Estilo & Cultura

Comércio tradicional sobrevive em Curitiba

Daliane Nogueira
30/03/2016 01:00
Thumbnail
A história de uma cidade pode ser contada por meio de seus comércios. O varejo em Curitiba, por exemplo, segundo os historiadores José Luiz de Carvalho e Aymoré Arante no livro O Comércio no Paraná: uma História de Conquistas, tem início com a chegada dos imigrantes europeus, especialmente os alemães. Nesta época, alguns dos imóveis serviam também de moradia e é daí que vem a adoção da palavra “casa” no nome das lojas.
Com o passar dos anos, muitas dessas casas que vendiam de tudo fecharam, como a loja de tecidos Casa Hilú, que após 86 anos encerrou as atividades há dois anos. De acordo com o presidente da Federação do Comércio do Paraná (FecomércioPR), Darci Piana, as lojas que sobrevivem passaram por reformulação, mas mantêm administração familiar, atendimento personalizado e locação em imóveis antigos.
Centro histórico
A região do Paço Municipal e da Catedral ainda reúne várias lojas tradicionais. Um exemplo é a Casa Bandeirantes, fundada em 1943 pelo libanês Jorge Derviche. Ali vendia-se de enxoval a brinquedos. “Era um tempo em que o comércio não era tão segmentado. Hoje seria muito difícil manter uma loja com essa diversidade de produtos”, analisa Felipe Derviche, 38 anos, neto do fundador. Entre as histórias que marcaram a loja está o baixar de portas por causa da confusão que tomou conta da cidade em janeiro de 1959 e que ficou conhecida como a Guerra do Pente.
Com o passar das décadas a família adaptou o comércio para a venda de armarinhos. Para o comerciante, a revitalização da região da Praça Generoso Marques trouxe de volta antigos clientes. “Nós atendemos pessoas com mais de 70 anos, que nos têm como referência no segmento.”
Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Armarinhos e história é o que se encontra na Casa Bandeirantes.
Armarinhos e história é o que se encontra na Casa Bandeirantes.
Perto dali, na Rua Saldanha Marinho, produtos como fumo de corda, imagens de santos, velas e peças em gesso podem ser encontrados nas prateleiras da Casa do Fumo. O comércio foi criado em 1956 pelo descendente de alemães Fritz Meissner. A loja hoje é tocada por um antigo funcionário. João Aves Antunes, 58 anos, começou a trabalhar lá como office-boy em 1972 e, em 1983, depois de ter aberto a própria tabacaria em outro ponto da cidade, acabou comprando a loja do antigo patrão. “Esforço-me para manter a tradição, mas modernizando a administração”, diz.
Variedade foi a receita para a sobrevivência da Casa do Fumo. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Variedade foi a receita para a sobrevivência da Casa do Fumo. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Fotos: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Fotos: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Pioneiros
Na esquina da Rua Comendador Araújo com a Visconde do Rio Branco, está a Casa Glaser, de 1887, loja mais antiga em atividade no Paraná. A bisneta do fundador, o austríaco Wenceslau Glaser, Bianca Glaser, 40 anos, ajuda o pai Mário Fernando Glaser no negócio.
“Na fundação éramos um clássico secos e molhados e fazíamos entrega, como os atuais delivery”, conta. Depois de alguns anos, a família focou na venda de artigos de cristal, importados da Europa desde o início do século 20. O imóvel, construído pela família em 1914, é tombado e mantém as características originais, inclusive com uma escada de madeira restaurada. “Foi construído um prédio comercial anexo, além de transformar o que antes era a imensa loja em uma galeria. Mas a tradição nós não perdemos”, garante Bianca.
Fachada da Casa Glaser: prédio foi construído em 1914 e foi modernizado recentemente. Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo.
Fachada da Casa Glaser: prédio foi construído em 1914 e foi modernizado recentemente. Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo.
Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo.
Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo.
Parada obrigatória
Na hoje movimentada Avenida República Argentina, no bairro Portão, uma família de imigrante austríacos fez história no ramo da selaria. Criada pelo imigrante Gustavo Schier em 1938, a loja é conhecida na região pela venda de calçados e artigos em couro. Mas a tradição da selaria não se perdeu, é mantida pelas netas de Gustavo: Mariluz, 72 anos, e Ediluz, 69 anos. “Hoje nós fazemos reparos e adaptações em selas e atendemos netos e bisnetos dos primeiros clientes do meu avô”, declara Ediluz.
Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo.
Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo.
Ediluz Schier segue com a  tradição familiar da selaria no Portão. Fotos: André Rodrigues/Gazeta do Povo.
Ediluz Schier segue com a tradição familiar da selaria no Portão. Fotos: André Rodrigues/Gazeta do Povo.

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!