti, concebida pelo artista Maurizio Cattelan e o fotógrafo Pierpaolo Ferrari. Foto: Seletti/Divulgação
Prestes a completar 50 anos, mais de 20 dos quais à frente da Seletti, Stefano admite que não se sente um designer. “Trabalho com design mas não sei fazer um desenho no computador”, brinca ele que, apesar da lacuna técnica, se vale de grande percepção criativa. É de sua autoria a genial ‘Design Pride’, que acontece durante a Semana do Salão do Móvel, em Milão. Desde 2016, ele leva para as ruas do centro da cidade o conceito do design democrático com muita música e projetos propostos por estudantes.
A parada inclusive irá ganhar uma nova versão, o Design Pride Brazil, que acontecerá no dia 24 de novembro, em São Paulo, Alameda Gabriel Monteiro da Silva, organizada pelo Brazil S/A. “Será uma ocasião única. Estou muito feliz em participar”, anuncia Stefano Seletti que com o Brasil mantém uma estreita relação. Foi em São Paulo que o empresário conheceu a mulher, a paulistana Adriana Toledo, com quem está casado há quase 20 anos e tem duas filhas.
O casal vive e trabalha em Cicognara, cidade natal do italiano, que fica a 127 km de Milão, onde há dois anos foi aberta a primeira monomarca Seletti, no bairro de Brera. No início de novembro, será a vez de Amsterdã, na Holanda, e depois Miami. “Temos ainda uma loja em Verona, uma pop-store em Parma, um corner na Selfridges, em Londres”, conta orgulhoso Stefano Seletti, que embora, não admita, fala muito bem português. “Ainda quero ver a marca no Brasil. Mas é muito difícil. Quando o produto chega lá, o preço é quase 3 vezes mais maior. Mas quem sabe um dia”, sonha o pai do design democrático.

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