Estilo & Cultura

A águia de duas cabeças que sobreviveu a demolição de um prédio na Zacarias

Sharon Abdalla
02/10/2017 10:30
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Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Quem circula pelo centro de Curitiba e tem por hábito apurar o olhar para seus detalhes já deve ter notado uma presença curiosa no alto do Edifício Acácia, localizado na Praça Zacarias. Pousada com as asas abertas no vão entre as torres deste prédio e de seu vizinho, uma águia bicéfala aguça a imaginação de quem tem o endereço como rota e serve até de enredo para lendas urbanas.
Ao vislumbrar a estátua, o que muitas pessoas se perguntam é o porquê de ela estar em um local que, à primeira vista, pode parecer fora de contexto. Na verdade, a escultura, que é um dos símbolos da maçonaria, pontua a localização de uma das lojas maçônicas mais antigas da cidade, a Dario Vellozo nº 1213, que funciona até hoje no endereço.
A águia bicéfala representa o poder e a nobreza do conhecimento, um dos pilares da maçonaria, como explica o grão-mestre Luiz Rodrigo Larson Carstens, do Grande Oriente do Brasil – Paraná. “Ela é o principal símbolo do grau máximo [de conhecimento], que é o grau 33”, acrescenta Jefferson Luiz, bibliotecário da loja Dario Vellozo. A escultura ainda carrega outra mensagem simbólica, que é a de estar sempre atenta e vigiando tudo, o que remonta ao criador, como pontua Carstens.
A Aguia e um dos simbolos das massonarias. Foto: Reprodução
A Aguia e um dos simbolos das massonarias. Foto: Reprodução

O prédio

O Edifício Acácia está localizado na área onde funcionava a Loja Fraternidade Paranaense nº 555, fundada em 1897. Após vencer uma concorrência pública promovida pelo governo do estado, a loja adquiriu o lote – onde até então estava instalada a primeira sede própria do Museu Paranaense – em 1899 e construiu nele seu novo templo.
Inaugurado em março de 1919, o templo já trazia no alto de sua fachada a águia bicéfala. Além das lojas maçônicas (como são denominadas as reuniões frequentadas pelos maçons), a escola primária “José Carvalho”, de ensino público, funcionou no local até meados dos anos 1940, segundo registros do Museu Maçônico Paranaense. “Houve um tempo em que era padrão as lojas maçônicas manterem escolas abertas à comunidade”, conta Luiz.
Neste mesmo período, é aprovada a fusão da Fraternidade Paranaense à loja Dario Vellozo nº 1213, que passou a dar nome ao local e adquiriu o direito de propriedade sobre o templo da Praça Zacarias.
O templo do Museu Paranaense exibia a estátua em 1919. Foto: Reprodução
O templo do Museu Paranaense exibia a estátua em 1919. Foto: Reprodução

Novo edifício

No início dos anos 1960, o antigo templo foi então demolido para que desse lugar a “um dos maiores e mais arrojados empreendimentos”, como noticiou o jornal “O Estado do Paraná” datado de 26 de janeiro de 1961.
Cerca de seis meses depois, foi lançada a pedra fundamental do Edifício Acácia, cujo projeto previa a construção de dois blocos distintos contendo lojas térreas, salas comerciais e apartamentos residenciais.
Em fevereiro de 1966 foram entregues os três primeiros pavimentos do prédio, onde voltaram a funcionar as instalações da Dario Vellozo. Atualmente, a Loja é proprietária de três pavimentos no primeiro bloco do empreendimento (onde funcionam 16 lojas maçônicas e três templos) e de um andar na torre residencial.
A águia bicéfala, por sua vez, segue como uma espécie de guardiã de suas instalações e da própria Praça Zacarias, além de um elemento de curiosidade para quem circula pela região. Há registros, por exemplo, de lendas urbanas que foram criadas, como a de que ela voaria à noite para assustar as crianças ou para vigiar a cidade, como conta Jefferson Luiz.
Ele acrescenta que, longe disso, a águia é um símbolo muito antigo, que remonta ao Império Romano, e que tem como outro de seus significados o fato de termos que “olhar para o passado e para o futuro para viver o presente”.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

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