Estilo & Cultura

Cúpulas marcam prédios de estilo eclético em Curitiba

Luan Galani
07/10/2015 01:00
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Casarão residencial atrás do Shopping Crystal, na Comendador Araújo: cúpula oval enervurada, com fechamento metálico de escamas e rosa dos ventos na ponta. Toda a arquitetura da casa é em estilo eclético. A evidência está na harmonia entre os arcos plenos, tipicamente romanos, e os desenhos ogivais, característicos do gótico. Fotos: Daniel Castellano/Gazeta do Povo.

Uma vez por semana Eduardo Yamane sente como se tivesse subido o Everest. São mais de 40 metros do nível da rua até o pé da santa, no alto da cúpula da igreja Imaculado Coração de Maria, no Rebouças, que precisam ser vencidos pela escada em espiral. Há 13 anos é assim. Sua tarefa é das mais nobres: rodar uma grande manivela que dá corda nos relógios e sinos da paróquia. De poucas palavras, o auxiliar de serviços gerais de 62 anos já se acostumou com a responsabilidade. Não vê mais poesia no sobe e desce. Só diz que a vista lá de cima é bonita.
Mas é mais do que isso. O arquiteto Key Imaguire Junior, uma sumidade da cidade quando se trata de história da arquitetura, garante. “A origem das cúpulas é incerta. O que se sabe é que o elemento nasceu nas construções religiosas e esteve presente na arquitetura de diversas civilizações”, explica. No DNA das coberturas ovaladas, existe um significado místico: elas nasceram com o intuito de imitar a abóboda celeste. Eduardo não sabe, mas uma vez por semana chega mais perto do céu do que todos nós.
Eduardo Yamane dá corda nos relógios e sinos da paróquia Imaculado Coração de Maria, logo abaixo da cúpula.
Eduardo Yamane dá corda nos relógios e sinos da paróquia Imaculado Coração de Maria, logo abaixo da cúpula.
Demarcação da nobreza
Com o tempo, esse significado se perdeu. As casas mais abastadas adotaram o ornamento como bandeira para se destacar das demais. E a cúpula chegou até nós como um elemento típico do estilo eclético, que mistura características de vários estilos diferentes.
A arquiteta Aline Soczek Bandil, especialista em história da arte e restauro, ressalta que as cúpulas são partes estruturais bastante complexas. “Construí-las é um desafio, pois não são nada baratas e exigem um conhecimento bastante avançado. Por isso, na maioria das vezes, encontramos as cúpulas em casarões de famílias da elite. Em Curitiba não foi diferente”, diz.
A história comprova. Uma das cúpulas mais emblemáticas da cidade – e uma das pouquíssimas que ainda sobrevive com alguma história conhecida – fica no alto do Edifício Pedro Demeterco, o prédio rosa de 13 andares na esquina da Alameda Dr. Muricy com a Rua Marechal Deodoro. É uma cúpula de cobre que se tornou esverdeada em decorrência da oxidação do material quando em contato com o ar. Reza a lenda que a cúpula foi a última parte a ser colocada em 1953. E a pedido da esposa do construtor, que não gostaria de ver o nome da família na construção se o edifício não tivesse algo de especial.
Cúpula que coroa o Paço da Liberdade com escamas metálicas e um globo de luz logo acima, com pináculo escultural, que acompanha a riqueza de ornamentos do prédio.
Cúpula que coroa o Paço da Liberdade com escamas metálicas e um globo de luz logo acima, com pináculo escultural, que acompanha a riqueza de ornamentos do prédio.
Cúpula do Edifício Pedro Demeterco: coloração verde vem da reação do cobre ao oxigênio. O ornamento foi produzido no Rio de Janeiro e tem uma cúpula menor (lanternim) para vedar a parte maior.
Cúpula do Edifício Pedro Demeterco: coloração verde vem da reação do cobre ao oxigênio. O ornamento foi produzido no Rio de Janeiro e tem uma cúpula menor (lanternim) para vedar a parte maior.
Na Ébano Pereira, cúpula marrom que imita madeira com pináculo longo e pequenas janelas apenas como ornamento.
Na Ébano Pereira, cúpula marrom que imita madeira com pináculo longo e pequenas janelas apenas como ornamento.
Releitura contemporânea das cúpulas clássicas no Shopping Estação: uma cúpula espelhada, sobreposta por um lanternim com  relógio, que, por sua vez, é coberta por uma cúpula menor.
Releitura contemporânea das cúpulas clássicas no Shopping Estação: uma cúpula espelhada, sobreposta por um lanternim com relógio, que, por sua vez, é coberta por uma cúpula menor.
Cúpula de seis lados e fechamento cerâmico na Igreja Imaculado Coração de Maria.
Cúpula de seis lados e fechamento cerâmico na Igreja Imaculado Coração de Maria.
Detalhe da Cúpula oval em casarão na Comendador Araújo.
Detalhe da Cúpula oval em casarão na Comendador Araújo.
Cúpula cinza, localizada em casa do início da Riachuelo, com escamas metálicas, base de oito lados e detalhe que imita janela, em uma cópia clara, porém pouco funcional, dos domos europeus. A data de construção da casa não é certa, mas se aproxima das décadas de ouro da rede ferroviária, cuja estação ficava perto dali.
Cúpula cinza, localizada em casa do início da Riachuelo, com escamas metálicas, base de oito lados e detalhe que imita janela, em uma cópia clara, porém pouco funcional, dos domos europeus. A data de construção da casa não é certa, mas se aproxima das décadas de ouro da rede ferroviária, cuja estação ficava perto dali.
Cobertura plana de telhado que imita uma cúpula em casa próxima ao Cemitério Municipal de Curitiba. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo.
Cobertura plana de telhado que imita uma cúpula em casa próxima ao Cemitério Municipal de Curitiba. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo.

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