Estilo & Cultura

Cidade Criativa da Unesco desde 2014, Curitiba não cria ações para honrar com o título

Carolina Werneck*
08/06/2017 21:43
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Curitiba tem longo histórico na produção de design. Na foto, murais dos artistas curitibanos Potty Lazzarotto e Rimon Guimarães e bancos do designer Gustavo Engelhardt. Fotos: Henry Milleo/Arquivo Gazeta do Povo; Mel Gabardo/Arquivo Gazeta do Povo e Hugo Harada/Gazeta do Povo

Curitiba é membro da Rede de Cidades Criativas coordenada pela Unesco desde 2014, mas as ações de integração com as outras cidades do grupo ainda são precárias. De acordo com a organização de design local ProDesign>pr, a mudança na gestão municipal atrasou o desenvolvimento de atividades voltadas à rede.
A ideia de que Curitiba fosse membro da rede coordenada pela Unesco partiu de entidades de design da cidade, como o Centro Brasil Design e a própria ProDesign>pr. À época, a Prefeitura Municipal abraçou a ideia e oficializou a candidatura por meio do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). A rede de Cidades Criativas se divide em sete categorias: artesanato e arte popular, design, filmes, gastronomia, literatura, música e artes midiáticas.
De acordo com o site da Unesco, como uma Cidade Criativa de Design, Curitiba deveria “cooperar e trocar experiências com outros membros da rede a fim de encontrar soluções criativas e inovadoras para os muitos desafios encarados pelas cidades”. Também precisaria “receber eventos da rede envolvendo todos os membros e fortalecer os programas ‘Viva mais Curitiba’ e ‘Curitiba Criativa’“. Por fim, a cidade teria de “aumentar a comunicação e a conscientização sobre as ações da rede, bem como sobre a participação de Curitiba na rede”.
Mas, na prática, a capital paranaense ainda não está integrada às outras cidades que participam desse movimento. Segundo o Ippuc, os dois programas mencionados no site da Unesco eram projetos do governo anterior e, portanto, provavelmente tenham sido descontinuados. O Ippuc também afirma que “as ações dentro dos convênios já existentes continuam sendo realizadas. A cidade mantém esse compromisso e não vai abrir mão do design”.
As várias faces de Curitiba
As várias faces de Curitiba
Para o presidente da ProDesign>pr, Aulio Zambenedetti, a lentidão no engajamento da cidade está mais acentuada desde que o governo do prefeito Rafael Greca (PMN) assumiu a administração municipal, em janeiro. “A gente fez uma série de ações por meio do Ippuc na gestão anterior. Eu entendo que as coisas ainda estão se ajeitando [na Prefeitura], mas desta vez está um pouco mais enrolado.”
Na avaliação de Zambenedetti, o problema pode estar no o fato de que, desde que a gestão foi trocada, o Ippuc ainda não indicou um nome para assumir as questões que envolvem a rede. “Eu continuo achando que o Ippuc é o órgão correto para lidar com essas questões, só falta saber quem lá dentro vai abraçar a causa. Tem que definir quem vai responder por isso.”
Silvana Vicelli Gioppo, da Assessoria de Relações Externas (Arex) do Ippuc, explica que, como a mudança na gestão municipal “ainda está completando seis meses”, o instituto segue “fazendo um realinhamento das várias cooperações existentes que seja condizente com os planos da nova gestão”.
Na próxima semana, representantes das cidades de Detroit, nos Estados Unidos, e Saint Etienne, na França, virão a Curitiba para tentar estabelecer um primeiro contato. Elas têm reunião agendada na segunda-feira (12) com o presidente do Ippuc, Reginaldo Reinert. A visita foi uma iniciativa das duas cidades estrangeiras e está sendo bancada por elas.
Foto: Gazeta do Povo/Arquivo
Foto: Gazeta do Povo/Arquivo

O que são cidades criativas?

Os conceitos são os mais variados. E, desde que o termo virou moda, perdeu profundidade. Mas uma cidade que diz ser criativa deve ter três características principais.
Inovações: a cidade deve produzir inovação. Mas não só científica, porque a inovação deve ir muito além do aspecto econômico. É preciso que o local se reinvente constantemente, tornando propício o desenvolvimento da economia criativa, criando novas saídas para problemas sociais e fazendo da cidade cada vez mais sensorial.
Conexões: não podem haver “arquipélagos”. A cidade não se resume somente às áreas onde você trabalha e mora. É necessária uma conexão entre as diferentes regiões. Para isso, deve haver atrativos capazes de levar as pessoas a se render também a outras áreas, como eventos, feiras e encontros culturais, universidades, entre outros. A ocupação dos espaços públicos deve ser incentivada e a locomoção das pessoas deve ser facilitada.
Cultura: não entendida apenas como arte, mas também como identidade e alma da cidade. São a gastronomia, as particularidades idiomáticas, o patrimônio, a miscigenação da população e os festivais locais, por exemplo. Ninguém quer morar em um lugar estéril e letárgico. Assim, a cidade criativa é aquela que ferve de manifestações culturais.

*especial para a Gazeta do Povo

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