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Qualidade dos móveis no Brasil é muito elevada, destaca Edward van Vliet, designer holandês

Cristina Seciuk e Sharon Abdalla
06/03/2023 18:58
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Em um mundo onde a informação circula quase que em tempo real de maneira global, é interessante observar como as particularidades locais são reconhecidas e interpretadas não apenas pelos seus, mas também pelos estrangeiros que as visitam e interagem com elas.
É o que acontece na nova coleção de móveis outdoor apresentada pela Modalle, que convidou o designer holandês Edward van Vliet, que assina criações para marcas como Paola Lenti, Moooi e Moroso, para desenhar peças com DNA brasileiríssimo.
Apresentadas em evento realizado na Casa Mollde, em São Paulo, no fim de janeiro, elas unem rattan e alumínio em mesa e cadeiras que circulam nos ambientes externos e internos, como explica Vliet, em entrevista exclusiva para HAUS. Confira!

Como descreveria a coleção elaborada com a Modalle e – especialmente – a experiência de desenhá-la? Em se tratando de uma marca brasileira, que tem por mote o DNA nacional, quais foram as inspirações que vieram dessas raízes, uma vez que o contexto é ponto importante nos seus trabalhos?

Para mim, a coleção é baseada e relacionada com a natureza. Também na estrutura da mesa Parsifal, da cadeira Orfeo e dos bancos Mimi, como podemos observar nestes primeiros lançamentos que apresentamos em São Paulo da nova linha com a Modalle, é possível notar que são todos construídos com uma base em um formato de bastões, ou varetas, que remetem visual e sensorialmente aos galhos de uma árvore. E são estruturas abertas. Para mim, isso é algo formidável, pois os móveis, de certa forma, desaparecem na natureza, então você pode olhar através das peças. Há uma certa transparência. Acredito muito na composição do design em camadas, que é uma das minhas nove chaves criativas. Com esta premissa, o usuário pode ver o que vem depois e, nesta linha, ele pode realmente abraçar a natureza que envolve o seu redor. Esta premissa estará também presente nas demais peças da linha, que serão lançadas ao longo do ano, como os modelos de espreguiçadeira e balanço.
Outra inspiração muito importante desta linha é o Brasil, especialmente São Paulo, que é onde já estive. O que mais sobressai aqui, para mim, é a conexão entre a natureza e a arquitetura. A construção desta nova linha com a Modalle está muito relacionada com a arquitetura, envolvendo a natureza. Então, há a combinação harmoniosa entre arquitetura e natureza na linha Edward van Vliet + Modalle. Os tampos da mesa, por exemplo, vem de materiais minerais [o compósito natural Laminam, também lançamento da Modalle para a Coleção Freedom - 2023], explorando o potencial da cerâmica. Também é muito importante ter o trabalho, o primor artesanal. Em sinergia com os materiais naturais. Creio que essas são as mais importantes diretrizes que escolhi para esta nova linha com a Modalle.
Linha assinada para a Modalle é o primeiro trabalho do designer holandês no Brasil.
Linha assinada para a Modalle é o primeiro trabalho do designer holandês no Brasil.

Foi algo muito particular criar para uma empresa brasileira, em que sentido?

Sempre trabalhei, na maior parte, com marcas europeias. Em minha primeira experiência com o Brasil, o que chamou minha atenção foi a qualidade dos móveis. É muito elevada. Eles são muito bem produzidos, também quanto às técnicas empregadas. E em meu primeiro contato, fui positivamente surpreendido e fique animado com as possibilidades no Brasil. Para mim, também é muito importante a conexão com as pessoas, com a empresa para a qual estou criando. E, neste caso, a equipe da Modalle é muito receptiva e amigável, é realmente um prazer trabalhar juntos. São pessoas que têm a mente muito aberta. Não vi nenhum sinal de arrogância, é realmente um prazer. Tanto na fábrica, em Votuporanga, quanto aqui em São Paulo, no evento de lançamento na Casa Mollde.

De que modo o seu estilo está traduzido nesta coleção? Poderia apontar alguns destaques que aparecem nas peças e que você observa como representativos das suas nove chaves de design?

Minha assinatura está de fato delineada pelo que chamo de “as 09 chaves do design”. Então, em tudo o que faço há esta conexão. As mais importantes chaves que você pode ver nesta nova linha são: as Camadas, como comentei anteriormente, em que você pode olhar através dos móveis e ver realmente como eles são construídos, em seus diferentes níveis; os Materiais, que são muito importantes, neste caso a combinação do metal, o alumínio, com o mineral/cerâmica e os tecidos – para a coleção, estamos desenvolvendo uma nova linha de tecidos outdoor; as Cores, também são uma chave muito importante, aqui neste primeiro lançamento trouxemos uma composição mais discreta, mas a ideia é trazer cores incríveis, com combinações extraordinárias; a Natureza, claro, é uma chave muito importante, em que toda a estrutura foi construída de modo mais orgânico, remetendo aos galhos das árvores; há também um pouco da presença da chave Tradição, é uma linha moderna, mas também dialoga com o passado; também a chave Luz, a luminosidade está presente; assim como a chave Tesouros, pois ao final penso que estas peças são pequenos tesouros na natureza.

Em relação à chave Camadas, que é muito marcante em seu trabalho, ela se mostra central também em sua atuação como designer de interiores, certo? Você está sempre pensando em peças de mobiliário ou decoração e em espaços que podem tanto aparecer, delinear-se materialmente, quanto desaparecer no contexto?

O que é muito importante para mim é o contexto. Não posso criar nenhuma peça de design sem considerar o contexto. Para a criação desta linha com a Modalle, o contexto é a Natureza. E, junto com a Natureza, os contextos de Espaço e Liberdade. São aspectos que aprecio muito. Em relação ao design de interiores, o contexto, na minha concepção, é sobre o que está circundando aquele ambiente, quem são as pessoas usando os produtos ou espaços. E sempre faço combinações de diferentes cores, materiais, padrões. Ao final, tudo está totalmente em equilíbrio. Outro atributo que é muito importante são as proporções. Se o espaço for grande demais, você poderá se sentir perdido. Então, o senso de intimidade, proximidade, é também muito importante.
Cadeira Orfeo, por Edward van Vliet para Modalle.
Cadeira Orfeo, por Edward van Vliet para Modalle.

Mesmo se você está em uma área externa?

Sim, mesmo em um projeto outdoor. Neste cenário em que mostramos a nova linha aqui na Casa Mollde, por exemplo, estamos cercados por plantas, árvores, pela natureza. E gosto muito disso. Ao mesmo tempo, estamos protegidos pela própria vegetação do sol, temos a sombra natural.

Poderia falar sobre as escolhas feitas para materiais e cores? Qual intenção elas carregam?

A linha foi inicialmente imaginada em rattan, mas para um mobiliário outdoor realmente durável e resistente é melhor usar o alumínio, que tem inclusive mais fácil manutenção. Dura por muito mais tempo em perfeitas condições. Isso é muito importante também. Creio que o peso, ou a leveza, no caso, é uma intenção, tanto no alumínio quanto no Laminam [inovador compósito mineral natural utilizado no tampo da mesa]. A cerâmica, o caso no Laminam, é mais leve que uma rocha sólida. E um móvel outdoor tem que ser prático, também, e funcional. Você tem que conseguir mover os móveis, organizar o espaço com facilidade. Hoje, os móveis têm que que ser parte do espaço, do contexto. Nas cores, como comentei, além das opções que acompanham o lançamento aqui, criamos uma cartela incrível, específica para esta coleção, que será lançada em breve.

Você sempre trabalha com o alumínio?

Eu quis isso pela primeira vez. É realmente excepcional, estar trabalhando com o alumínio. Gostei muito de trabalhar este material, por sua leveza. Trabalhamos o material em um resultado muito orgânico. Não se parece com um metal, mas sim com algo muito macio e natural, creio que pela técnica do rattan, que é muito orgânica, e que transportamos aqui. O alumínio também pode ser dobrado, porque é muito flexível ao seu modo, comparado ao aço. Em relação ao tampo da mesa, com o Laminam, pudemos trabalhar o material com uma espessura muito fina, que visualmente dá a sensação de estar quase flutuando. Gosto muito desta ideia: está lá, e ao mesmo tempo, não está. E, quando você vê a superfície, temos a pedra, o mineral. Está muito conectado à natureza. Eu, particularmente, gosto da leveza, mesmo quando trabalhando materiais muito fortes e resistentes. Não gosto de peças pesadas, que sejam por demais dominantes. Para mim, esta questão de estar e não estar lá é muito importante. Especialmente no outdoor. Na minha visão, a natureza deve ser o aspecto dominante e não as peças de mobiliário ou decoração. As peças são parte da natureza e do ambiente.
Mesa Parsifal tem estrutura em alumínio e tampo em Laminam.
Mesa Parsifal tem estrutura em alumínio e tampo em Laminam.

Sua nova linha com a Modalle também pode ser utilizada em ambientes indoor?

Sim, o outdoor sempre pode ser usado indoor. Têm esta flexibilidade.

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