Estilo & Cultura

A arquitetura e o simbolismo da Casa Estrela

Eloá Cruz
02/03/2016 01:00
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Construção data da década de 1930 e impressiona pelos desenhos e pela distribuição dos volumes ao redor do pentágono. Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo.

Com apenas um lampião a carbureto, um serrote e um pé de cabra, o contador Augusto Gonçalves de Castro imaginou, desenhou e construiu por noites a fio uma casa cheia de significado. Uma construção aparentemente simples, de madeira, mas feita a partir de um pentágono regular. Muito provavelmente, se Augusto fosse um engenheiro ou arquiteto, não teria se aventurado a tal façanha no início da década de 1930. O motivo? A figura de cinco pontas é uma das mais complexas da geometria.
A magia da casa da estrela não fica somente em seu formato pentagonal. De acordo com o arquiteto e professor de arquitetura da UFPR, Key Imaguire Jr., a casa usa técnicas construtivas tradicionais da época. “A novidade está na forma como ele as utilizou”, esclarece.
Augusto de Castro era adepto da teosofia, uma corrente de pensamento que une ciência, filosofia e religião, além de ser fluente em esperanto, língua internacional criada para reunir cidadãos do mundo em busca de fraternidade e paz. Ambos serviram de base para a construção da exótica casa de madeira.
Entre as curiosidades está a de que a casa foi construída apontada para o norte, por isso não está exatamente ortogonal em relação à via. Outra é a distribuição dos volumes ao redor do pentágono. As portas estão marcadas por desenhos que lembram a Estrela de Davi, mas sem uma ponta, sendo então cinco vértices.
O eixo que liga o primeiro pavimento com o mezanino tem uma simbologia importante. “Essa ligação vertical coloca toda a família em torno de um eixo central comum, que é a representação da língua universal. Ele consegue desenhar a casa em função de um conceito que pauta uma proposta nova para a humanidade: o esperanto”, esclarece o professor da PUCPR e responsável pela restauração do projeto, Claudio Maiolino.
Durante as décadas de 1930 e 1940, a construção esteve localizada na Rua Manoel Félix, número 56, no Alto da Glória. Nos anos 1950, ela mudou de endereço sem sair do lugar. Explica-se: em 1952, um Congresso de Esperanto em Curitiba deu grande importância à Casa Estrela e, após o evento, no dia 3 de janeiro de 1953, a Rua Manoel Félix mudou para Rua Doutor Zamenhof, nome do linguista e médico fundador do esperanto.
Foto: Arnaldo Alves / Arquivo GP.
Foto: Arnaldo Alves / Arquivo GP.
Restauro
Por muitos anos, Augusto de Castro fez com que a casa respirasse música e conhecimento. Ela era uma verdadeira escola de arte. No porão, ele lecionava inglês, matemática, esperanto, grego, alemão, latim, francês e desenho no período noturno. Um de seus três filhos, Moysés Azulay de Castro, também ensinou violino a inúmeros alunos, principalmente estudantes da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, entre as saletas da Casa Estrela.
Com o tempo, a família foi crescendo e os filhos e netos de Augusto deixando a casa aos poucos. Mesmo desabitada, Moysés passava todas as manhãs na residência para regar o jardim e abrir as janelas, no intuito de mantê-la livre da ação do tempo.
Foi então no início dos anos 2000 que a arquiteta do Ippuc, Milna Maria Oliveira Leone, durante um passeio pelo Alto da Glória, percebeu a importância de resgatar a Casa Estrela. O arquiteto e pesquisador Key Imaguire Jr. coordenou o primeiro levantamento arquitetônico da construção. A primeira ideia era levar a casa para o Centro Politécnico da UFPR. Mas foi em 2009 que a PUCPR, com o auxílio do professor Claudio Maiolino, levou a casa para o bosque Marcelino Champagnat, na sede do Prado Velho da instituição.
Na foto da reinauguração da casa, em 2013, Key Imaguire Jr., Ivens Fontoura e Claudio Maiolino. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo.
Na foto da reinauguração da casa, em 2013, Key Imaguire Jr., Ivens Fontoura e Claudio Maiolino. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo.
O espaço é aberto para estudantes, docentes e público em geral e segue sobre os cuidados do professor do curso de design da PUCPR, Ivens Fontoura. “É uma casa aberta ao tempo porque nós temos também um compromisso com a família de fazer com que a construção se perpetue”, explica o professor.

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