Estilo & Cultura

Tour de bike lança novo olhar para Curitiba a partir da arte de rua

Sharon Abdalla
19/07/2018 18:25
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O vai e vem diário e a preocupação em dar conta dos compromissos da agenda faz com que, muitas vezes, não prestemos atenção aos detalhes e intervenções que ajudam a construir Curitiba e a relação que temos com ela.
Despertar este olhar mais atento e incentivar uma nova relação com a cidade é justamente a que se propõe o Arte Bike Tour. Como o próprio nome diz, trata-se de um tour de bike que convida os participantes a apreciarem a arte de rua que contribui para formar a paisagem urbana da capital.
Fotos: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Fotos: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
O passeio é oferecido pela KuritBike Cicloturismo Urbano, que atua há oito anos na capital, e nasceu da admiração pessoal do fundador e diretor da empresa, Gustavo Carvalho, pelo grafite.”Comecei a observar e vi que havia material para oferecermos o tour. Então, fomos mergulhando no tema, nos aproximando dos artistas e ele nasceu”, conta.
Este, no entanto, não é o primeiro e nem o único passeio na cartela de roteiros da empresa, que também oferece tours de cafés especiais, fotográficos, por bares, na Serra da Graciosa e que visitam os parques da cidade. Todos tendo a bike como meio de transporte.
“Eu me mudei para Curitiba em 2007 e até 2010, quando abri a empresa, fiquei sem bicicleta. Quando voltei a pedalar (ela já era meu principal meio de transporte em São Francisco do Sul, Santa Catarina), me deparei com uma cidade completamente diferente da que tinha conhecido até então. Minha vontade foi a de compartilhar com as pessoas (turistas ou curitibanos) essa nova cidade através da bike”, detalha. “No ônibus ou nos carros, as pessoas costumam estar focadas no destino. E essa é a diferença da bike, pois ela te coloca para experimentar o caminho, o que faz dela o meio de transporte ideal para para um tour“, completa.

Pedalando

E desta forma, pedalando, é que Gustavo e a equipe da KuritBike contribuem para a ocupação do espaço urbano e para que as pessoas conheçam e vivenciem a cidade de uma forma muitas vezes inédita. E foi justamente isso o que a reportagem de HAUS fez no último sábado (14).
Acompanhado por Gustavo, que guiou o tour, e por outros dois “ciclistas”, saímos da sede da empresa, no Bom Retiro, por volta das 10h30 para contemplar a cidade através de seus painéis, murais e grafites. Antes, no entanto, recebemos orientações referentes aos comandos e ações para garantir a segurança do trajeto, ajustamos as bikes e vestimos os equipamentos de segurança, todos eles inclusos no pacote do tour.
O trajeto se concentrou na região central, passando por pontos conhecidos como o Museu Oscar Niemeyer, o Passeio Público e as praças Santos Andrade e Generoso Marques. Dentro dele, visitamos sete obras instaladas em muros de colégios públicos, paredes cegas de edifícios e painéis instalados pela administração estadual para manter viva a história e a cultura paranaense.
O primeiro ponto de parada foi o CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) Centro Cívico, no qual diversos artistas da cena local, como Marciel Conrado, Bruno Romã e Thiago Syen, expressam seu estilo ao dar vida ao muro que margeia a ciclovia.
Como aconteceu em todos os outros pontos de parada, Gustavo conceituou as obras, repassou informações sobre os artistas e apontou as diferentes técnicas utilizadas por eles para dar vida aos personagens que retratam.

Ícones da arte urbana

O painel “Rio Iguaçu”, assinado por Rogério Dias e executado por Lycio Esmanhoto, foi outra atração do passeio. Com 50 m de comprimento e instalado na praça de mesmo nome, no Centro Cívico, ele retrata o Rio Iguaçu desde a nascente até o ponto em que desemboca no Rio Paraná por meio da sua fauna, flora e populações que margeiam suas águas.
Outros ícones curitibanos contemplados no roteiro foram os murais Ray Charles (desenhado no Edifício Muralha em homenagem ao cantor americano) e o do ator Jack Nicholson interpretando o personagem Jack Torance, de “O Iluminado”, juntamente com a célebre frase do longa “Só trabalho sem diversão faz do Jack um bobão” (instalado na Rua XV de Novembro, próximo ao Teatro Guaíra).
Ambos integraram o projeto Motion Layers, realizado em 2013 via Lei Municipal de Incentivo à Cultura, e são assinados por Leandro Lesak, o Cínico, e Eduardo Melo, o Artstenciva, respectivamente.
“Os murais foram feitos a partir da técnica do stencil. Pela sua escala, ao invés [das chapas], os moldes eram feitos a partir da projeção de luz nas paredes. Então, à noite os artistas faziam os contornos, que eram preenchidos com cor durante do dia”, explicou Gustavo durante o tour.
Depois de uma parada para o lanche, que não estava previamente programada mas foi providencial no início de tarde, o passeio seguiu pela Rua XV de Novembro e passou pela Praça Generoso Marques, até retornar para a ciclovia do Centro Cívico, caminho para a sede da KuritBike. “O legal dos tours é isso. Há uma programação, mas ela é flexível de acordo com as condições do trânsito, a disposição e o rendimento dos participantes na pedalada”, explicou Gustavo enquanto lanchávamos e contemplávamos a tarde no gramado da Praça Santos Andrade.
Depois de pouco mais de três horas de pedaladas, retornamos à sede da empresa onde o tour foi encerrado. Apesar do tempo e da quantidade de quilômetros percorridos (cerca de 10 km), o passeio é feito em um ritmo que permite a qualquer pessoa (ciclista ou não) ter condições de acompanhá-lo.
“Minha relação com a bicicleta é zero. Sou completamente sedentária, mas foi bem tranquilo. Esta foi minha primeira visita a Curitiba e o tour minha primeira experiência na cidade. Eu gosto de arte urbana, mas não esperava que tivesse toda esta explicação, pensei que fosse algo somente voltado à contemplação. A partir de agora vou ver o grafite com outro olhar”, avaliou a arquiteta Jéssica Lopes, que nos acompanhou no tour e esteve na cidade para visitar o amigo Luís Fernando Gomes de Santana.
“Estou na cidade há um ano e um mês, mas não havia andado muito por esta região. O passeio me deixou com vontade de saber mais sobre as ciclovias, os outros acessos, enfim, de conhecer mais a cidade pedalando“, contou ele, que é analista de sistemas.
Serviço 
O Arte Bike Tour, assim como os demais roteiros ofertados pela KuritBike, são realizados por meio de agendamento com grupos de, no mínimo, duas pessoas (e máximo de 12 ciclistas). A idade mínima para pedalar é de dez anos, mas crianças menores podem acompanhar os pais ou responsáveis nos equipamentos acoplados às bicicletas que são específicos para este fim. O custo do tour é de R$ 85 por pessoa e inclui a bike (modelo urbano), capacete, seguro, acompanhamento do condutor, assistência mecânica durante o passeio e água.
Confira como foi o passeio. 

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