Entrevista

Design

“O papel do design é incomodar”, provoca designer que leva o nome do Brasil pelo mundo

Sharon Abdalla
25/06/2020 20:30
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Foto: Marco Antônio

Poucas marcas exaltam o DNA brasileiro de forma tão expressiva quanto a A Lot Of Brasil. Além do nome e da nacionalidade do designer Pedro Franco, à frente dela, a indústria de design investe pesado em pesquisas e desenhos de peças que tem a cultura, os saberes e a matéria-prima nacionais como conceitos-base. Tudo isso a partir da mescla entre tecnologia e o fazer manual, entre a racionalidade pura dos dados e a emoção.
A emoção está presente nas peças desenhadas por Franco, mas também nas que levam a assinatura de grandes ícones do design mundial, como Alessandro Mendini, Karim Rashid e Fabio Novembre. Produzidas no Brasil a partir de um briefing nacional, traduzem o melhor que a glocalidade pode oferecer: apropriação de elementos locais dentro de um contexto global.
O exemplo mais recente está na coleção Rendas, pré-lançada em primeira-mão pela HAUS no início de junho e que tem lançamento oficial marcado para a 60ª edição do Salão do Móvel de Milão, em abril de 2021. A A Lot Of Brasil é a única marca brasileira a expor no pavilhão 20, o mais concorrido deste que o maior evento do design mundial. Com mais de 20 peças, a coleção destaca o trabalho das rendas tecidas por artesãos de todo o país, que são eternizadas a partir de um banho de metal para que enrijeçam e sirvam de encosto e tampo para mesas e cadeiras. Também fazem parte da coleção as rendas desenhadas por Franco a partir do mix de pontos e formas originárias do processo artesanal.
Coleção Rendas transforma eterniza peças artesanais em encostos de cadeiras e tampos para mesas. Foto: Divulgação
Coleção Rendas transforma eterniza peças artesanais em encostos de cadeiras e tampos para mesas. Foto: Divulgação
“Acredito que o design é a base para um grande manifesto. Meu manifesto deste ano é um contraponto a um mundo cada vez mais conduzido pela alta tecnologia. Trabalhamos com tramas, porém tramas do feito à mão, da artesania, das rendas, e não as tramas da matrix. Peças nas quais o trabalho manual estará presente, criando tangentes com o mundo tecnológico. A união do coração com experimentos tecnológicos. O mundo em que acreditamos para o futuro”, afirma.
Em entrevista exclusiva à HAUS, Pedro Franco fala, entre outros temas, sobre o começo de sua carreira e do papel do design. Confira!
Foto: Marco Antonio
Foto: Marco Antonio
Sua formação é em Arquitetura, mas sua carreira é pautada no design. Como se deu este processo? Chegou a executar algum projeto arquitetônico? 
Para mim sempre foi natural transitar entre o mundo da arquitetura e do design. Afinal, sempre que pensamos em um processo construtivo de maior ou menor porte falamos de questões estruturais: esforços fletores, momentos etc. Muitos arquitetos se tornaram grandes designers: Mies van der Rohe, Le Corbusier, Oscar Niemeyer. A minha vida profissional no design foi anterior a de arquiteto. Isso porque, ainda estudante de Arquitetura, fui premiado em um Concurso Nacional (Brasil Faz Design) e expus meu trabalho no Salão [do Móvel] de Milão. Isto teve uma grande repercussão e, no meu retorno, demandas pelo meu trabalho como designer começaram a acontecer. Foi inclusive um processo árduo finalizar a faculdade, em função da agenda de trabalho. Exposições, venda e entrega de produtos, [o processo de desenhar] novas criações ficou cada vez mais acentuado, muito graças à mídia nacional e internacional que repercutiram muito meu trabalho.
Quando me formei, em 2002, recebi vários convites para efetivar projetos de arquitetura. E, assim, resolvi ampliar meu estúdio para atender o mercado de arquitetura e de design. Mantive ambos entre 2002 e 2006, e realizei vários projetos de arquitetura, sobretudo para os setores do mercado de entretenimento e corporativo. Bares e restaurantes tradicionais de São Paulo, como Club Disco, Bar Maevva, Bar Pennelope, E-musik Disco, Thay Disco, Agência Amaral Produções, BarSan Galo, para destacar alguns.
Porém, o que me dava realmente prazer era desenhar os móveis que compunham os projetos. Daí nasceu minha empresa, a A Lot Of Brasil, que vem do nome em inglês para vendas em grande demanda. A independência criativa, mui-to mais ampla do que no projeto de arquitetura, era o que me dava prazer no processo de design. Por isso, em 2016 resolvi mudar meu estúdio para a alameda do design, a Gabriel Monteiro [em São Paulo], e seguir exclusivamente neste mercado.
Sofá  Underconstruction é uma das peças icônicas do portfólio do designer.
Sofá Underconstruction é uma das peças icônicas do portfólio do designer.
O curioso é que, passados quase 15 anos, estou a pleno vapor com projetos de arquitetura. Mas da forma que gosto, com briefing amplo e liberdade criativa. Na verdade, essa é uma exigência para o aceite de meus clientes. Hoje estamos com dois projetos de grande porte em andamento, para  execução ainda em 2020, que em breve contarei com exclusividade à HAUS. Misturar ambos os mundos, com liberdade criativa, é a utopia que persigo.
Você é um dos profissionais brasileiros que mais vezes participou do Salão do Móvel de Milão e o único expositor nacional dentro do pavilhão 20 – o mais badalado da RhoFiera. Conte-nos sobre sua primeira participação, quantas vezes já participou da feira e o seu caminho neste que é o principal evento de design do mundo.
Eu tenho dois debuts no Salão de Milão. O primeiro, como designer, quando ganhei o Brasil Faz Design e tive a oportunidade de expor (e conhecer) pela primeira vez [na Semana de Design de Milão]. Era um movimento, ainda paralelo (movimentos) emergentes que ocorrem no entorno do grande evento), chamado Manifestazioni Fuorisaloni. Uma oportunidade incrível, que me mostrou o quão sério é o tema design e o quão grande ele pode ser. O mundo está por lá para ver o que as mentes criativas de todos os cantos do globo apresentam.
Foto: Marco Antonio
Foto: Marco Antonio
O segundo debut aconteceu quando fui convidado pela curadora do Salão, Marva Griffin, a apresentar meu trabalho no evento principal, o Salone Internazionale del Mobile, que ocorre no pavilhão da Rho Fiera. A mostra da Marva, o Salone Satellite, escolhe por volta de cem jovens e promissores designers, dando a possibilidade de exporem seus trabalhos no salão principal. Por lá pude observar o potencial econômico da Semana de Milão, da qual participei por três anos consecutivos (quando se é selecionado[para o Salone Satellite], a seleção é para três anos seguidos de participação), e saí com a convicção de criar minha própria indústria: a primeira indústria de alto design do Brasil. E assim nasceu a A Lot of Brasil. Formei um verdadeiro dream team de designers mundiais (junto a mim) para criar a partir de um briefing brasileiro peças para serem produzidas por aqui.
Uma forma de antropofagia do design, na qual busquei o que o mundo tinha de melhor para adaptá-lo a nossa cultura, produzir por aqui e devolver para o mundo. A tríade da marca foi criada sobre o preceito de um design emocional, tipicamente brasileiro, em função das matérias-primas e do storytelling que o envolvem.
Com essa identidade global, mas local, fomos ganhando espaço no evento em função do comitê curador. Passamos pelos Hall 6, 10 e, finalmente, chegamos ao Hall 20, ao lado das [principais] marcas que visitava e para as quais sonhava desenhar no início de minha carreira. Um sonho que se tornou realidade.
Quais peças considera como ícones do seu trabalho até aqui?
Falar sobre peças icônicas seria muito suspeito se levasse em conta somente meu ponto de vista. O melhor e mais genuíno reconhecimento para um criativo ocorre quando determinado produto tem grande aceitação do público. A partir deste argumento, acredito que tenha duas peças bastante icônicas e conhecidas, que ganharam vida própria, com as pessoas conhecendo mais a elas do que a mim mesmo. Peças que atingiram o objetivo para o qual foram criadas. Uma, obviamente, é a Cadeira Esqueleto, uma das peças mais vendidas no que tange o alto design no Brasil. Ela me enche de orgulho por ter como base de sua produção uma matéria-prima exclusiva em todo o mundo, o coco injetado. E faz parte do acervo de novos materiais do Vitra Schadeupot, [que integra a coleção do Museu de Design da Vitra], na Suíça.
  Cadeira Esqueleto, uma das peças mais famosas do designer, em nova cor, que será lançada oficialmente em 2021. Foto: Divulgação
 Cadeira Esqueleto, uma das peças mais famosas do designer, em nova cor, que será lançada oficialmente em 2021. Foto: Divulgação
Outra peça é a Underconstruction [poltrona e sofá], criada em 2008. Ela foi apontada como uma das quatro grandes tendências de Milão, em 2017, pelo jornal americano “The New York Times”, e também é um best seller de vendas.
Irreverência é um adjetivo comumente atrelado às peças que assina. Como descreve o conceito por trás do trabalho de Pedro Franco?
A primeira pergunta que faço ao criar uma peça é: ela tem por que existir? Há algo parecido? Ela traduz meus valores (de hoje)? E, por fim, daqui há dez anos me orgulharei de ter criado este produto?
O ponto principal para minha criação é que ela represente exatamente aquilo que eu sou naquele exato momento. Sempre brinco que, se fosse fazer uma nova tatuagem, seria o trecho da música de Raul Seixas: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Cada peça que eu criei traduz exatamente como eu me sinto, como eu estou e quais são as minhas crenças naquele instante. Nunca crio em função de modismos, mas sim das minhas convicções, de uma matéria-prima pela qual me apaixonei e por um processo produtivo que eu vi e eu amei. Observo que, em função dessas verdades, minhas peças acabam tendo uma atemporalidade.
Eu acredito que o papel do design é incomodar (de uma certa maneira). Uma peça criada sem verdade própria é um manifesto vazio. Uma peça criada por modismo está fadada a ter vida curta. Veja os clássicos do design: são peças que traduzem, e muito, a filosofia dos criativos que estão por trás delas.
A brasilidade também ganha destaque em suas criações, mas não de uma forma caricata. É um conceito que procura seguir?
Eu não gosto de rótulos, não gosto de falar do Brasil e falar somente do carnaval, do futebol, assim como o mexicano não gosta de ser atrelado ao chapéu ou o italiano, à tarantella. Claro que não estou negando a importância dessas grandes festividades para a cultura brasileira. Só estou dizendo que acredito que essas são apenas algumas formas de expressar a nossa brasilidade.
Então, procuro fugir desses estereótipos. Acredito que não exista um Brasil, mas vários "Brasis". Não acredito em um povo brasileiro, mas em vários diferentes povos brasileiros. Como representar a brasilidade do Nordeste? É igual a do Centro Oeste? Ou a do Sul? É claro que não. Essa grande diversidade que compõe o Brasil é um exemplo para o mundo, inclusive. Aqui não há espaço para preconceitos de gênero, de raças, de credos. Também acredito que a brasilidade, para ser genuinamente traduzida, não deve ser expressada apenas por uma forma do fazer. Mas, sim, explorando e contando as histórias que estão por trás desse fazer. Histórias antropológicas, histórias à la Darcy Ribeiro.
Aparador Desconstruction. Foto: Divulgação
Aparador Desconstruction. Foto: Divulgação
O que ou quem te inspira?
Busco o novo no mundo em que estou inserido no momento. Em minha nova coleção há peças inspiradas em desde um parlatório que vi na igreja, na coleção de rendas que acumulo por minhas andanças pelo Brasil, em uma técnica de produção com a qual me deparei ao visitar uma joalheira (e adaptei para o mobiliário), em duas esculturas que registrei em visitas a museus e em minha imersão na Bahia (no último ano estive por três vezes no estado). Em nenhum momento pesquisei algo na internet, em livros ou na página de outros criativos.
A criatividade está nas ruas, nas pessoas, no meu entorno. Desta grande colcha de retalhos nascem minhas novas coleções. Eu acho que um bom criativo tem que ter um olhar curioso. E eu estou sempre curioso. Sou um eterno escravo de referências visuais.
Você tem ídolos ou profissionais que admira?
Sim, claro. É inclusive difícil escolher apenas alguns. Mas seria injusto em não citar Alessandro Mendini, de quem tive o privilégio de me tornar amigo. Com ele aprendi os maiores valores por trás do design. O primeiro deles é o de ser um servo do design, de não ter vaidade e de ter comprometimento com cada criação. Mendini foi responsável por um rompimento muito importante no mundo do design, na década de 1980, com o grupo Alchimia, que mostrou que o design deveria ser mais do que forma e função, que deveria transcender os valores de Bauhaus. Foi um movimento muito provocativo e, graças a ele, abriu-se espaço para um design mais irreverente.
Outro grande pensador, cujos livros estão sempre em minha cabeceira, é o filósofo Victor Papanek – especialmente o “Design for the Real World”. Papanek foi um visionário e até hoje seu pensamento é contemporâneo. Sustentabilidade e valor do design são aspectos abordados no livro de forma bastante disruptiva.
Você é um dos responsáveis por levar o nome do Brasil para os quatro cantos do mundo e traz isso, inclusive, no nome de batismo de sua marca: A Lot Of Brasil. O que o motivou a investir em uma indústria própria?
Eu sempre admirei muito como se desenvolveu o design italiano. Dentre minhas idas e vindas a exposições na Itália, tive a oportunidade de conhecer não somente os designers, mas também os industriais que fizeram parte do desenvolver dessa história. E com eles aprendi muito, sobretudo a pesquisar e desenvolver produtos que traduzam e valorizem minha própria cultura. E eles valorizam muito o Made in Italy, sinônimo de qualidade e inovação.
Cadeira Fla, da coleção Rendas, em edição limitada.  Foto: Divulgação
Cadeira Fla, da coleção Rendas, em edição limitada. Foto: Divulgação
No passado observava um caminho muito distante desses valores no Brasil. As indústrias se preocupando em copiar, reproduzir peças sem alma e identidade e, muitas vezes, sem design. Certa vez me deparei com um artigo que dizia que 70% das espécies amazônicas são ainda desconhecidas. Como designer, também me sentia só. Sem interlocução com a indústria.
Assim, mesclando os dois pontos acima, foi quase um caminho natural decidir por fundar meu próprio brand, para produzir peças com alma brasileira, com tecnologia brasileira, porém com tangentes com toda a vanguarda do design mundial. Contratei um grande curador e teórico de design, Vanni Pasca, para me ajudar nesse processo. Vanni, a quem conheci ainda em minha primeira ida à Itália, em 2000, e que se tornou um grande amigo, conhece como poucos as etapas para o desenvolvimento de uma grande marca, e criou a base para o nosso planejamento estratégico.
Iniciamos processos de pesquisa, subsidiamos algumas instituições, criamos o briefing com nosso DNA. E assim chegamos a resultados incríveis: a cadeira assinada pelo belga Xavier Lust, produzida com óleo de mamona e juta prensada; o sofá desenhado pelo italiano Alessandro Mendini e produzido com madeiras sustentáveis amazônicas (que envolve o trabalho de comunidades locais); a cadeira assinada pela eslovena Nika Zupanc e produzida com injeção de cana de açúcar, apenas para citar alguns exemplos. Sou apaixonado pelo Brasil e acredito muito no nosso potencial.
Nomes estelares do design mundial, como Alessandro Mendini e Karim Rashid, já assinaram peças para a A Lot Of Brasil. Em que medida o “DNA brasileiro” presente nestes trabalhos faz com que se diferenciem de outros assinados por eles em outras partes do mundo?
Vivemos em um mundo global. Não dá para fazer de conta de que o mercado internacional não nos afeta. A realidade industrial é completamente outra, tivemos uma revolução industrial nos últimos dez anos. Acredito que há uma linha tênue para definir o colonizado do cosmopolita. Somente reproduzir um cenário internacional, sem nenhuma consideração à cultural local, é uma ação extremamente colonizada. Cosmopolita, porém, é a pessoa, ou a cidade, conectada com o mundo todo, mas que tem características próprias (e atraentes) muito fortes.
Cadeiras da coleção Rendas. Foto: Marco Antonio
Cadeiras da coleção Rendas. Foto: Marco Antonio
E é exatamente a partir desse cenário que procuramos trabalhar. Nos conectar com designers de todo o mundo para que pensem sobre um briefing brasileiro, para peças que serão 100% Made in Brazil. Uma peça assinada por um grande nome do design global, mas, mais que isso, produzida com matérias-primas únicas, locais. Este fator é fundamental no quesito competitividade.
A A Lot Of Brasil também tem se tornado referência em pesquisa de novos materiais para mobiliário. O que justifica essa busca? 
A A Lot Of Brasil se tornou uma grande plataforma de excelentes pesquisadores que temos no Brasil. Encubamos, investimos desde em estudantes recém-saídos da universidade (mas que têm uma grande ideia) até em PhDs que desenvolveram grandes matérias-primas.
Certa vez observei um grupo de estudantes que estava produzindo bicicletas com juta e resina de mamona. Os contratei para criarem a Cadeira Cone, assinada pelo belga Xavier Lust. Contratei um PhD em novos polímeros e com esse auxílio criamos a primeira cadeira injetada com elemento orgânico (semente de frutas), a Esqueleto, de minha autoria. Investimos no maior molde de mobiliário do Brasil para a produção do Sofá RPH, em rotomoldagem, feito com pó de madeira e eco-polímero. Os primeiros dois anos da A Lot of Brasil foram focados neste tipo de pesquisa. O Brasil pode se tornar uma potência no que tange novas matérias-primas sustentáveis.
Infelizmente, falta apoio do poder público e das organizações setoriais para tais desenvolvimentos. Estes fatores são fundamentais na competitividade internacional. Produzir peças sem alma, sem diferenciação e sem sustentabilidade torna nosso mercado fraco para a nova realidade dos mercados competitivos. O Brasil tem essa grande potencialidade que, se bem explorada, pode nos tornar um grande player mundial.
Poltrona Kaos, por Pedro Franco. Foto: Divulgação
Poltrona Kaos, por Pedro Franco. Foto: Divulgação
Design e função são praticamente sinônimos. Mas, além dela, que outras características são essenciais para um bom design?
Forma e função são obrigações intrínsecas ao produto. Mas acredito que, nos dias de hoje, se faz imprescindível um terceiro elemento, a emoção. Este, inclusive, é um ponto do ser sustentável. Produtos que não são criados em função de modismos, que oferecem algo a mais ao consumidor e que, desta maneira, são conservados com o passar do tempo. Um produto deve ter forma, função, emoção, sustentabilidade. Estes fatores o tornam único e competitivo em um mercado no qual o quesito preço está fadado a ser dominado pela China.
Qual é o potencial de impacto do design na vida das pessoas?
Acredito e parafraseio o grande pensador Victor Papanek “o que realmente importa sobre o design é sobre como ele se relaciona com as pessoas”. O design é feito para pessoas, no sentido mais amplo da palavra. Sendo assim, é responsabilidade do designer pensar na vida pós-uso do design, na responsabilidade da criação.
Alguns críticos do setor apontam que o desenho tem perdido cada vez mais a originalidade e inventividade e que os produtos têm sido criados por uma mera sobreposição de materiais. Você concorda?
Acredito que o design é uma ferramenta cada vez mais fundamental para a cadeia produtora. Temos uma geração mais consciente no que tange o consumo e mais livre de modismos. Logo, cada produto deve mostrar a que veio. Porém, como em tudo, existem bons e maus desenhos. Se ele é criado sem verdade, de forma pasteurizada a partir de uma busca na internet, acaba por ser um produto frágil, um desenho fadado ao fracasso.
Alguns designers demonstram insatisfação com a necessidade de criar e lançar peças novas no mercado todos os anos. Mercado e consumidores conseguem assimilar tão rapidamente as mudanças?
Na verdade, vejo designers focados em criar quantidades grandes de produtos, sem grande comprometimento. Um produto não pode e não deve ser criado sem uma base. Para quem estou criando? Como ele será produzido? Quais os diferenciais? Como ele será comunicado? Produtos que não respondam a esses questionamentos estão fadados ao fracasso. Não tenho pressa em minhas criações, não lanço um produto sem que ele esteja pronto para o mercado e sem uma estratégia de comunicação para gerar um valor sobre essa peça. Um produto demanda pesquisa e tempo para ser desenvolvido. Vejo grandes indústrias com uma velocidade de lançamento anual e, por vezes, semestral, algo completamente incompatível com a velocidade de absorção do mercado. São empresas que não entenderam que os tempos mudaram. Tão importante quanto o produto é a comunicação. O mundo não é mais focado na produção. E, muitas vezes, o bom produto não se vende mais sozinho. Temos um mercado mais competitivo e em revolução. Não são processos sustentáveis.

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