Estilo & Cultura

Antiga cidade chinesa passa por renascimento turístico e cultural

Amy Qin / NYT
07/01/2017 20:48
Thumbnail
Em uma tarde chuvosa, Liu Hongfei se jogou em um carrinho de bebê vazio em Wuzhen, cidade pitoresca no leste da China. As pessoas passavam rapidamente pela figura enlouquecida e fantasmagórica, mas quando Liu, que é ator, começou seu monólogo sobre morte, guerra e mulheres, uma multidão de curiosos começou a se formar.
Momentos do teatro do absurdo são raros nas ruas da China, onde performances públicas são fortemente regulamentadas; por isso, o monólogo de Liu foi um momento gostoso de autenticidade em Wuzhen, uma antiga cidade conhecida por seus encantadores canais e arquitetura tradicional.
Liu é membro do Grupo de Teatro Gato Preto, que veio de Pequim para o quarto Festival de Teatro Anual de Wuzhen, realizado em outubro. O grupo de jovens artistas é especializado em teatro de vanguarda. Quando Stan Lai, dramaturgo americano-taiwanês e um dos fundadores do festival, visitou Wuzhen pela primeira vez, disse que se parecia com “um belo palco”, mas acrescentou: “Faltava espírito. Não havia alma”.
Alguns críticos dizem que Wuzhen dá uma sensação de esterilidade. No entanto, ela se tornou um exemplo bem sucedido do desenvolvimento do turismo na China. Quase sete milhões de turistas por ano a visitam, o que é um enorme benefício econômico para a cidade de cerca de 50 mil habitantes.
“Nós somos como o motor de um avião, gerando oportunidades comerciais que ajudam a levantar a cidade inteira”, disse Chen Xianghong, presidente do grupo Cultura Wuzhen, que patrocina o festival de teatro.
Agora, com um número cada vez maior de turistas chineses mais esclarecidos, o desenvolvimento do turismo começa a tomar um rumo diferente. E Wuzhen, cuja fama é ser o local de nascimento de Mao Dun, escritor do século 20, pretende estar na vanguarda dessa mudança.
“As pessoas já não querem apenas tirar fotos e ir embora; querem passar mais tempo nos lugares e se envolver na experiência”, disse Chen, que também é presidente da Wuzhen Tourism Co., uma parceria público-privada que supervisiona o desenvolvimento da cidade. E acrescentou: “Em Wuzhen, temos a beleza exterior. Agora tentamos preenchê-la com cultura”.
Banners promoting the annual theater festival in Wuzhen, China, Oct. 20, 2016. Wuzhen has muscled its way onto the international cultural map by hosting the Wuzhen Theater Festival, an annual event that draws tens of thousands of people to a town that sees nearly 7 million tourists a year. (Gilles Sabrie/The New York Times)
Banners promoting the annual theater festival in Wuzhen, China, Oct. 20, 2016. Wuzhen has muscled its way onto the international cultural map by hosting the Wuzhen Theater Festival, an annual event that draws tens of thousands of people to a town that sees nearly 7 million tourists a year. (Gilles Sabrie/The New York Times)
No primeiro semestre de 2016, a cidade também inaugurou a Exposição Internacional de Arte Contemporânea de Wuzhen, que contou com um comitê consultivo internacional de grandes personalidades e apresentou trabalhos de 40 artistas de destaque, incluindo Damien Hirst, Ai Weiwei e Zhang Dali. Há também o Museu de Arte Mu Xin, que abriu no ano passado, dedicado à obra de Mu Xin, artista nativo de Wuzhen que foi preso durante a Revolução Cultural e, mais tarde, inocentado.
Actors during a performance in a renovated building in Wuzhen, China, Oct. 20, 2016. The performers were there for an annual theater festival that has helped Wuzhen muscle its way onto the international cultural map by drawing tens of thousands of visitors to a town that gets nearly 7 million tourists a year. (Gilles Sabrie/The New York Times)
Actors during a performance in a renovated building in Wuzhen, China, Oct. 20, 2016. The performers were there for an annual theater festival that has helped Wuzhen muscle its way onto the international cultural map by drawing tens of thousands of visitors to a town that gets nearly 7 million tourists a year. (Gilles Sabrie/The New York Times)
Fora os reinos culturais e do turismo, a cidade é talvez mais conhecida pela Conferência Mundial da Internet de Wuzhen, um encontro de autoridades do governo e executivos das principais empresas de tecnologia chinesas e ocidentais.
Em julho, a Wuzhen Tourism Co. chegou a um acordo com a empresa de internet Baidu para desenvolver serviços de carros autônomos, fazendo da cidade um dos primeiros lugares na China a testar a tecnologia.
“Wuzhen tem um tipo de energia nutritiva. Em termos de conteúdo e orçamento, tivemos liberdade total. Isso é muito raro na China”, disse Meng Jinghui, diretor artístico do festival de teatro deste ano.
Segundo Meng, ajuda muito o fato de os visitantes de Wuzhen ficarem limitados a uma das duas zonas turísticas designadas, criando um tipo de público cativo. Ambas são controladas pela Wuzhen Tourism Co., que cobre cerca de US$ 15 pela entrada.
Lá dentro, uma utopia urbana prospera: em seus edifícios tradicionais rústicos, há lojas cuidadosamente curadas pela empresa de turismo para garantir uma oferta diversificada de iguarias locais.
Mais de 200 trabalhadores mantém as ruas limpas. Não há lixo nas calçadas, nem roupa pendurada do lado de fora para secar. Apenas cenários prontos – canais verdes, telhados inclinados, pontes de pedra – em cada esquina.
Há duas décadas, Wuzhen era uma das muitas cidadezinhas em todo o país que estavam se esvaziando com a urbanização. Depois que um grande incêndio devastou grande parte da cidade, Chen, que nasceu lá, viu uma oportunidade para reconstruí-la como destino turístico.
Não havia muito com que trabalhar; não havia montanhas ou grandes rios dignos de cartões postais, mas havia canais, construídos como parte do antigo sistema Grande Canal, e a tradicional arquitetura, que estava meio caída. Começando pela parte leste da cidade e mais tarde seguindo para o lado ocidental, os trabalhadores restauraram os velhos edifícios e, em alguns casos, houve reconstrução total.
Os moradores foram forçados a se mudar. Fábricas foram fechadas. Fios de eletricidade foram enterrados no subsolo. Os canais foram limpos. Estacionamentos, centros de visitantes e hotéis foram construídos.
Foi um processo contencioso que teve altos custos humanos. Liu Huigen, por exemplo, foi forçado a se mudar duas vezes para dar lugar ao desenvolvimento. “Claro, algumas pessoas foram contra, mas finalmente concordaram. No final, estamos todos tentando ser bons cidadãos”, disse Liu, de 67 anos, barbeiro como o pai.
LEIA MAIS

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!