Estilo & Cultura

Italiana reverenciada por marcas de luxo defende personalização para o futuro do design

Mariana Domakoski*
28/10/2017 12:00
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Foto: Reprodução | Gazeta do Povo

O trabalho da designer e artista italiana Anna Gili transborda sua origem. A natureza da região de Úmbria, no interior da Itália, com suas paisagens montanhosas, medievais e campestres, são sua maior fonte de inspiração.
Emerge com força em mesas, cadeiras, luminárias, joias e vários outros objetos frutos das suas mãos. A isso se mescla a influência que nela teve a cultura de design de Milão. Com estilo híbrido, passeia tranquilamente pelo design de interiores, arte, moda e arquitetura.
Cria objetos de maneira holística, com atenção a tudo: desde sua forma até o local onde será inserido, considerando a história de quem vai usá-lo. Segundo ela, essa história interfere diretamente na maneira como a pessoa vai utilizar tais objetos. Já criou para marcas como Swarowski, Swatch e Alessi, além de ter se envolvido em exposições ao redor do mundo.
Conversamos com Anna quando a designer veio a Curitiba para celebrar o Dia do Design Italiano, no primeiro semestre deste ano. A capital paranaense foi escolhida como uma das cidades sede do evento, que aconteceu simultaneamente em 100 municípios brasileiros.
Foto: Reprodução
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O que fez a Itália virar uma referência de design, de moda, produto e interiores? O que aconteceu? É um contexto?
Para a Itália, o design deriva da arte. É um pensamento, um sentimento, uma emoção. Já é intrínseco. Desde os ateliês da Renascença.
Por que estão tão à frente?
Porque desde a Renascença existe uma tradição, todo um trabalho em cima disso. Há uma forte identidade no design. É o modo de respirar o design. É muito trabalho, além da tradição. E o resultado é esse.
Foto: Reprodução
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Você fala que design é uma palavra genérica e que prefere o termo em italiano, “disegno industriale”. Pode explicar melhor?
O desenho industrial nasce com Leonardo Da Vinci, como uma palavra muito ampla. Hoje, design é uma palavra difusa. Você respira design no dia a dia. Da coisa mais simples do dia a dia até a mais complicada. Desde a colher até a cidade. Não é uma coisa técnica especializada. O design corresponde a um pensamento projetual, de conceito.
Você tem trabalhos em design de moda, de luz, de produto. Como é criar para tudo isso?
Sou de uma geração que vê o design como um pensamento projetual. Assim sendo, você pode projetar para uma coisa pequena ou grande. Não é algo direcionado, específico. É o pensamento como um todo. É um pensamento holístico projetual. As coisas têm relação entre si. Por exemplo, para algo simples como
uma mesa: você tem que pensar desde qual pessoa vai utilizar até com o que vai utilizar, como, quando, para qual objetivo. É um metaprojeto. Então, não é tão simples. Há um pensamento filosófico por trás do uso, que é a tradição. Tudo o que a pessoa passou na vida dela vai refletir na forma como ela usa algo, como e quando ela usa.
Foto: Reprodução
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Você fala que design é arte aplicada à indústria. Como a indústria ganha com isso?
Primeiro de tudo, tem que ser uma indústria que tenha por princípio transformar a sociedade. É a chamada indústria iluminada. Se o único objetivo da empresa é o lucro, então ela usa um desenho técnico.
Ela não precisa do design. Porque o design é uma filosofia, um pensamento que modifica a humanidade. Como você vê essa modificação através do design?
Depende da cultura. Se você não semeia o terreno, não há como. A velocidade de aceitação depende da cultura e da velocidade com que a mídia e o marketing conseguem difundir. Hoje é uma relação técnica,
funcional, com foco no que funciona, no que a sociedade precisa. Não está relacionado com o belo, e sim com o prático, com o que rende. É essa visão que precisa ser transformada.
De onde vem sua inspiração?
Penso que, acima de tudo, de onde eu nasci, da minha terra. Eu nasci no campo e a primeira inspiração, a criatividade, veio com a natureza, com os animais. Eu olhava as coisas, as cores, e perguntava por que, de onde, como. Me interessava. Curiosidade é uma característica do designer. A curiosidade, a observação. Com isso, você pode trabalhar. O designer precisa ter isso.
Foto: Reprodução
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Você disse que os objetos são tudo menos neutros e impessoais. Como você os vê?
Falo da identidade de um projeto. Há objetos que passam despercebidos. Como tesouras sem personalidade, que todo mundo usa e não nota. Quando você personaliza o objeto, quando ele faz parte da sua vida, você passa a percebê-lo.
E quem personaliza o objeto? O designer ou a pessoa que usa?
O designer, por esse pensamento de projeto. Mas o usuário vai incorporar aquilo. A pessoa que usa cria um amor pelo objeto. Aquilo é uma arte. É uma questão de percepção. Você quer comprar aquilo porque
vai embelezar sua cozinha. Você cria uma relação com aquele objeto.
Qualquer objeto tem esse poder?
Sim, se tiver design, sim.
Foto: Reprodução
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Como você vê a democratização do design?
Depende de quem usa essa palavra para o design. Eu penso que a democratização depende de como se usa, como se fala. Penso que seja justo usar a palavra “difusão”. Há quem use a palavra “democratização”
para venda. E isso a despeito da qualidade do objeto. E o fazem copiando a ideia de designers importantes. São mais as empresas que usam isso como meio de venda. Mas o significado da palavra precisa de muita atenção. É preciso tomar cuidado porque design é comunicação, você vai difundir ideias e pensamentos. Por isso, é necessário usar palavras corretas, para não haver distorção. Não criar slogan. Não é que a palavra não precise ser usada, mas é preciso entender de onde ela vem, qual o contexto.
Você usa muitos elementos animais, naturais. Isso tem a ver com sua origem?
Cada um de nós tem uma história para contar. Cada designer é diferente do outro. Também tem um aspecto técnico: cada um de nós tem um pensamento projetual que deriva da sua criatividade. É interessante que essa história venha aplicada também no trabalho e se transforme em uma linguagem criativa.
*Especial para Gazeta do Povo

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