Bolo de Santo Antônio

Estilo & Cultura

Casa da maior festa de Santo Antônio do PR, igreja guarda um pedaço da história de Curitiba

Aléxia Saraiva*
13/06/2019 09:00
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Igreja Bom Jesus dos Perdões, no Centro de Curitiba, abriga uma das maiores festas de Santo Antônio do Paraná, com venda do tradicional bolo do santo católico. | Joka Madruga/Pascom Paróquia Bom Jesus dos Perdões

A Praça Rui Barbosa há anos mantém uma tradição com o dia 13 de junho. As filas que saem da Paróquia Bom Jesus dos Perdões e dobram a quadra durante todo o Dia de Santo Antônio não deixam dúvida de que, ali, a festa é grande — na realidade, a maior do Paraná. Todos os anos, são milhares de pessoas que visitam a igreja para comprar o tradicional bolo de Santo Antônio, seja por devoção, seja pela lenda de que casa logo quem acha o santinho escondido na fatia.
A venda do tradicional bolo do santo católico começa a partir desta quinta-feira (10), das 6h30 às 20h, até domingo (13). Cada pedaço custará R$ 7, com três opções de embalagens: para uma fatia, duas fatias e cinco fatias. A pedido da Prefeitura de Curitiba, a entrega do bolo será feita na forma de take away, ou seja, as pessoas pegam e levam sem consumir no local. A partir de sábado (12) também terá o atendimento de drive thru, em que as pessoas podem comprar sem sair do carro.
Interior da Igreja Bom Jesus dos Perdões, no Centro de Curitiba, que abriga uma das maiores festas de Santo Antônio do Paraná.
Interior da Igreja Bom Jesus dos Perdões, no Centro de Curitiba, que abriga uma das maiores festas de Santo Antônio do Paraná.
Mas, além de cruzar com a história de pessoas que devem ao santo bênçãos e milagres, a paróquia de ordem franciscana tem sua própria história costurada à de Curitiba. Suas origens remetem à chegada dos franciscanos na cidade no fim do século 19, documentadas pelos próprios freis. Em um século, a igreja passou de uma capela de 108 m² para um dos prédios de estilo neogótico mais significativos da capital.

Largo da Misericórdia

O local que hoje abriga a igreja era, em 1901, apenas uma capela e um pequeno convento, habitado pelos frades que ali chegaram dois anos antes. A atual igreja, de capacidade para 450 pessoas e com uma torre de 42 metros de altura, foi erguida entre maio e setembro de 1908 e inaugurada em julho no ano seguinte. Quem assinou o projeto foi o frei Feliciano Schlag, arquiteto responsável pela construção de diversas igrejas da província no início do século 20.
Igreja Bom Jesus dos Perdões é um dos melhores exemplares do neogótico em Curitiba.
Igreja Bom Jesus dos Perdões é um dos melhores exemplares do neogótico em Curitiba.
Quem explica a teoria corrente de o porquê do nome Bom Jesus dos Perdões é o pároco, frei Alexandre Magno Cordeiro da Silva. “O nome antigo da Praça Rui Barbosa é Largo da Misericórdia. Por isso, a nossa tese é de que a igreja construída é Bom Jesus dos Perdões: misericórdia, perdão. Bom Jesus tem vários, mas dos Perdões não é tão fácil achar”, brinca.

Identidade curitibana

Novos elementos foram sendo incorporados à arquitetura da paróquia com o passar do tempo, sendo alguns deles icônicos da própria história de Curitiba: os três sinos, dedicados a Senhor Bom Jesus, São Francisco e Santo Antônio, foram fabricados na Fundição Irmãos Müeller; a pintura original, de 1917, teve parceria de Paulo Hauer, da família que ajudou a colonizar a capital; a via sacra em relevo de gesso veio da antiga fábrica de Gerd Claassen e Kaminski, responsável por imagens em igrejas de toda a cidade.
Fila para comprar o bolo de Santo Antônio antes da pandemia.
Fila para comprar o bolo de Santo Antônio antes da pandemia.
Internamente, a sensação é a de adentrar a um quadro. Pinturas originais vão do chão ao teto e retratam momentos da vida dos santos padroeiros. Vitrais coloridos adornam as janelas, assim como as diversas esculturas que se espalham pela nave, capela-mor, capelas laterais baixas e coros — todos elementos clássicos da arquitetura neogótica. Completa a riqueza o órgão Speith de 95 anos, um dos últimos da marca em funcionamento no Brasil.

Do potreiro à grande festa

Com 99 anos, frei Cássio Vieira de Lima é um dos freis que mora no convento anexo à igreja. Essa é a terceira vez que mora ali. A primeira foi em 1935, quando ainda era estudante de filosofia. Na época, conta, o local tinha o apelido de “potreiro dos padres”. “A gente só andava a cavalo, e no terreno onde hoje fica o Colégio Bom Jesus só tinha uma horta, uma estrebaria e três fileiras de ciprestes”, lembra.
Praça Rui Barbosa em abril de 1955. À esquerda, o prédio do antigo Quartel; à direita, a Santa Casa de Misericórdia e vista parcial da Paróquia do Senhor Bom Jesus dos Perdões.
Praça Rui Barbosa em abril de 1955. À esquerda, o prédio do antigo Quartel; à direita, a Santa Casa de Misericórdia e vista parcial da Paróquia do Senhor Bom Jesus dos Perdões.
De lá pra cá, o espaço dedicado à igreja ganhou salão paroquial, aumentou o convento, restaurou a paróquia e, recentemente, construiu uma cozinha anexa para a produção monumental do bolo de Santo Antônio. E, por mais que a igreja seja associada à grande festa, é por ser franciscana que acontece a devoção ao santo casamenteiro.
Conta a história que Antônio criou o chamado pão dos pobres, tradição de doar pão a quem precisa e que aproxima as pessoas do santo. “Essa é uma devoção franciscana. Se você vai a Washington, Roma ou São Paulo, onde tem franciscanos, tem pão dos pobres”, destaca o pároco. Seja pelo pão, bolo, bênção ou casamento, fato é que, nessa semana, é impossível passar despercebido por essa devoção.
Em 2018, festa de Santo Antônio contou com 16 toneladas de bolo e 20 mil santinhos.
Em 2018, festa de Santo Antônio contou com 16 toneladas de bolo e 20 mil santinhos.
*Matéria publicada originalmente em 11/06/2018.

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